Internacional

Como a inflação irá (ou deveria) derrubar Nicolás Maduro

23 set 2019, 22:25 - atualizado em 24 set 2019, 1:13
Cinco episódios na região ajudam a entender o que pode acontecer com a Venezuela (Imagem: Bloomberg)

A ditadura de Nicolás Maduro iniciou um processo de tentativas de conter a inflação que pode, ao exemplo do visto em outros países latino-americanos, motivar a sua própria queda.

Cinco episódios na região ajudam a entender o que pode acontecer com a Venezuela.

“Em todos os casos (exceto no Chile em 1975), as tentativas iniciais de reduzir a inflação trouxeram alívio temporário, antes que a inflação se recuperasse”, aponta o economista Quinn Markwith da consultoria Capital Economics.

Em um estudo publicado nesta segunda-feira (23) e obtido pelo Money Times, ele explica que, antes da mudança de um regime ineficiente como o de Maduro, os governos anteriores malsucedidos tendiam a implementar políticas monetárias não-ortodoxas, mas continuando a executar um orçamento desequilibrado.

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Medidas

Após atingir o pico de 350.000% ao ano em janeiro, a inflação venezuelana começou a diminuir no primeiro semestre. Entretanto, as condições pioraram novamente e, em termos mensais, a inflação dobrou de 33% em julho para 65% em agosto.

O regime de Maduro se utilizou de dois métodos para atacar a alta dos preços.

O primeiro foi a redução dos gastos públicos, o que diminuiu os empréstimos públicos do Banco Central, financiados pela impressão de bolívares. Esse processo quase cessou entre janeiro e março.

A hiperinflação também tende a desencadear mudanças políticas e reformas econômicas drásticas após alguns anos (Imagem: Manaure Quintero/Bloomberg)

Em segundo lugar, o BC aumentou fortemente as exigências de reservas dos bancos de 31% em janeiro para 57% em fevereiro.

Isso reduziu a expansão do crédito, o que fez com que o juro médio dos empréstimos dos bancos comerciais subisse de 22,4% em janeiro para cerca de 32% entre fevereiro e agosto.

“E, dado que muitos venezuelanos estavam usando crédito para comprar dólares, a redução nos empréstimos cortou a pressão sobre o Bolívar”, indica Markwith.

Uma política semelhante às exigências de reservas da Venezuela foi tentada pela Argentina para combater a inflação em 1989, que saiu pela culatra, explica o estudo.

Os juros de empréstimos dispararam, mas o crescimento da extensão de crédito permaneceu rápido e a inflação alta. Além disso, taxas de juros mais altas aumentaram o peso da dívida do governo, gerando maior déficit.

Uma política semelhante às exigências de reservas da Venezuela foi tentada pela Argentina para combater a inflação em 1989, que saiu pela culatra (Imagem: Banco Central da Venezuela)

Os cinco passos para o precipício

A Capital Economics identificou cinco critérios principais (política fiscal, monetária, cambial, mudança de regime e resgates do FMI) adotados por governos que não conseguem mais controlar a sua economia.

“O que se destaca é que nenhum país da amostra eliminou com êxito a hiperinflação sem que todos os cinco critérios fossem satisfeitos. A partir de agora, o regime da Venezuela satisfez apenas um. Atingir um fim duradouro da hiperinflação provavelmente exigirá muito mais ação, incluindo uma mudança de regime”, explica.

Em 16 casos de hiperinflação avaliados desde 1980, os países ou implementaram a “terapia de choque” de cortes de gastos, dolarizaram a sua economia ou adotaram um conselho monetário, o que parece improvável na Venezuela sob o presidente Maduro.

“Dito isto, a hiperinflação também tende a desencadear mudanças políticas e reformas econômicas drásticas após alguns anos”, conclui a Capital Economics.

Verde indica que um critério foi atendido e vermelho o oposto. A coluna final mostra se o país saiu com êxito da hiperinflação:

Fonte: Refinitiv, Banco Mundial e FMI