China, atrasos e guerras: Mosaic, MB Agro e Agrinvest listam tendências para commodities e fertilizantes
Nesta terça-feira (27), acontece o 11º Congresso Brasileiro de Fertilizantes (CBFer), realizado pela Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) em São Paulo. No primeiro painel do evento “A Economia Mundial e as expectativas para Oferta e Demanda Global de Fertilizantes” repercutiu o cenário atual de preços para commodities e insumos.
Durante sua apresentação no painel, Alexandre Mendonça de Barros, sócio da MB Agro Consultoria, disse ver um novo ponto de equilíbrio, parecido com o que foi visto antes da pandemia.
“A pandemia resultou em preços espetaculares, como já havíamos vistos entre 2012 e 2024, com alta para todos os grãos, que empurraram os preços das proteínas animais, com os insumos apresentando valores significativos. De um ano pra cá, temos visto uma reversão nos preços dos grãos, que são os grandes formadores de preços de fertilizantes. Ainda assim, há valores elevados para café, laranja e até o açúcar, mas os mercados de soja e milho no Brasil ainda dominam o mercado, por ser a parte mais representativa “, disse.
Tendências para commodities e fertilizantes
Barros cita que algumas questões estão afetando os mercados, entre elas:
- A preocupação sobre a desaceleração da economia no mundo;
- Possível nova guerra comercial entre Estados Unidos e China, algo visto na última eleição de Trump;
- Ganhos de produtividade, aumento de área e boa oferta de grãos no mundo;
- Alto custo do capital e endividamento agrícola;
- Os riscos das guerras no contexto agrícola.
“Vemos um viés de baixa para soja, caso se confirme esse volume robusto de safra do Brasil, em torno de 165-169 milhões de toneladas. Nós construímos um potencial produtivo para tanto. Vamos crescer em área plantada em torno de 500-600 mil toneladas, ainda que pareça loucura nesse cenário de preços mais baixos. Para o milho, espero uma retração na 1ª safra e uma safrinha igual ou melhor que o ano passado, e espero que os preços reajam mais a frente”, comenta.
O sócio da MB Agro diz que a queda nos preços gera um recuo no estímulo da demanda de fertilizantes no Brasil e no mundo, já que as margens tendo recuado também para os produtores dos EUA. Para ele, forçar a demanda de adubo no cenário global e puxar os preços para cima não é um fundamento muito sólido.
“Há uma queda maior nos preços de fertilizantes do que a média dos preços dos alimentos da FAO. Isso acontece porque temos visto uma queda nos preços dos grãos, mas valores muito elevados para as carnes no mercado global, pelas boas margens, algo que deve perdurar nos próximos anos e portanto, temos uma demanda positiva para grãos, acho que há uma leve tendência de correção para os preços no ano que vem. Fora isso, há uma demanda por biocombustíveis no mundo”, vê.
Oferta e demanda global de fertilizantes
Bruce Bodine, presidente e CEO da Mosaic, maior produtora mundial de fosfato concentrado e potássio, salientou a missão da companhia de ajudar o mundo a produzir alimentos.
“Temos uma presença expressiva aqui e vemos o Brasil com uma posição importante para segurança alimentar global. Estamos bastante otimistas com o nosso mercado e há alguns ventos favoráveis para commodities, como a transição energética, a demanda por energia limpa, assim como o crescimento global da população, que deve atingir 9 bilhões de pessoas até 2050, o que implica na necessidade de produzirmos mais alimentos”, cita Bodine.
Para isso, o CEO ressalta que será necessário o aumento da produtividade global, além de novas terras para novas safras, assim como abraçar novas tecnologias.
“Vemos um crescimento da demanda por fertilizantes fosfatados nas próximas décadas, com um suprimento restrito por conta da China, que era o maior exportador global, já que eles optaram por manter seus fertilizantes no país pela sua nova política de segurança alimentar. Apesar disso, Rússia e Canadá crescem em produção, o que no fim da década deve representar um equilíbrio nos preços”.
A bússola do produtor rural
Jeferson Souza, analista de fertilizantes na Agrinvest Commodities, que se diz um entusiasta do mercado, explica que sempre olha para insumos e grãos ao mesmo tempo.
“A moeda do produtor rural é o grão e a relação de troca é a sua bússola para tomar decisões. Não existe caro ou barato, e sim o que seu poder de compra proporciona. Para 2024/2025, safra que começa a ser plantada em duas semanas, os números apontam que o produtor está comprando insumos e vendendo sua safra mais tarde. Quer dizer que o produtor está fazendo suas contas, mas não está formando sua receita, algo que não funcionou muito bem no passado”, diz.
De acordo com os dados da MB Agro, 80% da produção brasileira ainda não foi vendida, algo que impacta a demanda de fertilizantes do Brasil.
‘Temos 60% da demanda por milho safrinha aberta, um número elevado para o período. Há essa incerteza para logística, que sempre pesa quando o produtor toma decisões mais tarde, e esse ano acredito que foi potássio (K) salvou as lavouras. A combinação entre P e K (fósforo) acabou não pesando no bolso do produtor pelo potássio. Tivemos relações de troca em junho de 2023 abaixo da média, ou seja, o produtor que comprou com 14 meses de antecedência teve uma relação de troca interessante”.
Souza explica que pelo viés negativo de preços da soja, o atraso nas negociações por parte do produtor trazem incertezas para o próximo ano.