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Comercializadora de energia Principal muda gestão após briga de sócios na Justiça

16 set 2019, 18:03 - atualizado em 16 set 2019, 18:03
O movimento acontece na sequência de uma turbulência no setor de comercialização vista mais cedo no ano, quando algumas “tradings” registraram problemas para cumprir compromissos (Imagem: Pixabay)

A comercializadora de eletricidade Principal Energia anunciou mudanças na gestão nesta segunda-feira, após uma briga entre sócios da empresa que pertence ao Grupo Delta Energia levar à saída de executivos e parar nos tribunais.

A disputa teve origem em queixas de alguns sócios sobre o valor a ser embolsado por eles depois de terem sido retirados da administração da comercializadora, em meio a acusações da Delta de que a Principal não teria seguido práticas de gestão de risco da controladora, expondo o grupo a possíveis perdas no mercado elétrico, segundo documentos judiciais.

O movimento acontece na sequência de uma turbulência no setor de comercialização vista mais cedo no ano, quando algumas “tradings” registraram problemas para cumprir compromissos ao serem surpreendidas por uma disparada inesperada dos preços spot da eletricidade no primeiro trimestre, em movimento que levantou preocupações sobre riscos no segmento em geral.

“Informamos que Cassiano Agapito, Jayme Abras, Marcelo Ambra, Vitor Pontes e Diego Velloso atuaram em desacordo com os interesses sociais e as políticas do Grupo Principal Energia, não mais participando de nenhuma atividade da administração e gestão”, disse em nota à Reuters a Principal, que faz parte do Grupo Delta.

“Reafirmamos os nossos compromissos perante o mercado de acordo com as melhores práticas, políticas e valores”, acrescentou a comercializadora de energia, que disse agora ser liderada pelos sócios Marconi Araújo e Richard Fazzani.

O time dos agora ex-sócios, que atuaram antes na comercializadora do banco BTG Pactual, tinha um total de cerca de 25% da Principal, mas na prática Cassiano Agapito respondia pelo dia-a-dia da empresa, segundo afirmações da Delta no processo sobre o caso.

“Em determinado momento, contudo, Cassiano e os demais sócios minoritários passaram a adotar ações que extrapolavam a política de risco determinada pelos sócios e, portanto, colocavam as sociedades em situação de perigo”, acusa a Delta Energia em suas alegações à Justiça.

A ação judicial foi aberta originalmente por quatro dos ex-sócios –eles alegaram que Agapito foi “ilegalmente destituído do cargo de administrador” pela Delta, a quem acusam de buscar restringir seu acesso a informações contábeis e financeiras da Principal.

As comercializadoras não divulgam balanços, mas fontes do mercado estimam que tanto Delta quanto Principal têm faturamento acima de 1 bilhão de reais por ano, com a segunda companhia sendo mais “ousada” em suas operações.

A Principal negociou, até junho de 2019, a compra de cerca de 1 gigawatt médio por mês em contratos de eletricidade, contra cerca de 500 megawatts médios mensais da Delta, segundo levantamento com dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).

As líderes em “trading”, Engie e Votener, da Votorantim, têm negociado compras de 2,8 gigawatts e 2 gigawatts médios até o momento no ano, de acordo com esses dados.

Procurado, Agapito recusou-se a comentar sobre a disputa judicial. Não foi possível falar com os outros ex-sócios da Principal.

De acordo com uma fontes do setor, no entanto, Agapito e seus parceiros estão preparando a abertura de uma nova comercializadora, provavelmente para 2020 e sob o nome “Gold”.

A saída dos ex-sócios da gestão da Principal foi oficializada a clientes nesta segunda-feira, disse uma segunda fonte, que teve acesso a um comunicado da empresa sobre o tema.

Acusações pesadas

Embora oficialmente não entre em detalhes sobre o caso, a Delta Energia fez pesadas acusações contra os ex-sócios na disputa judicial em andamento nos tribunais.

A empresa apresentou mensagens que teriam sido trocadas com Agapito, nas quais um dos sócios da Delta, Rubens Parreira, queixa-se das ações do executivo no comando da Principal.

“Estou muito preocupado. Falamos amanhã. Vc sempre falou que tinha um controle de risco… compra = venda. Mais uma vez uma surpresa negativa”, afirmou Parreira nas mensagens.

“Por Deus. Eu realmente não consigo entender. Conversamos por uma hora e eu falei que devíamos comprar energia… você sabe que seu limite de risco está muito acima de 20 MM (milhões)… se o mercado não for a seu favor vc vai zerar o resultado desse ano… segundo ano consecutivo… não sei mais o que fazer!!!!!”, afirmou ele em outras mensagens, que constam do processo judicial.

No meio da disputa, os ex-sócios acusaram a Delta de “má-fé” por exigir assinatura de termo de confidencialidade para apresentação de seus resultados a eles, o que disseram ser forma de “evitar acesso e a análise cautelosa das informações”, de acordo com o processo.

Eles disseram sofrer pressão da Delta para vender suas fatias na Principal “por valor irrisório, tentando se aproveitar de uma proposital assimetria de informações”.

Na ação, a Delta disse que pediu o termo de confidencialidade porque os ex-sócios atuam no mercado de energia e são “acionistas e administradores de empresas concorrentes”.

Não ficou imediatamente claro se as operações questionadas pela Delta geraram prejuízos à Principal.

Segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), as disputas entre os sócios e ex-sócios não impactaram o cumprimento de obrigações pelas comercializadoras.

Tanto a Delta quanto a Principal “estão operando normalmente”, sem inadimplência no mercado, disse a CCEE em nota à Reuters.

Até o momento em 2019, a CCEE já desligou do mercado elétrico cinco comercializadoras por descumprimento de obrigações financeiras, sendo duas delas por inadimplências registradas anteriormente.

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