Como a Eternit se reergueu ao deixar o amianto? Veja entrevista com o CEO
A Eternit (ETER3) está terminando o processo de reestruturação e entrando em um ciclo de crescimento, afirmou Luís Augusto Barbosa, CEO da companhia, ao Money Times.
Para uma empresa que usou por 80 anos o amianto como principal matéria-prima, ter que reformular toda a estrutura de negócio colocou a Eternit em uma posição financeira delicada. Quando percebeu que o banimento da fibra natural era um processo irreversível, a companhia se viu obrigada a converter suas fábricas e pensar em novas maneiras de seguir em atividade.
Foi em 2017 que a Eternit iniciou a reestruturação das suas linhas de negócio. Com uma nova diretoria, o grupo anunciou que deixaria o amianto de lado, fechou uma fábrica e converteu as demais para uso de fibras sintéticas.
Barbosa comentou que a companhia passou por um momento financeiro difícil para suportar a mudança.
“Teve um custo muito grande”, disse o executivo. “Implicou em mudança de processo, perdas de produtividade, de rentabilidade… Nós sabíamos que isso traria momentos financeiros difíceis para a empresa”.
Em 2018, a Eternit entrou com um pedido de recuperação judicial e deu início ao período de desinvestimento em caixas d’água, metais sanitários e louças sanitárias, negócios que não davam muito lucro ao grupo, para focar exclusivamente em coberturas.
Além da mudança operacional, também foi feita na mesma época uma reforma administrativa para adequar a empresa à nova realidade.
O conjunto dessas medidas permitiu que a Eternit voltasse a dar lucro no ano passado, quando registrou ganhos de R$ 158,7 milhões (contra prejuízo de R$ 12,6 milhões em 2019).
Agora, perto de encerrar o processo de recuperação judicial, a companhia está dedicada em seu novo projeto de telhas fotovoltaicas.
Mercado renovável
A companhia está nas etapas finais de desenvolvimento das telhas de concreto da Tégula Solar, uma das marcas do grupo, e a previsão é de que o produto seja liberado para comercialização já no segundo semestre deste ano.
De acordo com Barbosa, a intenção de produzir telhas solares partiu da ideia de agregar algum tipo de valor à cobertura.
“A ideia era realmente fazer uma telha capaz de captar energia solar. Pegamos nossa telha, exatamente como ela é, e aplicamos uma célula fotovoltaica nela”, explicou.
A companhia já está produzindo as telhas solares em uma unidade piloto em Atibaia, onde está a fábrica da Tégula. Há também projetos-piloto instalados em residências localizadas em três estados (Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro) para testar climas diferentes e identificar possíveis problemas.
“São aplicações que estamos monitorando, acompanhando a produção da energia, a resistência, quais são os problemas de instalação, de transporte…”, disse o presidente do grupo.
Focadas em residências, pequenos comércios e indústrias e agronegócio, as telhas têm garantia de 20 anos e a vantagem de serem 20% mais baratas do que a opção tradicional. Além disso, o processo de instalação é mais simples, e há ainda o apelo estético.
“A gente tem um produto bastante promissor”, destacou Barbosa. “O percentual da energia solar na matriz energética brasileira é mínimo ainda, cresce a taxas muito interessantes e tem um valor agregado muito maior do que a telha que a gente está acostumado a vender. Então, é um produto disruptivo para o mercado e também para a Eternit”.
Além da Tégula, a companhia está com outro projeto em desenvolvimento: a telha solar de fibrocimento, que leva o nome de Eternit Solar. As telhas de fibrocimento estão um estágio atrás das telhas da Tégula, na fase de serem homologadas no Inmetro.
A Eternit também tem interesse em desenvolver produtos no segmento de captação de água. O projeto não andou na mesma velocidade que a captação de energia solar, mas é uma via com potencial para ser explorada pela empresa.
Acessibilidade
Segundo Barbosa, produtos ligados à captação de energia solar estão ficando mais baratos e, consequentemente, mais acessíveis.
O executivo afirmou que hoje em dia existe uma iniciativa muito grande para dar mais acesso à energia solar. As distribuidoras contam com programas de incentivo e os agentes financeiros têm linhas de financiamento com taxas mais atrativas. Se antes o retorno de investimento para esse tipo de produto era de dez anos, agora podem ser encontrados no mercado projetos com três a cinco anos de payback – como deve ser o caso da telha fotovoltaica da Eternit.
Além do segmento de residências de alto padrão, a Eternit tem projetos voltados à energia renovável em casas populares.
Barbosa contou que construtoras ligadas a grandes canteiros de obras, como MRV (MRVE3), Pacaembu e RNI (RDNI3), usam as telhas da companhia para diminuir o retrabalho e ganhar eficiência no tempo de construção.
“Na licitação, o governo tem pedido que essas casas já venham com iniciativas de energia limpa. É uma casa que está sendo vendida muito barato e que está usando uma telha nossa”, reforçou o CEO.
Planos de expansão
Uma das principais metas da Eternit no momento é ganhar participação de mercado por meio da expansão geográfica.
A companhia anunciou no fim do mês passado uma oferta vinculante para a compra da fabricante de telhas de fibrocimento Confibra, localizada em Hortolândia, interior de São Paulo.
Barbosa disse que colocar uma fábrica em São Paulo, região onde se concentra o maior mercado consumidor do produto no país, pareceu menos interessante do que buscar uma oportunidade de aquisição. No entanto, para áreas sem capacidade instalada suficiente, o grupo quer construir fábricas novas.
“A telha é um produto de baixo valor agregado, pesado. O frete impacta muito na margem. Então, tem lugares que caberão fábricas novas. A gente está pensando em greenfields (áreas construídas do zero). Não temos ainda o local definido, mas também devemos partir em breve de iniciativas de fábricas novas”, concluiu o executivo.