Opinião

Commodities nesta semana: Petróleo preso à briga de Trump com Irã

24 jun 2019, 12:45 - atualizado em 24 jun 2019, 12:48
Donald Trump insiste que não quer guerra, mas o Irã não se mostra disposto a negociar, na esperança de forçar o presidente dos EUA a retirar suas sanções incondicionalmente

Por Barani Krishnan/Investing.com

Donald Trump insiste que não quer guerra, mas o Irã não se mostra disposto a negociar, na esperança de forçar o presidente dos EUA a retirar suas sanções incondicionalmente.

Esse é um dos mais complexos cenários já enfrentados pelos traders de petróleo, apesar de o West Texas Intermediate norte-americano ter acabado de registrar sua melhor semana desde 2016, com uma valorização de 9%.

O ouro também pode se consolidar em torno de US$ 1.400 por onça, à espera de sinais do tão aguardado corte de juros do Federal Reserve (Fed).

Às vésperas das reuniões da Opep e do G20 que terão repercussão nos mercados petrolíferos, poucos traders querem se arriscar a abrir novas posições de venda a descoberto no petróleo nesta semana.

É possível que a parceria entre a Arábia Saudita e a Rússia gere novas restrições à produção petrolífera na cúpula da Opep nos dias 1 e 2 de julho. E Trump e o líder chinês, Xi Jinping, podem anunciar um acordo comercial preliminar antes da conclusão do G20, em Osaka, nesta semana.

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Tempos extraordinários para os traders de petróleo

Apesar de os traders estarem vivendo tempos extraordinários no petróleo, não significa que os touros não precisam se proteger dos eventos mais inesperados.

E isso envolve a possibilidade de mais um acúmulo inesperado de estoques de petróleo nos dados semanais divulgados pela Energy Information Administration (EIA), dos EUA, e também uma possível indecisão por parte dos membros do Fed quanto ao corte de juros amplamente aguardo em julho.

Embora a EIA tenha citado uma demanda recorde de gasolina nos EUA em seu último conjunto de dados na semana passada, um incêndio em um complexo de refino na Filadélfia na sexta-feira, responsável por um quarto dos produtos combustíveis da região, pode distorcer os números de energia da agência no curto prazo.

E as margens fracas de refino ao redor do mundo, particularmente na Ásia, estão pressionando a perspectiva mundial de petróleo.

A consultoria Energy Intelligence, de Nova York, listou diversos temas importantes para o petróleo na sexta-feira, em especial, percepções negativas sobre a economia global e como elas estão impactando os preços da commodity.

O grupo afirmou que o enfraquecimento do PIB mundial intensificava os temores do mercado de que a demanda petrolífera estaria “à beira de um precipício”.

Gráfico 300 Minutos Brent – Powered TradingView

 

A consultoria afirmou ainda:

“Há uma grande razão para que o petróleo Brent esteja em queda, sem reagir a uma miríade de preocupações com o fornecimento. Alguns temem que a demanda já esteja despencando além dos dados disponíveis. Como prova, eles apontam o aumento nas exportações de produtos refinados e as margens deprimidas das refinarias na Ásia.”

“Acredita-se que o crescimento da demanda será revisado para baixo ainda mais, criando um excesso de petróleo”, declarou a Energy Intelligence, mesmo que uma forte queda na demanda global de petróleo possa não ser inteiramente realista.

“Dados positivos” podem às vezes ter um “impacto negativo” no petróleo

E não para por aí. No petróleo, “dados positivos” podem às vezes ter um “impacto negativo”.

Considere, por exemplo, a rápida melhora nos números da produção industrial ou o desempenho das vendas no varejo, que podem convencer o Fed a atrasar um corte de juros em julho. Isso pode fazer com os fundos de petróleo que esperam uma flexibilização monetária no próximo mês apontem para o enfraquecimento da demanda global de petróleo.

A ferramenta de monitoramento das taxas de juros do Fed do Investing.com precifica uma chance de 100% de redução em julho.

Mas, como três membros do Federal Reserve — o presidente Jerome Powell, o diretor do Fed de St. Louis, James Bullard, e o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic — falarão em diferentes eventos nesta semana, o impacto dos seus pronunciamentos nas discussões sobre a taxa de juros pode ser bastante grande.

Embora Powell tenha afirmado, na semana passada, que não havia muito apoio entre os diretores do Fed a um corte de juros na reunião de junho do banco central, Bullard declarou que desejava uma redução como garantia contra a desaceleração do crescimento e a inflação fraca.

Ouro continuará rompendo resistências em sua ascensão implacável?

Gráfico 60 Minutos Ouro – Powered TradingView

O movimento do Fed também será crucial para o ouro, já que muitos preveem que o lingote e os futuros do metal na Comex registrarão novos picos após as máximas de quase seis anos acima de US$ 1.400.

“Se o ouro com vencimento em agosto subir e se sustentar acima de US$ 1.420, meu trabalho aponta para US$ 1.445 a US$ 1.450 como próxima zona de alvo mínima”, disse Mike Paulenoff, comentarista de ouro do site MPTrader.com.

Paulenoff disse ainda:

“Isso sustentará o argumento de que o rompimento de resistências de vários anos continuará implacável, talvez em reação à combinação de um Fed mais ameno, um dólar mais fraco, maiores expectativas inflacionárias e tensões geopolíticas acirradas.”

Trump tenta conseguir o que quer do Irã bancando o “cara legal” e o “durão”

Enquanto isso, o enfrentamento entre EUA e Irã gera um dilema tão grande para os traders de petróleo quanto as expectativas de corte de juros pelo Fed.

O arrefecimento das tensões no Oriente Médio pode ser excelente para os ativistas da paz, mas não para os gestores de hedge funds que apostam no risco geopolítico para que o petróleo atinja US$ 70 ou mais.

No fim de semana, Trump afirmou que estava pronto para negociar com Teerã, sem pré-condições, em uma tentativa de arrefecer as tensões que têm se intensificado desde que ele retirou os EUA do acordo nuclear mundial com o Irã há um ano e pressionou a República Islâmica com sanções econômicas.

O Irã negou acusações norte-americanas de que teria organizado ataques a diversos petroleiros e ativos de energia no Oriente Médio no último mês, mas admitiu ter derrubado um drone de vigilância dos EUA na semana passada, o que quase gerou uma resposta militar de Washington.

Trump tentou bancar o “cara legal” e o “durão” com o Irã.

Um dos alertas que ele fez a Teerã no fim de semana foi que, se o país não se sentar à mesa de negociação, pode ter enfrentar uma destruição “como nunca se viu”.

Isso pode ter funcionado com o México e a China, mas não com um regime linha-dura que acredita mais em sua própria doutrina do que em qualquer outra coisa.

Por isso, apesar dessas diversas tentativas de aproximação, não há qualquer sinal de que o presidente conseguirá o que quer dos iranianos.

Ao que parece, eles ficaram ainda mais ousados no enfrentamento ao presidente por perceberem que também é do interesse dele não intensificar as tensões geopolíticas no Oriente Médio – isto é, se ele quiser manter o petróleo acessível aos eleitores americanos durante sua campanha de reeleição em 2020.

Ao se tornar o pior pesadelo de Trump neste momento, a República Islâmica involuntariamente se tornou a melhor amiga dos touros do petróleo.