Economia

Com trabalho sério e vacinação, juro fica em um dígito, diz Guedes

19 ago 2021, 16:27 - atualizado em 19 ago 2021, 16:27
Paulo Guedes
Vai parar Brasília se tiver que pagar isso com as leis vigentes. Se fizer reforma da Lei de Responsabilidade Fiscal ou fizer exceção para o teto é outra conversa (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

Ações como “trabalho sério”, ampla vacinação e o aguardo da próxima eleição é o que farão o juro da economia brasileira ficar em um dígito, defendeu nesta quinta-feira o ministro da Economia, Paulo Guedes, em meio à elevação das taxas longas no mercado diante de temores crescentes com o descontrole das contas públicas conforme o ano eleitoral se aproxima.

“Nós com a nossa confusão aqui já estamos começando a empurrar os juros para dois dígitos de novo”, disse o ministro, ao participar de audiência pública na Comissão de Relações Exteriores do Senado.

“Se a gente trabalhar sério, vacinar, baixar a bola, esperar a próxima eleição, juro fica de um dígito”, completou ele, destacando ainda considerar o Brasil uma democracia “vigorosa”.

Em sua participação na audiência, Guedes disse que o pagamento de 90 bilhões de reais em precatórios no Orçamento do ano que vem não é exequível e que arcar com essa conta significa necessariamente cortar outras despesas essenciais, inclusive salários.

“Vai parar Brasília se tiver que pagar isso com as leis vigentes. Se fizer reforma da Lei de Responsabilidade Fiscal ou fizer exceção para o teto é outra conversa. Mas com as leis vigentes eu só tenho um jeito de cumprir e ficar constitucionalmente dentro”, disse ele, em referência à PEC dos Precatórios enviada pelo governo ao Congresso propondo o parcelamento dessas obrigações.

Segundo Guedes, a PEC foi concebida para “oferecer alternativas”. Ele afirmou que se ela não for aprovada pelos parlamentares, “não tem problema, vamos mandar Orçamento com 90 bilhões para precatórios e faltando dinheiro para tudo mais, inclusive salários”.

Requisições de pagamento expedidas pela Justiça após derrotas definitivas sofridas pelo governo em processos judiciais, os precatórios são despesas obrigatórias. Como têm crescido vertiginosamente, eles têm na prática comido espaço, sob a regra do teto, para outras despesas.

Na véspera, o secretário de Orçamento do Ministério da Economia, Ariosto Culau, afirmou que o pagamento integral dos precatórios no ano que vem inviabiliza o financiamento da terceira dose de vacina contra a Covid-19 prevista em plano de imunização encaminhado pelo Ministério da Saúde.

Membros da equipe econômica têm buscado ressaltar, nos últimos dias, que a PEC é crucial para permitir que o governo gaste não só com a expansão do Bolsa Família objetivo declarado do presidente Jair Bolsonaro–, mas com uma série de outras rubricas no ano que vem.

Mas a percepção de que a medida tem viés eleitoreiro e que representa um calote constitucionalizado ajudou a azedar o humor dos mercados nos últimos dias, com elevação das taxas longas de juros, que já passam de 10%, e alta do dólar frente ao real.

Nesta quinta-feira, Guedes procurou passar uma mensagem de comprometimento com as contas públicas ao dizer que o governo pensa em programas sociais dentro da regra do teto. De acordo com o ministro, o objetivo é fazer “Bolsa Família que caiba nos orçamentos públicos”.

A PEC dos Precatórios divide em dez parcelas o pagamento dos precatórios de mais de 66 milhões de reais e impõe uma limitação provisória dos pagamentos anuais de precatórios a 2,6% da receita corrente líquida, o que também sujeitará precatórios entre 66 mil reais e 66 milhões de reais a eventual parcelamento.

Pelo texto, os precatórios de até 66 mil reais serão integralmente quitados.

Com a medida, a estimativa do Ministério da Economia é ganhar 33,5 bilhões de reais em espaço orçamentário no ano que vem.

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“Meio Difícil”

O ministro criticou na audiência entidades que dizem se posicionar a favor de reformas, mas que colocam obstáculos à apreciação das matérias, citando nominalmente a Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Nesse sentido, Guedes pontuou que a primeira parte da reforma tributária enviada pelo governo ao Congresso, voltada ao consumo e que mirava a unificação de PIS e Cofins num imposto único, está parada há um ano.

“A indústria toda diz que apoia, mas não anda o primeiro passo”, afirmou ele.

“Agora nós estamos tentando mandar o segundo passo. Está meio difícil também”, complementou Guedes, em referência à reforma do Imposto de Renda, cuja votação na Câmara dos Deputados já foi adiada três vezes.