Opinião

Commodities nesta semana: petróleo se alinhará aos anseios sauditas? Ouro em foco

02 dez 2019, 14:13 - atualizado em 02 dez 2019, 14:38
Petróleo
Com o ouro em foco, a Arábia Saudita quer dos membros do cartel e seus aliados, respeito aos cortes pré-acordados (Imagem: REUTERS/Nick Oxford)

Por Barani Krishnan/Investing.com

Enquanto o petróleo afundava na sexta-feira, por causa da sugestão da Rússia de que a Opep não deveria estender os cortes de produção em sua reunião desta semana, a Bloomberg publicava um artigo lembrando ao mercado outra coisa que a Arábia Saudita quer dos membros do cartel e seus aliados: respeito aos cortes pré-acordados.

Ao que tudo indica, o ministro do petróleo da Rússia, Alexander Novak, e seu colega saudita Abdulaziz bin Salman esperam alcançar coisas distintas na reunião de 5-6 de dezembro. Mesmo assim, ambos têm objetivos similares: reduzir o estresse nas operações petrolíferas de seus países e talvez, quem sabe, fazer os preços do petróleo subirem.

O ministro do petróleo da Rússia, Alexander Novak, e seu colega saudita Abdulaziz bin Salman esperam alcançar coisas distintas na reunião de 5-6 de dezembro (Imagem: REUTERS/Satish Kumar)

Mas o que torna mais difícil a aspiração saudita é que o país precisa da ajuda da Rússia para continuar manipulando a produção e os preços mundiais do petróleo.

Moscou, por outro lado, está em uma posição bastante diferente.

A Rússia é a segunda maior produtora de petróleo do mundo, atrás somente dos Estados Unidos e da Arábia Saudita, e não passa de uma aliada no âmbito da Opep+, estando, portanto, longe de ser um membro do cartel.

Os russos concordaram em cooperar com os sauditas, pois querem ter a liberdade de decidir quando e quanto cortar a produção, independente das promessas feitas ao reino do deserto.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Sauditas à mercê dos russos

Em razão da sua grande influência sobre o setor privado da Rússia, o governo Putin consegue fazer o que o governo Trump não consegue com a indústria petrolífera independente dos EUA.

Os sauditas têm poucas opções ao presidente russo Vladimir Putin para restringir a oferta de barris no mercado, o que o presidente norte-americano logicamente se recusa a fazer, uma vez que o petróleo em alta prejudicaria a economia dos EUA e suas chances de reeleição em 2020.

Mas, ao recorrer ao auxílio de Putin, os sauditas também se sujeitam aos caprichos do presidente russo, que pode simplesmente lhes dizer para “fechar a torneira”, no linguajar do petróleo.

Os sauditas têm poucas opções ao presidente russo Vladimir Putin para restringir a oferta de barris no mercado (Imagem: Markku Ulander/Lehtikuva/via REUTERS

De acordo com a reportagem da Bloomberg na sexta-feira, Abdulaziz deve usar sua primeira reunião da Opep como ministro do petróleo para sinalizar que, na condição de maior produtora do cartel, Riad não está mais disposta a compensar a falta de adesão dos outros membros aos cortes acordados.

O acordo atual prevê um corte geral da Opep de 1,2 milhão de barris por dia (bpd), um fardo que os sauditas afirmam estar aguentando mais do que qualquer outro membro ou aliado do grupo.

Os sauditas elaboraram uma lista de suspeitos de superprodução dentro da Opep, que apresenta os mesmos violadores em série dos últimos três anos: o Iraque, que produziu quase 4,8 milhões de bpd durante alguns meses deste ano, quando sua cota era de 4,511 milhões; e a Nigéria, que produziu 1,8 milhão de bpd, acima do 1,68 milhão prometido.

Também entrou na lista deste ano o Cazaquistão, que havia aceitado o limite de 1,86 milhão de bpd, mas produziu cerca de 1,95 milhão.

De acordo com dados da Reuters, a superprodução da Rússia foi de cerca de 70.000 bpd, a fim de compensar a inatividade do oleoduto de Druzhba em maio e junho, quando Moscou perdeu quase 19 milhões de barris por causa de uma contaminação.

Além de importante para o pacto Opep+, a participação da Rússia no plano é essencial para a confiança do mercado, justamente pelo fato de o país ser o segundo maior produtor de petróleo do mundo. O pacto Opep+ expira em março, e os sauditas esperam ampliá-lo até junho na reunião desta semana.

Preços do petróleo sob tensão, à espera da decisão da Rússia sobre a Opep+

WTI Semanal – Powered by TradingView

Se Moscou novamente mostrar indiferença ao plano saudita, os preços do petróleo podem despencar mais 4% ou até mais, como na semana passada. O petróleo ainda apresenta uma forte valorização no ano, com o WTI disparando 23% e o Brent, referência mundial, subindo 14%.

Mesmo assim, se a Opep parar de cortar a produção, é difícil imaginar a sustentação desses ganhos.

