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Como as startups podem reforçar caixa com eficiência durante a crise?

02 jun 2020, 13:24 - atualizado em 02 jun 2020, 13:24
“Como referência, em 2008 o tempo médio de negociação subiu de 19 para 25 meses. Podemos esperar um comportamento semelhante durante a atual crise” (Imagem: Unsplash/@austindistel)

Por Gabriela Gonçalves e Karime Hajar Alves, CEO e Diretora Associada do Brasil Venture Debt

“As coisas difíceis são difíceis porque não há respostas fáceis ou receitas. Elas são difíceis porque suas emoções estão em desacordo com sua lógica. Elas são difíceis porque você não sabe a resposta”. A frase retirada de “O Lado Difícil das Situações Difíceis”, de Ben Horowitz, não poderia ser mais adequada ao momento atual.

A situação difícil do COVID-19 se faz tanto pelas incertezas de epidemiologia, protocolos de tratamento, vacinas, políticas públicas de confinamento e isolamento social, quanto pelo comportamento da economia. Com a evolução das medidas restritivas no curto prazo, somado ao nível de confiança da população no médio e longo prazos para voltar às suas atividades, devem surgir novos padrões de comportamento e consumo.

Nesse contexto, o lado difícil é simplesmente sobreviver. O CEO da XP Investimentos, Guilherme Benchimol, em postagem recente no LinkedIn compilou uma espécie de guia básico de sobrevivência das empresas e uma das dicas era: “tenha excesso de caixa”.

De fato, podemos até viver sem lucro, mas não sem caixa. O lado difícil, no momento, é: como buscar fontes para reforçar seus caixas num ambiente incerto de crescente aversão ao risco?

Gabriela Gonçalves
Gabriela Gonçalves: “No Brasil, as opções de dívida para startups ainda são poucas e recentes no mercado” (Imagem: Divulgação)

Venture Capital: queda no capital disponível para rodadas com negociações mais longas

 Segundo levantamento da consultoria em inovação Distrito, as startups brasileiras receberam US$ 2,7 bilhões em aportes em 2019. É um crescimento de 80% na comparação com 2018, quando o total foi de US$ 1,5 bilhão. No momento atual, porém, os fundos de Venture Capital estão mais cautelosos, focando em seus portfólios atuais e buscando oportunidades mais resilientes e de menor necessidade de capital.

Durante a crise de 2008, houve uma queda de 28% no volume total de investimentos de Venture Capital nos Estados Unidos. Embora o número de negócios não tenha caído, o valor de aporte de cada um deles diminuiu. Além disso, o tempo médio entre rodadas tende a aumentar. Como referência, em 2008 o tempo médio de negociação subiu de 19 para 25 meses. Podemos esperar um comportamento semelhante durante a atual crise.

Neste cenário em que a fonte mais comum de capital para startups começa a secar, quais as alternativas de financiamento para que sobrevivam? E qual o modelo certo para a sua empresa? Para estas difíceis perguntas ainda não existem respostas prontas.

No Brasil, as opções de dívida para startups ainda são poucas e recentes no mercado, o que, em outras palavras, quer dizer que a maioria dos empreendedores ainda não possui experiência para avaliar os diferentes modelos e tem dificuldade para definir qual a melhor opção para o momento do seu negócio.

Karime Hajar Alves
Karime Alves: “A primeira fonte de financiamento deve ser interna. Renegociação de prazo de pagamento com fornecedores, refinanciamento de impostos e o que mais sua estrutura permitir” (Imagem: Divulgação)

Quais são então estas opções? E qual a mais indicada para seu negócio?

 Apesar de não existir uma receita para esta tomada de decisão, o empreendedor pode se utilizar de sua rede de contatos (fundos, advisors e outros empreendedores) para se informar e tentar trilhar o que entende ser o melhor caminho para atravessar a tempestade. Com as informações em mãos, ele pode começar a formular o que seria a resposta certa para seu momento atual.

