Opinião

Commodities nesta semana: algoritmos sustentam petróleo; ouro segue como proteção

18 nov 2019, 13:54 - atualizado em 18 nov 2019, 14:05
Petrobras Petróleo
Para o colunista as manchetes sobre o acordo comercial sino-americano já devem estar cansando os traders,mas não suas máquinas (Imagem: REUTERS/Pilar Olivares)

Por Barani Krishnan/Investing.com

As manchetes sobre o acordo comercial sino-americano já devem estar cansando os traders, mas não suas máquinas.

Modelos de negociação algorítmica baseados em manchetes continuarão atentos a palavras como “perto”, “muito perto” e “avançando bem” relacionadas às tratativas comerciais entre EUA e China nesta semana, as quais servirão de sinais para continuar comprando no petróleo.

Para um mercado que deveria ter caído com as notícias sobre os altos volumes de oferta, na semana passada, o petróleo na verdade acabou subindo após uma nova histeria entre as autoridades da Casa Branca com o acordo comercial.

WTI 300 Minutos – Powered by TradingView

petróleo norte-americano West Texas Intermediate (WTI) fechou a semana com alta de 0,8%, a US$ 57,72 por barril, após atingir a máxima de sete semanas a US$ 57,97. Já o britânico Brent se valorizou 1,3% na semana, fechando a US$ 63,30, depois de também atingir o pico de sete semanas a US$ 63,64.

No início do pregão asiático desta segunda-feira, tanto o WTI quanto o Brent se valorizavam, ampliando o rali de sexta-feira, depois que a imprensa chinesa noticiou que Pequim e Washington haviam tido “conversas construtivas” sobre o comércio em um telefonema de alto nível no sábado.

Antes disso, o Secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross, fez os preços do petróleo bruto dispararem no final da semana ao dizer à Fox Business que havia uma probabilidade bastante alta de a Casa Branca fechar um acordo final com a China para a primeira fase das tratativas. “Estamos discutindo os últimos detalhes”, declarou Ross.

Ross e seu colega da Casa Branca, Larry Kudrow, cujo trabalho é assessorar o presidente dos EUA, Donald Trump, sobre a economia, também ajudou a fazer com que os três principais índices acionários norte-americanos fechassem em patamares históricos em Wall Street, na sexta-feira.

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“Não existe nada parecido com uma histeria como essa”

John Kilduff, sócio fundador do hedge fund de energia Again Capital, de Nova York, declarou que praticamente todos os mercados – inclusive os de câmbio, títulos e commodities – compraram a ideia de que um acordo comercial havia sido fechado, e apenas manchetes com palavras como “sem acordo”, “sem consenso” e “acordo atrasado” poderiam frustrar o rali.

Segundo Kilduff:

“Não existe nada parecido com uma histeria como essa atualmente. As pessoas podem se mostrar cautelosas com esse mercado de alta, mas não as máquinas, que estão programadas para seguir a manada.”

“Os algoritmos estão lendo e comprando, porque foram programados para isso. Evidentemente, eles têm limites técnicos e de perdas, que só são acionados quando a tendência definitivamente se move na direção contrária. E não há qualquer sinal de que isso esteja acontecendo ou que as autoridades do governo de ambos os lados desejem que isso aconteça.”

O que acontecerá se não houver nenhum acordo até 15 de dezembro?

Na falta de um acordo, podemos presumir que Ross e Kudrow continuarão fazendo suas aparições semanais na Fox para manter viva a esperança de um acordo iminente. Essa situação provavelmente se estenderá até 15 de dezembro, prazo final para a aplicação das tarifas sobre a China, como ameaçou Trump.

Nessa data, pode ser as tarifas previstas sejam mais uma vez postergadas.

E mais conversas.

Enquanto isso, os preços do petróleo podem continuar subindo.

Dados divulgados na sexta-feira mostraram que os gestores financeiros aumentaram suas posições líquidas compradas em futuros e opções de petróleo nos EUA, até 12 de novembro, elevando a posse combinada nas posições desses derivativos em Nova York e Londres em 39.995 contratos, para 169.386.

A TD Securities declarou que o otimismo com o acordo comercial entre EUA e China certamente foi o vetor da disparada nas compras. Mas o grupo também expressou preocupação com o acúmulo cada vez maior de estoques nos Estados Unidos.

