Combustíveis: Com a queda do petróleo, Petrobras (PETR4) foi precipitada em aumentar preços?
Há uma semana, a Petrobras (PETR3; PETR4) anunciava o aumento dos preços da gasolina e do diesel nas refinarias em um cenário de altas históricas nas cotações do petróleo no mercado internacional.
Tudo por conta do conflito entre a Rússia e Ucrânia, que teve início no final de fevereiro e já dura 20 dias. Desde o início da guerra, o preço do barril da commodity foi para as alturas, e chegou a bater quase US$ 140.
A reação da Petrobras foi anunciar o repasse dessa elevação para os combustíveis. A medida foi duramente criticada, inclusive pelo presidente da República Jair Bolsonaro (PL), que chegou a dizer que praticar a paridade do preço internacional com o petróleo naquele patamar era inviável e não podia continuar acontecendo.
O comportamento da commodity, no entanto, tem sido pouco ou nada previsível. Exemplo disso foi a queda nos preços um dia após o presidente Joe Biden anunciar um embargo ao petróleo russo como forma de retaliação ao país de Vladimir Putin. As expectativas eram de uma alta considerável, que não aconteceu.
Passada uma semana, os preços caíram. O barril ainda está caro, de fato, mas encerrou o dia ontem (15), por exemplo, abaixo dos US$ 100. Por volta das 15h desta quarta-feira (16), o petróleo Brent caía 1,39% , cotado a US$ 98,52, enquanto o WTI caía 0,66%, cotado a US$ 95,80.
A cobrança em relação à Petrobras foi imediata. Bolsonaro disse ainda ontem (15) esperar que a estatal siga a redução do preço internacional do barril, durante discurso no Palácio do Planalto.
Nesta quarta-feira (16) ele chegou a dizer, durante entrevista ao SBT, que não tem poderes sobre a empresa, que poderia ser “privatizada hoje”.
“A Petrobras se transformou na Petrobras Futebol Clube, onde o clubinho lá de dentro só pensa neles, jamais pensam no Brasil”, acrescentou.
Subiu cedo demais?
Para Helder Queiroz, ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a questão sobre o reajuste não é tão simples e, tampouco, “mecânica”.
Na opinião do especialista, o reajuste está mais ligado à desorganização no processo de precificação dos combustíveis e à falta de transparência por parte da companhia.
“Antes desse aumento, a Petrobras tinha ficado quase dois meses sem reajustar os preços, mas não avisou ninguém. Ano passado, por exemplo, houve situações da Petrobras reajustar os preços até semanalmente. Começou a dar a entender que queria mudar ao menos a periodicidade, mas isso é feito sem que haja transparência sobre critérios”.
O especialista afirma que os efeitos do último reajuste trouxeram impactos políticos e macroeconômicos “terríveis”, que afetam a competitividade da economia brasileira.
“Os mercados estão muito nervosos. São dois preços que falamos: hoje, o barril a US$ 100, e na semana passada, a US$ 139. É uma diferença de 40%. Volatilidade sempre teve, mas a amplitude é muito grande”.
O ex-diretor da ANP diz que a pressão para que os preços caiam vai começar, mas é algo que não deve acontecer tão imediatamente. “Com a tendência de alta, você repassa o aumento ao longo da cadeia como um foguete. Quando começa a cair, cai como uma pena, devagarinho”.
Petróleo a US$ 200?
Quando Biden estava prestes a anunciar as sanções ao petróleo russo, o vice-primeiro-ministro Alexander Novak declarou que os preços poderiam subir para mais de US$ 300 por barril.
É difícil pensar se isso pode de fato acontecer, avalia Maurício Canedo, pesquisador do Centro de Economia e Petróleo da FGV e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
É algo que depende muito da forma como o conflito entre os países irá se desenrolar e se vai durar muito mais tempo. Ele lembra, no entanto, que o petróleo já foi de US$ 30 a US$ 130, então tudo é possível, ainda que não se saiba se um aumento acima disso é provável.
Em meio a uma realidade bastante incerta, o governo vem cogitando mecanismos para tentar amortecer de alguma forma esse aumento no bolso do brasileiro. Uma das possibilidades que está sendo avaliada pelo governo é subsidiar os combustíveis por três meses, em um movimento que pode custar até R$ 30 bilhões aos cofres públicos.
Segundo o último levantamento da ANP, a Bahia é hoje o estado brasileiro com o litro mais caro da gasolina comum, levando em conta o preço médio do combustível.
O estado de Rui Costa (PT) lidera o ranking com o litro a R$ 7,691, seguido pelo Rio Grande do Norte, a R$ 7,150. Para o país, o valor médio é de R$ 6,683.
“O que alguns países fazem é ter algum mecanismo para tentar reduzir a volatilidade [dos preços] ou evitar aumentos muito bruscos dos combustíveis e de outros derivados do petróleo. Mas são políticas que passam pelo Orçamento público. É muito importante a gente ter de forma clara os custos e os benefícios [daquela medida]”, diz.
“Estamos dispostos a gastar aquele valor que poderia ir para a saúde, educação, bolsa família etc? É importante que os custos fiquem claros para que a sociedade tome uma decisão minimamente informada. O mesmo acontece quando se faz controle de preços da Petrobras”.
“A União é a maior acionista da Petrobras e recebe seus dividendos, que se tornam receita pública. Se o governo abre mão disso para subsidiar, o preço fica implícito, não aparece, não passa pelo Orçamento e aí parece que não tem custo. Estamos abrindo mão de quanto?”, avalia.