Opinião

Commodities nesta semana: China pode frustrar plano saudita no petróleo; ouro sobe

13 ago 2019, 13:57 - atualizado em 13 ago 2019, 14:10
Investidores estão à espera de notícias de mais problemas na economia mundial (Imagem: Arquivo Agência Brasil)

A Arábia Saudita prometeu reequilibrar os preços do petróleo, porém basta mais um aumento de estoques nos EUA ou uma elevação nas compras chinesas do petróleo iraniano para que o mercado entre em espiral de baixa.

O ouro, enquanto isso, continua próximo das novas máximas de 2019, ao redor de US$ 1.500. Os investidores estão à espera de notícias de mais problemas na economia mundial e de mais uma flexibilização do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA).

Qualquer sinal de que a China esteja reduzindo suas aquisições de petróleo norte-americano e substituindo-o pelo petróleo iraniano pode cair como uma bomba para os touros, já que os dados semanais de estoques podem disparar novamente nos Estados Unidos. Na semana passada tivemos um exemplo claro do que a queda nas exportações petrolíferas dos EUA pode significar para os estoques: a redução de 710.000 barris em relação às exportações da semana anterior contribuiu enormemente para o acúmulo de 2,4 milhões de barris no estoque.

Dominick Chirichella, diretor de risco e negociação do Instituto de Gestão Energética, em Nova York, resumiu sucintamente o movimento da semana passada no petróleo, observando que o poderoso repique dos últimos dois dias foi resultado da correção do mercado de algumas das preocupações exageradas com a demanda, mesmo diante do fato de que temores de uma recessão causada pela guerra comercial entre EUA e China tenham pressionado os preços para baixo na semana.

Mercado mais focado na demanda do que na geopolítica

Em uma nota emitida nesta segunda-feira, Chirichella escreveu:

“A ameaça de batalha se arrasta há meses, e muitos riscos geopolíticos estão impactando a oferta, em contraste com o risco de desaceleração da economia mundial, que está fazendo o mercado se concentrar principalmente na demanda.”

Gráfico 60 Min WTI - Powered by TradingView
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O petróleo West Texas Intermediate, negociado em Nova York, se valorizou cerca de 7% nos últimos dois pregões, e o britânico Brent ganhou quase 4% depois que a Bloomberg noticiou, na quinta-feira, que a Arábia Saudita planeja manter suas exportações petrolíferas abaixo de 7 milhões de barris por dia (mbpd) a partir de setembro.

Apesar do repique tardio, o WTI encerrou a semana com queda de 2%, a US$ 54,50 por barril, na medida em que a desvalorização do iuane chinês continuou sendo um fator relevante no mercado. O Brent perdeu mais de 5% na semana, fechando a US$ 58,53.

Se a Agência de Informações Energéticas dos EUA (EIA, na sigla em inglês) divulgar mais um conjunto de dados baixistas nesta semana e a China aprontar mais uma das suas aos EUA, a questão é se o otimismo com os cortes da Arábia Saudita e da Opep continuará sustentando os preços do petróleo.

O risco saudita precisa ser visto em perspectiva

Para responder essa questão, é necessário colocar em perspectiva a ameaça saudita à oferta.

Para reduzir suas exportações, a estatal petrolífera Saudi Arabian Oil Co., conhecida como Aramco, diminuirá as alocações para clientes em todas as regiões em 700.000 barris por dia no total em setembro.

Em momentos positivos, o reino consegue produzir até 10,3 mbpd. Agora certamente não é um desses momentos.

Para clientes da América do Norte, o reino enviará cerca de 300.000 barris por dia a menos do que o carregamento previsto para setembro.

A redução para clientes europeus será ainda maior, e também haverá cortes modestos para compradores asiáticos, embora não se tenham dado maiores detalhes.

Como maior produtora da Opep, a Arábia Saudita também está confiando no resto do cartel para reduzir a oferta total além do 1,2 mbpd com que o grupo se comprometeu até março de 2020.

É importante notar que grande parte do impacto do movimento da Arábia Saudita/Opep será sentido a partir de setembro, embora parte da ação possa ser sentida no conjunto de dados semanais da EIA em meados de agosto.

Retorno do petróleo iraniano pode causar um crash no mercado

Mas o movimento da China em direção ao petróleo iraniano provavelmente será sentido mais rápido.

A Reuters noticiou, na semana passada, que a China continuou importando petróleo iraniano em julho pelo segundo mês consecutivo, depois do fim das isenções concedidas às sanções norte-americanas.

De acordo com a reportagem, entre 4,4 milhões e 11 milhões de barris de petróleo iraniano foram descarregados na China no mês passado, ou de 142.000 a 360.000 bpd.

Na última contagem, o Irã estava produzindo cerca de 100.000 bpd apenas, contra os 2,5 mbpd que produzia há cerca de dois anos. Com o apoio da China, o Irã pode rapidamente aumentar sua produção, causando não só dores de cabeça políticas a Trump, mas também sérios obstáculos ao petróleo.

O Bank of America alertou que os preços do Brent e do WTI poderiam despencar US$ 30 por barril se a China aumentasse as aquisições de petróleo iraniano.

Chirichella também notou outro fator ignorado pelos investidores do petróleo na semana passada e que poderia ocasionar mais problemas: dados de uma demanda de petróleo deprimida, pela Agência Internacional de Energia (AIE), sediada em Paris.

A AIE, que assessora grandes economias, reduziu as perspectivas de crescimento de demanda petrolífera neste ano e no próximo, além de alertar que pode rebaixar as estimativas ainda mais se o conflito comercial entre EUA e China se arrastar. O consumo mundial aumentou cerca de 520.000 barris por dia de janeiro a maio, quase metade do ritmo visto no ano anterior e o mais baixa para o período desde 2008, declarou a agência.

A AIE reduziu suas estimativas de crescimento da demanda petrolífera mundial em 2019 em 100.000 barris por dia, para 1,1 milhão por dia, sugerindo uma taxa de crescimento de cerca de 1,1%. A perspectiva para 2020 foi reduzida em 50.000 barris por dia, para 1,3 milhão por dia, ou uma taxa de 1,3 %.

Mas nem todos os dados do petróleo são baixistas.

Um fator positivo para o mercado, na semana passada, foi a o declínio na atividade de perfuração nos EUA, onde a contagem de sondas petrolíferas teve queda de 6 plataformas, para 764, durante a semana encerrada em 9 de agosto, tocando a mínima de 18 meses.

Investidores do ouro miram novas máximas em 2019

Gráfico Semanal Ouro
Gráfico Semanal OuroGráfico Semanal Ouro

No caso do ouro, uma semana de flexibilização pelos bancos centrais mundiais para proteger as economias da desvalorização do iuane deu esperanças de ganhos aos investidores do ouro, apesar do recuo do mercado a partir das máximas de seis anos.

O ouro spot, que reflete as negociações em lingotes, deslizou para baixo da importante marca altista de US$ 1.500 na sexta-feira, fechando a US$ 1.497,34 por onça.

Mas os futuros do ouro fecharam a US$ 1.508,50, uma queda de apenas US$ 1.

Na semana, os futuros do ouro subiram 3,5%, e o ouro spot registrou seu maior ganho em sete semanas, com valorização de 4%.

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