Mas a oferta petrolífera já está crescendo

A corretora declarou ainda:

“Suspeitamos que a exposição se inclinará para a venda, diante da perspectiva de maiores ofertas e preços menores no primeiro semestre de 2020.”

Em outras palavras, isso pode acontecer a qualquer momento entre janeiro e junho. No curto prazo, já há sinais de maior oferta. Os últimos dados divulgados pela Agência de Informações Energéticas dos EUA (EIA, na sigla em inglês) sobre os estoques petrolíferos vieram um terço acima das expectativas do mercado.

A EIA também citou o acúmulo semanal de gasolina de cerca de 2 milhões de barris, contra uma queda de um pouco mais de 1 milhão prevista pelo mercado.

Se isso não fosse o bastante, a Perspectiva Energética de Curto Prazo da EIA, publicada separadamente, afirmou que a produção petrolífera norte-americana deve atingir o recorde de 13 milhões de barris por dia (bpd) neste mês e crescer mais do que o esperado em 2019 e 2020. O relatório semanal já estima uma produção de 12,8 milhões de bpd.

Para aumentar ainda mais o grau de incerteza no mercado, a EIA estimou que o crescimento da oferta de países não membros da Opep poderia alcançar 2,3 milhões de bpd no ano que vem, em comparação com o 1,8 milhão de 2019, citando a produção dos Estados Unidos, Brasil, Noruega e Guiana.

No entanto, em vez de prestar atenção a esses números, os traders de petróleo preferiram aceitar a sugestão da Opep de que a produção de shale oil nos EUA na verdade estaria caindo.

O jogo da Opep

A premonição da Opep sobre o shale veio do Secretário-Geral da organização, Mohammed Barkindo, que disse em uma entrevista à CNBC que, após conversar com “diversos produtores, especialmente na bacia do shale, percebeu que há uma preocupação cada vez maior de que a desaceleração gradativamente se intensificasse”.

Segundo Mohammed Barkindo as empresas “revelaram estar mais otimistas, apesar da variedade de adversidades que estão enfrentando (Imagem: Stefan Wermuth/Bloomberg)

Barkindo disse ainda que essas empresas “revelaram estar mais otimistas, apesar da variedade de adversidades que estão enfrentando”.

Na verdade, o que a Opep precisa fazer é resolver a persistente superprodução de diversos membros do cartel, como Nigéria e Iraque – sem falar na Rússia, que não faz parte do grupo –, tornando difícil que a líder de facto da organização, a Arábia Saudita, cumpra os cortes de 1,2 milhão de bpd acordados há um ano.

Com a aproximação da megavenda de ações da Aramco, petrolífera estatal saudita, o reino prefere fazer com que o atual pacto de produção seja respeitado e manter os preços elevados de alguma forma, sem ter que recorrer a mais cortes.

Os membros da Opep sabem que, quando se reunirem em dezembro, muito provavelmente não haverá outra decisão de aprofundamento dos cortes. Mas se isso se tornar um mantra, pode pressionar os preços para baixo, principalmente se não houver um acordo entre EUA e China. Com isso, o cartel menospreza o shale, e o mercado compra essa ideia.

O ouro pode manter o posto de ativo de proteção clássico

No caso do ouro, o metal atuou mais como aposta contrária ao otimismo sino-americano, com os preços derrapando na semana passada – ao invés de despencarem – após as manifestações de Ross e Kudlow.

Já os futuros do ouro com entrega em dezembro na Comex de Nova York fecharam a US$ 1.468,50 por onça, uma queda de 0,3% no dia, mas uma alta semanal de 0,4%.

Já o ouro spot, que rastreia as negociações em tempo real do lingote, fechou o pregão de sexta-feira em Nova York a US$ 1.467,86, uma queda de 0,1% no dia, mas uma alta semanal de 0,6%.

Ouro 300 Minutos – Powered by TradingView

O metal amarelo perdeu o patamar altista de US$ 1.500 no início deste mês, depois que Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), sugeriu que o corte de juros de 25 pontos-base realizado em outubro seria o último do ano.

A TD Securities afirmou que, apesar de alguns fundos de investimento em ouro terem liquidado parte das suas posições de compra, “é pouco provável que as máquinas continuem pressionando na venda, já que as posições em aberto seguem na máxima histórica”.

“Nosso ponto de entrada estimado na compra continua na faixa de US$ 1440/onça, o que sugere que um rompimento para baixo dessa faixa pressionaria ainda mais os preços por causa do declínio nas posições em aberto.”