Internacional

Como a China quer derrubar os preços do petróleo “na marra”?

09 set 2021, 14:27 - atualizado em 09 set 2021, 14:27
Petróleo
A China, maior importadora de petróleo do mundo, acumulou reservas de 220 milhões de barris da commodity na última década (Imagem: REUTERS/Dado Ruvic)

A intervenção sem precedentes da China no mercado mundial de petróleo, com a venda de reservas estratégicas pela primeira vez, tem o objetivo explícito de baixar os preços.

O anúncio ocorre em meio ao aumento dos custos de energia na China, não apenas do petróleo, mas também do carvão e gás natural, e a cortes de eletricidade em algumas províncias, o que obrigou algumas fábricas a reduzirem a produção. A inflação também se acelera rapidamente, um obstáculo político para o governo de Pequim.

Em comunicado na quinta-feira, a Administração Nacional de Alimentos e Reservas Estratégicas disse que o país havia acessado suas gigantescas reservas de petróleo para “aliviar a pressão do aumento dos preços das matérias-primas”.

O governo não deu mais detalhes, mas pessoas com conhecimento do assunto disseram que o comunicado fazia referência a milhões de barris que o governo ofereceu em meados de julho.

A agência de reservas chinesa também disse que uma rotação “normalizada” do petróleo nas reservas estatais é “uma forma importante para as reservas cumprirem seu papel no equilíbrio do mercado”, indicando que pode continuar a liberar barris.

A agência disse que colocar petróleo das reservas nacionais no mercado por meio de leilões abertos “estabilizará melhor a oferta e a demanda do mercado doméstico”.

Não houve resposta a ligações para as assessorias de imprensa do Conselho de Estado da China e da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma com pedido de comentário fora do horário comercial normal.

A China, maior importadora de petróleo do mundo, acumulou reservas de 220 milhões de barris da commodity na última década, de acordo com a Energy Aspects.

Esse colchão difere das reservas estratégicas de petróleo dos EUA e na Europa, conhecidas como SPR na sigla em inglês, que são acessadas apenas durante cortes do fornecimento e guerras.

A China, entretanto, sinaliza que está disposta a usar as reservas para tentar influenciar o mercado.

“À primeira vista, é uma declaração bastante clara da intenção de usar a SPR para reduzir os preços do petróleo para refinarias domésticas”, disse Bob McNally, ex-assessor político sênior da Casa Branca que agora comanda a Rapidan Energy Group, uma consultoria em Washington.

A liberação das reservas ocorre depois de a inflação aos produtores da China se acelerar para o maior nível em 13 anos e apenas um mês após a Casa Branca pedir publicamente à Opep para bombear mais petróleo em meio à alta dos preços da gasolina nos Estados Unidos.

Juntas, as ações de Pequim e Washington sugerem que os dois maiores consumidores de energia do mundo veem a faixa de US$ 70 a US$ 75 o barril como uma linha vermelha para a cotação do petróleo.

O furacão Ida também eliminou parte da produção de petróleo dos EUA, afetando os suprimentos para a chinesa Unipec.

O governo chinês tem conseguido resultados mistos ao usar reservas estratégicas para limitar a alta dos preços das commodities. Embora muitas vezes a liberação das reservas derrube os preços, principalmente quando confirmada, o recuo tende a ser de curta duração.

“A medida da China é, sem dúvida, destinada a aliviar as pressões de alta dos preços sobre os custos crescentes de importação de petróleo”, disse Ryan Fitzmaurice, estrategista de commodities do Rabobank.

“É improvável que surja o efeito desejado, a nosso ver. Para começar, sinaliza vulnerabilidade para o mercado financeiro de petróleo e, além disso, não há oferta física suficiente para causar impacto.”