Comentários de Lula sobre BC indicam um elevado nível de desinformação do presidente, aponta analista
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar a autonomia do Banco Central e sinalizou que pode reverter a independência da autoridade monetárias com o fim do mandato de Roberto Campos Neto em dezembro de 2024.
“Quero saber do que serviu a independência. Eu vou esperar esse cidadão [Campos Neto] terminar o mandato dele para a gente fazer uma avaliação do que significou o Banco Central independente”, disse Lula em entrevista à RedeTV!, na noite de quinta-feira (2).
Ao ser questionado diretamente sobre o fim da autonomia, Lula disse que pode acontecer, mas que isso é irrelevante para ele. “Isso não está na minha pauta. O que está na pauta é a questão da taxa de juros.”
Lula criticou o atual patamar da Selic, que está em 13,75% ano desde agosto do ano passado. Este é o maior patamar da taxa básica de juros desde janeiro de 2017 e deve continuar assim por um bom tempo.
O presidente afirmou que não existe razão para taxa de juro estar em 13,75% e que começará a cobrar o Banco Central.
“O presidente do Banco Central tem que explicar por que aumenta juro se não tem inflação de demanda”, afirmou Lula, que alega que inflação de 4,5% ou 4,0% no Brasil “é de bom tamanho”.
Lula vs Banco Central
Essa não é a primeira vez que o presidente critica o Banco Central. No começo do mês, em entrevista à GloboNews, Lula afirmou que “a inflação está do jeito que está e o juro está do jeito que está” mesmo com a autonomia da autoridade monetária.
Na ocasião, ele também questionou a meta de inflação. “Você estabeleceu uma meta de inflação de 3,7% [a meta estipulada para 2023 é de 3,25%] e quando faz isso é obrigado a arrochar mais a economia para poder atingir a meta. Por que não 4,5%, como nós fizemos?”
Para Rafael Passos, analista da Ajax Capital, essa nova entrevista de Lula reforça que os comentários indicam um elevado nível de desinformação do presidente sobre o Banco Central.
“São declarações incabíveis que aumentam a incerteza em torno das metas atuais, o que provoca a continuidade da elevação das expectativas de inflação e a manutenção de juros elevados. Mais uma vez, os ativos devem sofrer forte deterioração nesta sessão”, afirma.
Segundo Passos, destaca que uma maior coordenação das políticas fiscal, parafiscal e monetárias aumentariam as chances de o Brasil praticar metas de inflação semelhantes a outras economias emergentes.
O Chile, Colômbia e México, por exemplo, adotam uma meta de 3%, com um intervalo de tolerância de 1 ponto percentual, enquanto Peru tem uma meta de 2%.
“Lula desconhece as verdadeiras causas da alta inflação, que estão relacionadas com os efeitos da pandemia tanto do lado da demanda, como da oferta. É um fenômeno global, que obrigou a maioria dos bancos centrais a apertarem fortemente suas políticas de juros”, afirma.
Ele também aponta que uma possível elevação das metas de inflação por parte do Conselho Monetário Nacional (CMN) resultará em juro nominal de equilíbrio maior e no aumento do imposto inflacionário sobre os mais pobres, que Lula prometeu resgatar.