Commodities nesta semana: Petróleo preso à briga de Trump com Irã
Por Barani Krishnan/Investing.com
Donald Trump insiste que não quer guerra, mas o Irã não se mostra disposto a negociar, na esperança de forçar o presidente dos EUA a retirar suas sanções incondicionalmente.
Esse é um dos mais complexos cenários já enfrentados pelos traders de petróleo, apesar de o West Texas Intermediate norte-americano ter acabado de registrar sua melhor semana desde 2016, com uma valorização de 9%.
O ouro também pode se consolidar em torno de US$ 1.400 por onça, à espera de sinais do tão aguardado corte de juros do Federal Reserve (Fed).
Às vésperas das reuniões da Opep e do G20 que terão repercussão nos mercados petrolíferos, poucos traders querem se arriscar a abrir novas posições de venda a descoberto no petróleo nesta semana.
É possível que a parceria entre a Arábia Saudita e a Rússia gere novas restrições à produção petrolífera na cúpula da Opep nos dias 1 e 2 de julho. E Trump e o líder chinês, Xi Jinping, podem anunciar um acordo comercial preliminar antes da conclusão do G20, em Osaka, nesta semana.
Tempos extraordinários para os traders de petróleo
Apesar de os traders estarem vivendo tempos extraordinários no petróleo, não significa que os touros não precisam se proteger dos eventos mais inesperados.
E isso envolve a possibilidade de mais um acúmulo inesperado de estoques de petróleo nos dados semanais divulgados pela Energy Information Administration (EIA), dos EUA, e também uma possível indecisão por parte dos membros do Fed quanto ao corte de juros amplamente aguardo em julho.
Embora a EIA tenha citado uma demanda recorde de gasolina nos EUA em seu último conjunto de dados na semana passada, um incêndio em um complexo de refino na Filadélfia na sexta-feira, responsável por um quarto dos produtos combustíveis da região, pode distorcer os números de energia da agência no curto prazo.
E as margens fracas de refino ao redor do mundo, particularmente na Ásia, estão pressionando a perspectiva mundial de petróleo.
A consultoria Energy Intelligence, de Nova York, listou diversos temas importantes para o petróleo na sexta-feira, em especial, percepções negativas sobre a economia global e como elas estão impactando os preços da commodity.
O grupo afirmou que o enfraquecimento do PIB mundial intensificava os temores do mercado de que a demanda petrolífera estaria “à beira de um precipício”.
“Há uma grande razão para que o petróleo Brent esteja em queda, sem reagir a uma miríade de preocupações com o fornecimento. Alguns temem que a demanda já esteja despencando além dos dados disponíveis. Como prova, eles apontam o aumento nas exportações de produtos refinados e as margens deprimidas das refinarias na Ásia.”
“Acredita-se que o crescimento da demanda será revisado para baixo ainda mais, criando um excesso de petróleo”, declarou a Energy Intelligence, mesmo que uma forte queda na demanda global de petróleo possa não ser inteiramente realista.
“Dados positivos” podem às vezes ter um “impacto negativo” no petróleo
E não para por aí. No petróleo, “dados positivos” podem às vezes ter um “impacto negativo”.
Considere, por exemplo, a rápida melhora nos números da produção industrial ou o desempenho das vendas no varejo, que podem convencer o Fed a atrasar um corte de juros em julho. Isso pode fazer com os fundos de petróleo que esperam uma flexibilização monetária no próximo mês apontem para o enfraquecimento da demanda global de petróleo.
A ferramenta de monitoramento das taxas de juros do Fed do Investing.com precifica uma chance de 100% de redução em julho.
Mas, como três membros do Federal Reserve — o presidente Jerome Powell, o diretor do Fed de St. Louis, James Bullard, e o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic — falarão em diferentes eventos nesta semana, o impacto dos seus pronunciamentos nas discussões sobre a taxa de juros pode ser bastante grande.
Embora Powell tenha afirmado, na semana passada, que não havia muito apoio entre os diretores do Fed a um corte de juros na reunião de junho do banco central, Bullard declarou que desejava uma redução como garantia contra a desaceleração do crescimento e a inflação fraca.
Ouro continuará rompendo resistências em sua ascensão implacável?
O movimento do Fed também será crucial para o ouro, já que muitos preveem que o lingote e os futuros do metal na Comex registrarão novos picos após as máximas de quase seis anos acima de US$ 1.400.
“Se o ouro com vencimento em agosto subir e se sustentar acima de US$ 1.420, meu trabalho aponta para US$ 1.445 a US$ 1.450 como próxima zona de alvo mínima”, disse Mike Paulenoff, comentarista de ouro do site MPTrader.com.
Paulenoff disse ainda:
“Isso sustentará o argumento de que o rompimento de resistências de vários anos continuará implacável, talvez em reação à combinação de um Fed mais ameno, um dólar mais fraco, maiores expectativas inflacionárias e tensões geopolíticas acirradas.”
Trump tenta conseguir o que quer do Irã bancando o “cara legal” e o “durão”
Enquanto isso, o enfrentamento entre EUA e Irã gera um dilema tão grande para os traders de petróleo quanto as expectativas de corte de juros pelo Fed.
O arrefecimento das tensões no Oriente Médio pode ser excelente para os ativistas da paz, mas não para os gestores de hedge funds que apostam no risco geopolítico para que o petróleo atinja US$ 70 ou mais.
No fim de semana, Trump afirmou que estava pronto para negociar com Teerã, sem pré-condições, em uma tentativa de arrefecer as tensões que têm se intensificado desde que ele retirou os EUA do acordo nuclear mundial com o Irã há um ano e pressionou a República Islâmica com sanções econômicas.
O Irã negou acusações norte-americanas de que teria organizado ataques a diversos petroleiros e ativos de energia no Oriente Médio no último mês, mas admitiu ter derrubado um drone de vigilância dos EUA na semana passada, o que quase gerou uma resposta militar de Washington.
Trump tentou bancar o “cara legal” e o “durão” com o Irã.
Um dos alertas que ele fez a Teerã no fim de semana foi que, se o país não se sentar à mesa de negociação, pode ter enfrentar uma destruição “como nunca se viu”.
Isso pode ter funcionado com o México e a China, mas não com um regime linha-dura que acredita mais em sua própria doutrina do que em qualquer outra coisa.
Por isso, apesar dessas diversas tentativas de aproximação, não há qualquer sinal de que o presidente conseguirá o que quer dos iranianos.
Ao que parece, eles ficaram ainda mais ousados no enfrentamento ao presidente por perceberem que também é do interesse dele não intensificar as tensões geopolíticas no Oriente Médio – isto é, se ele quiser manter o petróleo acessível aos eleitores americanos durante sua campanha de reeleição em 2020.
Ao se tornar o pior pesadelo de Trump neste momento, a República Islâmica involuntariamente se tornou a melhor amiga dos touros do petróleo.