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Com Selic a 13,75%, como ficam as ações de Magazine Luiza (MGLU3), Via (VIIA3) e Americanas (AMER3)?

04 ago 2022, 10:27 - atualizado em 04 ago 2022, 10:27
Mercados
Cenário com a Selic mais alta já está precificado pelo mercado (Imagem: Diana Cheng/Money Times)

A Bolsa brasileira está sentindo os efeitos do ciclo de elevação de juros no Brasil.

A renda variável teve de lidar com fortes momentos de aversão a risco, visto que o movimento de aperto monetário levou investidores a correrem para a renda fixa.

O resultado foi a queda do Ibovespa para o patamar dos 100 mil pontos, de um pico de 130 mil pontos em junho do ano passado.

Algumas ações, como as de construção civil e tecnologia, sentiram mais o impacto da elevação da Selic, taxa básica de juros, devido à sua maior exposição ao cenário doméstico.

Mas são as empresas de varejo, em particular o e-commerce, que estão chamando a atenção ao verem seus papéis derreterem, pressionados pela deterioração do cenário macroeconômico brasileiro.

As ações do Magazine Luiza (MGLU3) acumulam tombo de 85% nos últimos 12 meses. Via (VIIA3) e Americanas (AMER3) não estão em situação melhor, acumulando perdas de 79% e 70%, respectivamente, no mesmo período.

Gustavo Pazos, analista da Warren, explica que a dinâmica de juros impacta o varejo na linha do endividamento. Nem todas as empresas estão endividadas, destaca o especialista, mas Magazine Luiza e Americanas, por exemplo, assumiram dívidas que estão em patamares “bem preocupantes”.

Pazos afirma, no entanto, que o desempenho das empresas do varejo acaba tendo como principal driver macroeconômico a inflação e o ganho de salário real.

“O brasileiro ganhar poder de compra: isso é o que o varejo mais quer ver. Sobretudo o varejo de e-commerce”, diz o analista.

Selic a 13,75% é um novo alerta para a Bolsa?

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) elevou nesta quarta-feira (3) a Selic em 0,5 ponto percentual, a 13,75%.

Felipe Paletta, analista da Monett, entende que o movimento, embora represente um ponto de volatilidade, não tem mais o mesmo peso que no começo do ciclo de aperto monetário no Brasil.

Segundo Paletta, um cenário com a Selic mais alta já está precificado pelo mercado. Portanto, a decisão do Copom de aumentar os juros não deve trazer muitas oscilações para os papéis.

Paletta afirma, por outro lado, que a política monetária no exterior pode adicionar tensão ao mercado acionário doméstico.

Pazos, da Warren, diz que o que pode mudar o tom do mercado é uma virada brusca no posicionamento do próprio BC em relação à inflação.

Contrariando as expectativas, o BC sinalizou, em comunicado, que o ciclo de aperto monetário pode se manter na próxima reunião.

O BC disse que “o Comitê avaliará a necessidade de um ajuste residual, de menor magnitude, em sua próxima reunião”. O anúncio abre espaço para um novo ajuste de 0,25 ponto percentual ou 0,5 ponto percentual.

Além disso, Pazos vê como potencial risco de ciclo de aperto monetário mais prolongado a postura da política brasileira de “pisar no acelerador” ao aprovar a PEC dos Benefícios.

“O Banco Central não consegue prever qual vai ser o desenrolar do cenário político brasileiro. E o cenário político brasileiro impacta nossa economia”, completa o analista.

Pressão sobre varejistas e techs deve continuar

Analistas têm posição de cautela sobre ações do e-commerce brasileiro (Imagem: Shutterstock)

Pazos e Paletta avaliam que as ações de varejo e tecnologia devem seguir pressionadas.

Segundo Paletta, além da predileção do mercado por empresas geradoras e caixa, as ações desses setores estão enfrentando grandes correções por uma questão de valuation.

“Com a taxa de juros caindo no brasil no começo da pandemia, as empresas desses setores negociavam já com múltiplos acima dos patamares médios históricos. Grande parte dessa queda não vem só pela contração monetária, mas também por uma correção de exageros de precificação”, explica.

No caso das empresas de e-commerce, ressalta Pazos, o aumento da competição no setor com a entrada de nomes de fora, como Shopee e Amazon, acaba colocando mais pressão sobre os players.

“Esses caras acabam apanhando muito por conta dessa dinâmica competitiva. Não sei se o mercado de e-commerce se recupera como o varejo de forma geral”, comenta o analista.

Recuperação vem, mas para quem primeiro?

Pazos e Paletta veem o setor de tecnologia como o último a se recuperar do ciclo de aperto monetário no Brasil.

Segundo Pazos, as techs têm hoje uma grande dificuldade de fonte de captação de renda, visto que juros altos dificultam a disponibilização de capital no mercado.

“O tech de fato (Locaweb [LWSA3], Méliuz [CASH3]) precisa de dinheiro disponível para investir nele mesmo e crescer. [As empresas do setor] são majoritariamente de growth, que apostam muito no seu crescimento exponencial e não pagam dividendos porque todo o lucro que fazem é reinvestido nelas mesmas”, diz.

Setor de tecnologia deve ser o último a se recuperar do ciclo de aperto monetário no Brasil, avaliam analistas (Imagem: Money Times/Gustavo Kahil)

Paletta, da Monett, destaca que as empresas de tecnologia brasileiras têm como norte as big techs lá de fora, e o que se tem visto é uma perda relevante de precificação dessas grandes companhias.

“É um comportamento que a gente não sabe até quando vamos observar, até porque essas empresas têm atuação global, e seus níveis de precificação servem muito de comparativo”, reforça o analista.

Paletta vê as construtoras como as primeiras dessa cesta de ações penalizadas pela Selic se recuperando primeiro.

“Apesar de parecer um contra senso, à medida que as taxas de juros e financiamento imobiliário sobem e também diminui a disponibilidade de renda, entendo que, hoje, é um setor que já se ajusta em termos de precificação para esse cenário mais arriscado”, defende.

O especialista da Warren está mais confiante com alguns varejistas. Desde o início do cenário de pressão inflacionária, a corretora e gestora de investimentos se posicionou no setor por meio de nomes do segmento de alta renda, como Arezzo (ARZZ3). Agora, os analistas começam a olhar mais para os players intermediários, como Lojas Renner (LREN3).

“O varejo está começando a ficar bastante atrativo. Mas alguns players. Empresas com exposição à baixa renda, ainda não”, ressalta.

Pazos reforça sua posição de cautela sobre o e-commerce, assim como Paletta, que prefere exposição a empresas que servem os players do setor – fundos imobiliários de logística em vez de Magazine Luiza, Via e Locaweb, por exemplo.

Vitorio Galindo, head de análise fundamentalista da Quantzed, diz que, apesar das sinalizações de recuperação dos varejistas, o risco atribuído às ações ainda é muito grande.

Galindo afirma que, para que haja uma recuperação maior, o mercado deve começar a ver um arrefecimento da inflação e uma queda nos juros (ou uma sinalização de que os juros podem começar a cair).

Sobre se expor ao setor, o analista recomenda ser seletivo.

“Algumas dessas empresas estão com balanço muito aperto, patrimônio baixo, endividamento alto. Vai demorar para a gente ver resultado melhor”, conclui Galindo.

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