A primeira fonte de financiamento deve ser interna. Renegociação de prazo de pagamento com fornecedores, refinanciamento de impostos e o que mais sua estrutura permitir. A empresa também deve olhar com atenção para as linhas incentivadas que o governo lançou para atenuar o impacto da crise.

São linhas baratas e com certeza valem a pena, mas, infelizmente, não são de tão fácil acesso como deveriam e tendem a envolver processos longos. Estas duas ações iniciais ainda são a parte fácil da resposta e provavelmente se encaixam na realidade de praticamente todas as startups.

Os bancos tendem a ser a próxima fonte que vem em mente. As empresas já possuem relacionamento com o seu banco comercial e a maioria delas já tem alguma dívida em andamento, em geral de curto prazo. O modelo mais comum é que o banco estenda a linha de crédito para seus clientes dentro de um limite determinado pela atividade financeira da empresa que ele controla.

Esta é a dívida que você deveria deixar na manga. O crédito já está pré-aprovado, a liberação é rápida. Pode ser a sua lifeline em uma emergência. Já para conseguir linhas de maior volume e com prazos mais longos, os bancos tendem a não ser a escolha correta. Para estes empréstimos a empresa precisa apresentar resultados históricos e oferecer garantias reais. E ambos são pré-requisitos nem sempre disponíveis em uma startup.

No mercado começam a surgir também modelos de dívida de capital de giro, de curto prazo, específicos para empresas inovadoras de alto crescimento. Podem ser uma linha atrelada ao faturamento recorrente da empresa ou estruturas mais personalizados que alguns fundos oferecem como “produtos de entrada”.

“O ideal é manter uma folga boa de caixa para passar pela crise e, quem sabe, até mesmo ter reservas para aproveitar oportunidades que possam surgir em meio à pandemia” (Imagem: Pixabay)

Estas linhas tendem a ser de valores baixos e servem para financiar seu capital de giro ou um eventual descasamento de caixa. Estes são produtos, muitas vezes, disponibilizados por investidores de dívida, especializados em startups, que gostariam de iniciar um relacionamento com a empresa, podendo oferecer linhas de crédito diferenciadas no futuro.

Às vezes, a alternativa mais adequada será contrair dívidas de valor mais significativo, que vão conseguir dar conforto de longo prazo para executar seu plano de negócios com tranquilidade. Este tipo de dívida oferece carência e prazos de pagamento mais longos, tendo pouco impacto no caixa no curto prazo. É o caso do Venture Debt, um produto novo no mercado brasileiro que possui flexibilidade para criar dívidas estruturadas e customizadas de acordo com a necessidade e estratégia de crescimento da startup.

Os fundos de Venture Debt assumem um risco diferente dos credores tradicionais, indexando parte da sua remuneração ao sucesso da sua empresa. Este é o player que faz a análise de crédito da startup como deve ser: (i) baseada em seu potencial, olhando futuro e não apenas o histórico realizado e (ii) considerando os ativos realmente disponíveis na empresa, como fluxos futuros de contratos de longo prazo e até mesmo ativos intangíveis.

A situação difícil do COVID-19 talvez tenha um lado mais fácil do que se imaginava. As alternativas de crédito para startups se desenvolveram bastante nos últimos anos e, hoje, os empreendedores já possuem algumas opções que permitem escolher o modelo mais indicado para o momento que está vivendo.

O ideal é manter uma folga boa de caixa para passar pela crise e, quem sabe, até mesmo ter reservas para aproveitar oportunidades que possam surgir em meio à pandemia. Ter uma opção na manga de fácil e rápido acesso para uma imprevisibilidade, como a linha de crédito bancária, também não é má ideia.

Escolher uma combinação de mais de uma das alternativas também é uma boa estratégia. Cada uma delas tem características específicas e poderá cumprir funções diferentes no planejamento financeiro. Além disso, ampliar sua rede de parceiros tende a apresentar resultados positivos.

Relacionamentos que começaram neste momento podem gerar novas oportunidades no futuro e ter parceiros com bolsos fundos, que conhecem a empresa e podem aumentar suas apostas, pode vir a ser de grande valia e fazer com que sua jornada seja um pouco mais fácil.

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