Como a pandemia está normalizando o home office?
A narrativa midiática está bem focada nos efeitos a curto prazo do vírus na saúde e na vida pessoal das pessoas, além da economia. O que não se fala é sobre o impacto a longo prazo do vírus.
Atualmente, esse é o grande aspecto desconhecido, pois depende da severidade da recessão, se vai ser uma depressão econômica e quão profundos serão os efeitos de segunda ordem.
Já analisamos o que a crise atual significa para a indústria de criptoativos mas, neste artigo, analisaremos mais as tendências de trabalho.
O fato de que muitas empresas estejam pedindo a seus funcionários que trabalhem remotamente por um período indefinido poderia resultar em enormes efeitos na ampla economia, e aplicativos de trabalho remoto e empresas de cibersegurança podem se beneficiar disso.
Trabalho remoto
O efeito mais imediato a curto prazo da crise atual é que a maioria das empresas estão pedindo para que seus funcionários trabalhem de casa. Essa mudança reacendeu o debate sobre o valor do trabalho remoto e os desafios por ele apresentados.
Na última década, diversas empresas testaram o trabalho remoto, apenas para descobrirem que nem sempre obtiveram os benefícios que deveriam obter.
Esse foi o caso, por exemplo, da IBM. Em 2009, a empresa relatou que 40% de seus funcionários estavam trabalhando de casa. Isso permitiu que a empresa vendesse seus escritórios, uma decisão que permitiu que a empresa ganhasse US$ 2 bilhões.
Porém, em 2017, IBM reverteu a decisão, trazendo a maioria de seus funcionários para trabalhar dentro da empresa.
Havia diversos motivos para essa decisão. IBM destacou o fato de que manter a saúde mental de seus funcionários remotos era difícil. Na verdade, pesquisas mostram que esse é um grande desafios para trabalhadores remotos em geral.
Ao fazer uma análise mais profunda, fica evidente que muitas empresas se preocupam sobre o declínio na produtividade ao migrar para trabalho remoto, e o investimento extra necessário para integrar sistemas de pagamento on-line e outras ferramentas para gerenciar esses funcionários de forma efetiva.
Efeitos mais amplos
Todas essas preocupações agora são redundantes.
Muitas empresas foram forçadas a migrar para o “home office” quer queiram ou não. Isso significa que, agora, muitos devem enfrentar — e resolver — os problemas criados por essa forma de trabalho. Isso terá grandes efeitos em cascata em diversos setores da economia.
Primeiro, é provável que empresas que fornecem soluções de trabalho remoto prosperem. Isso inclui empresas que fornecem software e outros produtos diretamente criados para facilitar o trabalho remoto, como sistemas de colaboração de locais de trabalho baseados em nuvem.
Zoom, a ferramenta de videoconferência, é a maior história de sucesso aqui, passando de 10 milhões de usuários diários para 200 milhões de usuários diários em três meses.
Zoom também teve que lidar com preocupações crescentes sobre privacidade e dados de usuários conforme enfrenta seu novo papel fundamental na infraestrutura global.
Empresas que fornecem sistemas adicionais, como softwares de lembrete de compromissos e armazenamento em nuvem, também cresceram no novo ambiente.
Esses sistemas cresceram em popularidade em todos os setores nos últimos anos, mas espera-se que a demanda dispare nos próximos meses.
Menos obviamente, a migração para o trabalho remoto vai ser paralela à migração para o trabalho freelance.
Conforme funcionários saem de seus escritórios, é provável que comecem a contratar seus serviços para diversos empregadores em vez de permanecer em apenas uma empresa.
Isso, por sua vez, significa que mercados freelance (como Upwork) e provedores de hospedagem também podem se beneficiar dessa migração.
O novo setor de cibersegurança
Profissionais de cibersegurança sempre sofreram para assegurar sistemas remotos, mas também tiveram dificuldades para convencer que era necessário mais investimento para as ferramentas.
Agora, muitos estão correndo para implementar medidas de segurança que foram planejadas, e o investimento em softwares de segurança também pode passar por um aumento a curto e médio prazo.
Serão dois grandes elementos desse investimento. O primeiro será nas ferramentas técnicas exigidas para assegurar os ambientes de trabalho remoto.
Isso inclui contratos a nível empresarial para empresas confiáveis de VPN (rede privada virtual) e um aumento na demanda por sistemas de inteligência e ameaça cibernética.
Armazenamento criptografado em nuvem, sistemas criptográficos de e-mail e outras formas de softwares para comunicação segura também terão grandes ganhos.
O segundo e, talvez, o menos óbvio, empresas que fornecem treinamentos sobre cibersegurança, particularmente as que pretendem ensinar a funcionários como trabalhar remotamente com segurança, terão mais demanda.
Conforme trabalhadores deixam seus escritórios, terão que mudar seus hábitos ao reconhecer que suas redes WiFi e seus celulares também fornecem riscos de cibersegurança.
Esse segundo elemento vai ser bem-vindo por diversos profissionais em cibersegurança que, há tempos, argumentam que é o comportamento dos usuários o que compromete a segurança dos sistemas corporativos.
Trabalhar de casa poderia finalmente resultar no reconhecimento do nível de ameaça cibernética que o trabalhador médio enfrenta, além de encorajá-lo a mudar seu comportamento para combater essa questão.
O futuro
Tempos de crise sempre resultam em mudanças inesperadas, é claro. Prever o impacto a longo prazo do coronavírus na economia é quase impossível.
Porém, a curto prazo, algumas coisas são claras: a migração para trabalho remoto irá acelerar processos que há tempos são visíveis em muitos setores, como a migração para mão de obra descentralizada e um aumento paralelo em trabalhos freelance.
Essas mudanças causarão problemas para alguns setores, mas oportunidades para outros.
Agora mesmo, vemos empresas se beneficiando da crise, sejam elas mineradores de criptoativos ajudando no combate ao coronavírus ou portais de ensino a distância abrindo seu curso para uma mão de obra on-line que de repente se expandiu.
Resumindo, apesar de a pandemia do COVID-19 poder resultar na queda econômica de uma geração, como todas as crises, irá resultar em uma recalibração da economia, da qual muitas empresas vão se beneficiar e, como um investidor, é necessário começar a pensar onde isso irá acontecer.