De acordo com pessoas que conhecem o pensamento saudita, Abdulaziz tentará fazer com que os países que têm violado o pacto da Opep realizem os cortes de barris com os quais se comprometeram.

Mas será que Riad conseguirá fazer o mesmo com Moscou e esperar resultados similares? Como se dizia antigamente na escola, a questão é saber se o valentão do recreio vai querer enfrentar alguém do seu tamanho – e conseguir vencer.

Para evitar um crash de mercado, os russos podem concordar com o plano saudita

Pode ser que os sauditas não tenham que “entrar em guerra” com os russos por causa disso. Isso porque, apesar do drama criado por Moscou, é possível que a Rússia concorde em estender os cortes de 1,2 milhão de bpd da Opep+ antes do fim desta semana até junho.

Já vimos Putin nessa encruzilhada antes e também já o vimos seguindo o caminho da Opep ao final. Tudo indica que ele fará isso novamente. Novak já sugeriu uma saída: mudar a forma como a produção russa é calculada.

O ministro de energia da Rússia afirmou, na semana passada, que Moscou vem incluindo os condensados – um tipo de petróleo leve de alta qualidade, extraído durante a produção de gás – em seus dados, impulsionando os números gerais. Subtraindo essa produção, talvez os russos consigam atender os parâmetros estabelecidos pela Opep+.

Dessa forma, tanto os russos quanto os sauditas ficarão felizes, e o mercado comprará de bom grado essa narrativa. Será mesmo?

Para os sauditas, todos os caminhos levam ao IPO da Aramco

A maneira como o mercado interpretará a reunião da Opep desta semana será crucial para os sauditas, pois o reino quer manter os preços do petróleo subindo, ao mesmo tempo em que trabalha para abrir o capital da sua empresa estatal, a Aramco.

O reino quer manter os preços do petróleo subindo, ao mesmo tempo em que trabalha para abrir o capital da sua empresa estatal, a Aramco (Imagem: Reuters/Maxim Shemetov)

Não por acaso, o preço da oferta inicial de ações da Aramco será anunciado no dia 5 de dezembro, dia de abertura da reunião da Opep, a fim de maximizar o impacto do IPO no mercado e pressionar um resultado favorável para a companhia.

Também não é segredo por que os sauditas não querem mais suportar os cortes dos membros recalcitrantes da Opep, já que todo esse fardo recairia sobre a Aramco.

Ao contrário do que aconteceu no passado, quando realizou cortes profundos para segurar os preços do petróleo, a Aramco agora precisa otimizar sua própria produção dentro das restrições da Opep para criar um balanço patrimonial saudável para seus investidores.

Só para ter uma ideia do que Riad perdeu em receita petrolífera nos últimos três anos: a Rússia está ganhando US$ 170 milhões a mais por dia do que no último trimestre de 2016, quando os cortes da Opep foram acordados inicialmente. Já os sauditas estão ganhando apenas US$ 125 milhões a mais.

Tendências e previsões mundiais ainda não estão se alinhando aos planos sauditas

As tendências e previsões mundiais não parecem tão promissoras para o que a Arábia Saudita tem em mente. Na semana passada, uma pesquisa da Reuters com 42 economistas e analistas previu que a cotação do Brent seria de US$ 62,50 em média no próximo ano, um pouco mais do que a perspectiva de US$ 62,38 de outubro.

A própria previsão da Opep é de um excedente de cerca de 70.000 bpd no ano que vem. Os analistas consideram que a demanda crescerá entre 0,8 e 1,4 milhão de bpd no próximo ano.

“A Opep+ está em uma posição inviável, lutando para elevar os preços contra uma demanda fraca, um sentimento frágil de mercado e fortes ganhos na oferta fora da Opep”, declarou a Fitch Solutions em um comentário na sexta-feira.

Guerra comercial: ruim para o petróleo, excelente para o ouro?

Sem falar na guerra comercial, jogo de adivinhação que nunca acaba de Trump sobre as negociações entre EUA e China, que pode acabar sendo uma bênção ou uma maldição para os mercados, dependendo do humor do presidente.

Na sexta-feira, o presidente dos EUA assinou dois decretos em apoio aos manifestantes de Hong Kong contra Pequim, uma ação que ameaça ainda mais as chances de um acordo comercial. Se o sentimento negativo se acentuar, os preços do ouro podem subir dentro da faixa de US$ 1.460 a US$ 1.480, à medida que os investidores buscam proteção.

Ouro 60 Minutos – Powered by TradingView

Tanto os futuros do ouro com entrega em fevereiro na COMEX de Nova York quanto o ouro spot, que reflete as negociações em lingotes, terminaram positivos na semana passada.

“Será que o presente do Papai Noel será o ouro a US$ 1.500 até o Ano-Novo?”, perguntou Mark Mead Baillie, articulista do Investing.com, em um artigo no domingo.

“Se o suporte de US$ 1.454-US$ 1.434 se mantiver e a consolidação de preços continuar, é possível imaginar o ouro encerrando o ano a US$ 1.500.