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Combustíveis: Reação a reajuste da Petrobras (PETR4) deixa detentores de títulos receosos

14 mar 2022, 16:58 - atualizado em 14 mar 2022, 17:00
Petrobras
Reação a reajuste da Petrobras (PETR4) deixa acionistas receosos (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

A decisão da Petrobras (PETR3PETR4) de aumentar os preços dos combustíveis contra a vontade do governo brasileiro está proporcionando pouco alívio aos seus pressionados títulos, já que os investidores continuam preocupados com a interferência política na empresa.

Os títulos em dólar da estatal tiveram desempenho inferior ao das ações desde que a empresa anunciou um aumento agressivo preços do diesel e da gasolina para os distribuidores na semana passada.

É uma repetição do padrão visto para o ano: enquanto as ações preferenciais subiram 13%, os títulos de 100 anos da empresa caíram cerca de 10%, oscilando em torno de US$ 0,89, o nível mais baixo desde maio de 2020.

Os títulos da Petrobras foram atingidos este ano pelas expectativas de aumentos de juros nos EUA, que minaram o apetite por dívida de mercados emergentes. A alta nos preços do petróleo desencadeada pela invasão da Ucrânia fez pouco para impulsionar os papéis, já que os investidores se preocupam com as consequências dos preços mais altos para a empresa.

A gigante do petróleo, que estava sob pressão política para arcar com parte do custo do aumento do petróleo bruto, viu as críticas se intensificarem desde seu anúncio na quinta-feira.

O presidente Jair Bolsonaro disse no fim de semana que a empresa não pode trabalhar exclusivamente visando o lucro num mundo em crise, segundo os jornais. O presidente Câmara dos Deputados, Arthur Lira, chamou o anúncio de “um tapa na cara”.

“As preocupações do governo com os aumentos limitarão a vantagem dos títulos da Petrobras e serão monitorados no futuro”, disse Jeff Grills, chefe de dívida de mercados emergentes da Aegon Asset Management, que administra cerca de US$ 466 bilhões.

No fim de semana, a Petrobras defendeu o aumento de preços nas redes sociais, citando preocupações de que poderia haver desabastecimento, já que a empresa não é a única importadora que opera no país. Antes do anúncio, a Petrobras e a administração de Bolsonaro realizaram reuniões para definir uma estratégia para evitar que os preços subissem.

Sem um acordo, a empresa aumentou os preços do diesel para distribuidores em 25% e da gasolina em 19% — o primeiro ajuste desde janeiro, antes da guerra na Ucrânia elevar os preços do petróleo acima de US$ 100 o barril.

“Embora o aumento de preços seja positivo para os ganhos e perfil de crédito da Petrobras, também aumenta o risco de uma resposta do consumidor e política”, disse Jaimin Patel, analista de crédito sênior da Bloomberg Intelligence.

Horas após o aumento de preços, os parlamentares aprovaram um projeto de lei que reduz os impostos federais para diesel e gás de cozinha até o final do ano e também muda a forma como o ICMS é cobrado sobre combustíveis.

Embora Bolsonaro tenha prometido não intervir, os investidores continuam céticos de que a empresa esteja livre de interferência política em um ano eleitoral em que os custos de alimentos, energia e gasolina são questões-chave na campanha.

Bolsonaro e seu principal oponente nas eleições de outubro, Luiz Inácio Lula da Silva, criticaram a estatal por cobrar preços internacionais do combustível. Bolsonaro, que está atrás nas pesquisas, chegou a alertar para o risco de greve dos caminhoneiros em razão do aumento dos preços do diesel.

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Sob pressão

As idas e vindas ficaram amargas e Bolsonaro chegou a ponto de criticar publicamente o CEO Joaquim Silva e Luna por seu salário. Em fevereiro de 2021, Bolsonaro removeu Roberto Castello Branco do mesmo cargo após semanas de críticas semelhantes sobre os preços dos combustíveis, o que agitou os mercados.

Bolsonaro, que está preocupado com o impacto dos preços mais altos dos combustíveis em sua candidatura à reeleição, contava com Luna para manter os valores por mais tempo, segundo três pessoas familiarizadas com o assunto.

Enquanto o presidente está irritado com o CEO, ele também tem medo de demitir o militar, acrescentaram as pessoas, pedindo para não ser identificadas por se tratar de informações que não são públicas.

Luna disse que não vai deixar o comando da empresa agora, apesar das críticas políticas que vem recebendo depois do reajuste de preços dos combustíveis, disse a Reuters citando uma entrevista. O vice-presidente Hamilton Mourão disse na segunda-feira que o CEO é “resiliente” e não deve renunciar. “Ele é resiliente, sempre foi”, disse ele a jornalistas. “Ele pode lidar com a pressão.”

Embora a Petrobras tenha endurecido seus estatutos nos últimos anos para se proteger da intervenção governamental, a administração ainda pode congelar os preços em resposta à guerra sem o risco de repercussões legais dos investidores, disse Marcelo Godke, sócio do Godke Advogados em São Paulo, que é especialista em direito societário brasileiro.

O reajuste da semana passada não oferece garantia de que a empresa continuará igualando as taxas internacionais. Consultores da indústria Rystad Energy disseram que o petróleo pode atingir US$ 240 o barril durante o verão no Hemisfério Norte se os países ocidentais continuarem a sancionar as exportações de petróleo da Rússia.

“A Petrobras pode levar em consideração outros fatores além de preço e lucro, e isso está na lei”, disse Godke. “Se sua única preocupação são os lucros, você não investe em empresas estatais ou controladas pelo Estado.”