Como especialistas destacaram a soja, o milho, o trigo e o café em ano para todos os gostos
Em ano marcado pela invasão da Ucrânia pela Rússia, economia chinesa prejudicada pela resiliência da covid-19, inflação e desaceleração na Europa e Estados, além do consumo brasileiro lento mesmo com da inflação mais domesticada no segundo semestre, várias marcas foram deixadas nos mercados de commodities graneleiras.
Money Times convidou especialistas para destacarem os pontos que, em retrospectiva, foram importantes nos diversos setores.
Soja
O Brasil foi responsável pela queda da 21 milhões de toneladas da América do Sul, sobre a safra 20/21. Paraguai e Argentina contribuíram um pouco.
Com esse destaque da soja de Adriano Gomes, da AgRural, se confirma os ganhos em preços das exportações, apesar dos volumes menores do Brasil, segundo Vlamir Brandalizze.
Essa a referência para o ano do analista da Brandalizze Consulting, que mostra, de janeiro a novembro, US$ 57,9 bilhões em vendas do complexo soja (US$ 48,3bilhões em 2021), e US$ 45,5 bilhões só em grãos, alta de 22,6%.
Os volumes da commodity saíram de 84,8 milhões de toneladas para 78,8 de janeiro a novembro deste ano. O farelo, principalmente, e o óleo, tiveram elevações.
Milho
Produção recorde, na safrinha de meio de ano, principalmente.
Mas o analista e trader da Germinar, Roberto Carlos Rafael, prefere salientar o recorde somando as três safras, a de verão, a safrinha e a da Sealba, que compreende a produção crescente de Sergipe, Alagoas e da Bahia.
Sua estimativa pode alcançar até 118 milhões de toneladas, acima das 113 diagnosticadas pela Conab.
As exportações, que devem fechar o anos em 43,8 milhões de toneladas, também teto histórico, estão na lista do Rafael, assim como a abertura de exportações para a China, que devem começar em 2023.
Trigo
Picos dos preços pelo abortamento das exportações da Ucrânia, assim que foi invadida por tropas russas no final de fevereiro, a níveis acima de US$ 9 o bushel em Chicago, no início de março.
Mas já vinha em aceleração desde que Moscou começou a mobilizar as tropas, no meio de fevereiro.
Depois o mercado se acomodou, inclusive caindo para mínimas assim que os russos aceitaram liberar um corredor de exportação ucraniano, um dos grandes fornecedores de trigo.
Entre idas e vindas da guerra, o cereal voltou a ter buscar valorizações expressivas em setembro.
Marcelo De Baco, da De Baco Corretora, também chegou a destacar a falta que o trigo russo fez no primeiro semestre, na esteira de sanções ocidentais impostas.
No painel do trigo, a safra brasileira, 24,4% acima da temporada de 2021, alcançando pouco mais de 9,5 milhões de toneladas, entra para o livro dos recordes em um País sempre muito mais importador que produtor.
Café
O histórico grão brasileiro, durante décadas dividindo com a cana a cara do agronegócio brasileiro, teve um ano ‘muito louco’, quando se atingiram mínimas e máximas, numa escalada de insegurança com clima, principalmente.
Marcus Magalhães, da Marus Corretora, e da MM Café, diz que tudo “passou da conta”, seca, chuvas, granizo e ventanias este ano.
Em dado momento, o grão chegou a despencar para mínimas de quase 1,5 ano, perdendo num só dia (5 de outubro), 680 pontos em Nova York e caindo para US$ 217,9.
No físico, no mês mesmo, derreteu até R$ 150 a saca em menos de três dias na região Sul de Minas, para até R$ 1,075 mil a saca.
Depois, uma bela virada nas informações, quando se começou a projetar que a safra 22/23 não será tão boa assim, e volta ser comprado, reflete Magalhães, mas acentuando que as “minímas haviam passado da conta”.
Essa situação merece uma referência de Jânio Zeferino, consultor da AgroEasy. O seu destaque é justamente a falta de informações confiáveis do setor cafeeiro, que escancara a vulnerabilidade dos produtores.
Os estoques dos importadores são públicos e, no Brasil, o setor procura reter dados, “esquecendo que os satélites que passam toda hora sobre as lavouras”, metaforiza.
Outras evidências do ano do café, lembradas por Marcus Magalhães, é a questão da demanda global em risco pela debilidade econômica (Europa, principalmente), a agenda ambiental mais forte e, no Brasil, a aprovação de nova normatização do café torrado e moído quanto à rotulagem e classificação e que vigorará a partir de 2023.