Commodities nos lembram de que não há regra eterna nos investimentos
Por Larissa Quaresma
Essa frase poderia ter sido retirada de quase qualquer conversa de almoço ou corredor da Faria Lima. Nos anos passados, tornou-se elegante dizer que commodities são “negócios ruins”, por se tratarem de mercados muito competitivos, em que um produtor, individualmente, não tem a menor chance de influenciar o preço. Além disso, o setor também saiu de moda junto com a ascensão da temática ESG.
Não digo que os gestores e analistas profissionais estiveram de todo errados nas suas visões sobre as commodities. De fato, a probabilidade de um produtor de commodity influenciar o preço do seu produto é baixíssima. Além disso, acreditamos na tendência estrutural, de longo prazo, que é o ESG – o que não significa que a transição ocorrerá do dia para a noite. O que me incomodava nesses papos não eram os conceitos, mas sim o tom determinístico das falas.
Ao investir em empresas, é muito difícil que uma mesma estratégia ou conjunto de setores funcione sempre durante muito tempo, ou o contrário – que determinadas táticas ou conjunto de setores nunca funcionem. Em bom português, não dá para ficar cagando regras para investir em ações (desculpe o palavreado).
O mais engraçado é que, ao afirmar isso, estou contradizendo a mim mesma, afinal de contas, estou cagando a regra de que não podemos cagar regra. Enfim. Será que pelo menos essa regra não deveria valer?
Em commodities, apesar de na grandíssima maioria das vezes os produtores individuais serem incapazes de influenciar os preços, isso não é verdade em alguns casos.
Veja o setor de petróleo, por exemplo, em que a saudita Aramco responde por cerca de 10% da venda mundial de óleo. Se você controla 10% da oferta global de qualquer produto, é capaz de influenciar os preços sim senhor – lembre-se do caso da Rússia, que responde por 10% da oferta mundial de petróleo e que levou as cotações do Brent para a lua depois de ser praticamente excluída do comércio mundial.
Exemplos que contrariam o senso comum das commodities
Aqui no Brasil encontramos mais alguns exemplos. A Suzano (SUZB3) responde por 20% da produção mundial de celulose e por incríveis 30% do mercado de celulose de fibra curta. Outra tupiniquim, a Vale (VALE3) controla cerca de 13% da oferta mundial de minério de ferro.
O curioso é que o mercado só se lembra desses números de vez em quando.
O que até faz sentido, dado que esses setores, apesar de não serem concorrências tão perfeitas assim, são de fato cíclicos. O retorno sobre capital investido da Saudi Aramco oscila junto com o preço do Brent. O mesmo se aplica aos retornos da Vale em relação ao minério de ferro. E também para a Suzano versus a celulose.
Com a subida das commodities, os gestores da Faria Lima inundaram as bases acionárias dessas empresas e suas similares. Mas não culpo os gestores e analistas por isso, ao contrário. Em setores cíclicos, há hora certa para entrar e para sair dessas ações. Ainda bem que mudaram de opinião.
Na atualidade, tornou-se comum o debate sobre as teses de investimento do setor de óleo e gás. “Por que a petroleira A tem um custo de extração tão maior que o da B?” Uma pergunta difícil de ouvir nos anos anteriores, mas que de repente virou mainstream. Não acha incrível como o mercado financeiro também vive de modas?
Veja, não estou criticando a natureza temática dos investimentos. Acredito, inclusive, que precisamos ficar atentos a essa ciclicidade, que também faz parte do jogo. É preciso navegar nesses temas para investir bem no longo prazo. O que nos faz, justamente, colocar em perspectiva os temas que hoje estão em voga.
Antes eram os e-commerces, hoje são as commodities. Já foram também as startups, agora são as incumbentes. Hoje são as commodities, amanhã será o quê?
O importante é saber que não existe estratégia atemporal e muito menos uma bala de prata. Aquele setor que você acha péssimo pode te render rios de dinheiro no futuro, desde que esteja aberto para enxergar isso na hora certa.
Talvez seja esse o motivo de eu achar essa profissão tão intrigante. De tempos em tempos, vivemos o frescor de sermos iniciantes de novo, vendo-nos obrigados a estudar um tema que só era falado antes de começar nossa carreira. E também por isso a experiência faz diferença – quanto mais tempo nisso, mais modas, manias e ciclos você viu. Não acredite em balas de prata ou estratégias infalíveis.