Rumor de washout nos grãos; todo mundo sabe que existe mas nunca ninguém viu, como boi a termo
Na pecuária, boi vendido a termo, aquele negociado antes para entrega futura, é quase um palavrão, porque quem vende não fala e quem compra também não. Nas commodities, a recompra de contratos de exportação é um equivalente. Todo mundo sabe que existe, mas ninguém nunca viu.
Se fosse por uma dificuldade de entregar o produto para o importador, por uma razão sólida como quebra extraordinária de safra, o washout poderia ser notícia. Mesmo porque está previsto nos contratos internacionais, onde o recomprador paga ou recebe a diferença sobre o preço da venda, a depender do valor do momento.
Mas como agora, sob rumores ganhando força no mercado, lastreado em especulação de preços mais vantajosos à frente, da soja e até do milho, a coisa pega mal. Na primeira semana de agosto de 2020, Money Times abordou a mesma situação, quando o prêmio no porto para a soja estava em 190 pontos.
“Tem muita fumaça sobre isso, mas o pessoal sério diz que vai cumprir os contratos”, diz o analista Vlamir Brnadalizze, para quem essa prática, baseada em oportunismo de preço, pode tirar o vendedor do mercado.
Pessoal sério, para Flávio França Jr, da Datagro, são as tradings, entre as quais as grandonas mundiais. Mas o mercado tem uns participantes de outro naipe, sim, ainda que de baixa intensidade.
Para ele, há uma possibilidade de estar ocorrendo ou vir a ocorrer a recompra para venderem as commodities no mercado interno, “já que os preços estão muito altos”. E devem subir mais, principalmente depois da colheita da safra 20/21 e sem os estoques dos americanos, que vão entrar em safra no segundo semestre.
Marcos Araújo, da Agrinvest, lembra que “isso [especular] tem todo dia em todos os mercados”.
Com a demanda chinesa crescente, os prêmios sobre Chicago deverão ser manter fortes, e pode estimular o movimento, acredita Marlos Correa, da InSoy Commodities, outro que também só tem ouvido rumores.
Entre algumas realizações de lucros, a soja tem solidez na bolsa de commodities americana, contando com a força do atraso na colheita brasileira. Nesta segunda (8), o contrato março está US$ 13,87/bushel, em mais 1,37%, às 13h13 (Brasília).
Há notícias distribuídas por agências internacionais, na semana passada, de que compradores chineses igualmente estariam recomprando posições, em razão da redução das margens das indústrias.