Como a Suíça está remodelando as criptoeconomias globais
Historicamente, a Suíça é relacionada ao crescimento de riquezas dos riscos e escondê-las do resto do mundo para preservá-las.
“Private banking”, cofres de ouro escondidos no fundo de montanhas e alquimia financeira pessoal se tornaram domínios de especialidade do país desde que os japoneses o superaram com sua própria tecnologia quartz.
Por que os suíços são tão interessados em cripto?
Desde que o bitcoin foi concebido como uma forma de enviar transações pseudoanônimas, é normal os suíços estarem interessados em uma tecnologia que facilita seu trabalho de esconder o dinheiro das pessoas mais facilmente.
A Suíça é a líder mundial em private baking e lar para a maior gestora de riqueza privada do mundo, UBS, com mais de US$ 2,3 trilhões de ativos sob gestão para indivíduos de alto poder aquisitivo — Credit Suisse é a terceira maior gestora de riquezas atrás da JPMorgan.
Comparativamente, isso é três vezes o PIB do país inteiro. Tanto CEOs de bancos como estrategistas suíços estão alertas para a possível interrupção que criptoativos apresentam para esse comércio se as pessoas realmente os utilizarem como reserva de valor em vez do ouro.
Esses receios estão remodelando a forma corporativa da indústria conforme a Suíça cria novas formas de integrar a nova tecnologia a seu setor financeiro tradicional.
Uma das maiores vantagens dos criptoativos sobre as reservas de valor físicas e tradicionais, como ouro, é exatamente por ser digital e não precisar ser armazenado fisicamente.
No entanto, uma indústria quase paródica foi criada na gestão de riquezas suíça: servidores hospedando chaves privadas de criptoativos armazenados em cofres de ouro suíços, escondidos sob as montanhas alpinas.
A empresa que opera a bolsa de valores suíça, SIX, anunciou seus planos de lançar uma plataforma de negociação de criptoativos que será “a primeira infraestrutura de mercado do mundo” a ser completamente regulada, onde ativos digitais poderão ser emitidos e valores mobiliários existentes poderão ser tokenizados.
Os suíços parecem determinados a demarcar seu território em cripto.
Lar do Fórum Econômico Mundial
Com uma população de apenas oito milhões, Suíça tem uma representação desproporcional no mundo financeiro, pois possui os maiores bancos do mundo e o banco de ideias mais influente, o Fórum Econômico Mundial.
O Fórum Econômico Mundial sem fins lucrativos foi criado em 1971 pelo economista alemão Klaus Schwab, que também foi um professor de administração na Universidade de Genebra na época.
Sua conferência anual na cidade de Davos se tornou o Festival Coachella do mundo financeiro, onde políticos, bancários, CEO, estrelas do rock e celebridades de todos os tipos interagem, aparentemente, a benefício da humanidade.
O evento apenas para convidados custa cerca de US$ 72 mil para participação e um ingresso. Além disso, já que Davos se tornou a Meca para a globalização e economia neoliberal, também se tornou um ponto focal para protestantes que fazem uma peregrinação anual até lá para se opor à doutrina corporativa.
A escola suíça de criptoeconomia
Em 2016, Schwad, o progenitor de 80 anos o FEM, publicou um livro intitulado “The Fourth Industrial Revolution” (A Quarta Revolução Industrial), destacando sua tese da futura economia e apresentando uma cronologia das três revoluções anteriores — em contraste a anos de aceitação de que só houve duas revoluções anteriores.
Para propagar a tese da Quarta Revolução Industrial, o FEM criou o Centre for the Fourth Industrial Revolution nos EUA. Em 2018, também abriu um centro no Japão, na Índia e na China.
O centro afirma que se envolve com “governos, empresas líderes, sociedade civil e especialistas de todo o mundo para desenvolver em conjunto e testar novas abordagens para políticas e governança na Quarta Revolução Industrial”.
O centro está “desenvolvendo e testando, em conjunto, estruturas de política e protocolos de governança entre nove áreas de concentração”. Dentre elas, estão inteligência artificial, aprendizado de máquina, Internet das Coisas, drones e tecnologia de blockchain.
Dentre os membros do comitê do fórum, estão políticos, administradores e realeza, como Al Glore, ex-vice-presidente dos EUA, e Jack Ma, fundador do Alibaba.
Mal se sabe que centros globais de pesquisa e a criação de políticas para o futuro dessas tecnologias emergentes estão acontecendo nos bastidores — fora a Cientologia de L. Ron Hubbard.
Daríamos boas-vindas ao Centro de Verdades Inconvenientes de Al Gore, que influenciou a política climática global?
Muitas países estão se posicionando para a revolução tecnológica iminente — independente de qual iteração — e muitos são nações pequenas, como Malta, Ilhas Cayman, Gibraltar e Lichtenstein que pode proteger os centros financeiros que possuem uma parte significativa de suas economias.
A Suíça não é diferente nessa questão, mas sua especialidade em render e esconder o dinheiro dos super-ricos e ajudá-los a evitar tributações das jurisdições é uma cultura antiética para a ética de “desbancarização dos bancos” da qual brotaram os criptoativos.
O Fórum Econômico Mundial, que não é um representante oficial da Suíça, é o pináculo do pensamento econômico neoliberal de uma classe de milionários e bilionários que pressiona globalização “uber alles”, sobre todos (apesar de que a política de protecionismo de Trump se tornou em sua eficácia poderosa).
O grande empurrão de sua doutrina da Quarta Revolução Industrial adotada por um homem é preocupante e tem o potencial de roubar o poder financeiro das criptomoedas das pessoas para as quais pretendiam dar autonomia.