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Com quebra ou sem quebra do café commodity, teto de sobrepreço não se rompe para os especiais

20 maio 2021, 13:44 - atualizado em 28 maio 2021, 13:52
Café Grãos Commodities
Selecionado e com processo de secagem diferenciado, cafés especiais têm prêmio e cresce em produção (Imagem: Reprodução/Embrapa)

O comércio de cafés especiais brasileiros não pega carona nas condições atuais do grão commodity. Mesmo uma quebra acentuada, como no arábica padrão está se consolidando, não serve de impulso acentuado.

Apesar do franco crescimento, sobretudo internacional, há um teto de sobrepreço.

A Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA, sigla em inglês) ainda enxerga que o limite tem relação com o consumo menos massivo que o torrefado de prateleira.

Mesmo no atual momento, quando os embarques de cafés especiais colombianos estão atrasados pelas manifestações políticas, não está havendo impacto.

A baliza é cerca de US$ 3 acima da libra-peso da cotação do arábica commodity – cuja pontuação de qualidade é até 80 pontos – negociado em Nova York, estima Vanusia Nogueira, diretora-executiva da entidade.

De 80 a 84 pontos é a esmagadora maioria das cerca de 10 a 12 milhões de sacas de cafés especiais brasileiros, o que dá na faixa em torno de 15% a 18% da produção nacional de café. Na safra 19/20, ante 63 milhões de sacas no total, a participação dos grãos nessa faixa de qualidade representou cerca de 20%, de acordo com cálculos da BSCA.

Acima de 84 pontos, quando a sofisticação e a complexidade da bebida são mais próximas do consumidor gourmet por excelência, aí é outra história. A oferta é ainda muito mais restrita, os chamados micro-lotes, com acesso a canais também muito restritos, lembra a executiva da BSCA.

Nesse limite de pontuação, já se encontra produtores maiores e tradings fazendo a originação. “A Nespresso, por exemplo, não compra diretamente do produtor, utiliza os canais das tradings”, diz Vanusia, fazendo referência à marca da Nestlé.

Mas essa característica da produção não é considerada desafiadora. A BSCA vê o crescimento  justamente nas regiões que antes eram consideradas tabus no segmento.

Se cafés especiais estavam associados somente à produção em montanha, como no Sul mineiro, hoje se vê no cerrado de Minas e Bahia e em regiões do Norte de São Paulo. Ressalva-se: os micro-lotes ainda estão concentrados nos pequenos produtores das regiões de terrenos dobrados.

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Aprendizado

A infraestrutura pós-colheita foi sendo melhorada, especialmente na secagem, mesmo que não se obtenha a mesma seleção de grãos na colheita como – mais uma vez se frisa – nos cafés acima de 84 pontos, quando a cata é feita manualmente.

Esse perfil, garante Vanusia Nogueira, acabou contaminando muitos produtores do café commodity. Como são vários os arábicas, a qualidade foi sendo puxada.

O mesmo processo de aprendizado que vem do campo acaba por estimular o “aprendizado do consumidor” para bebidas mais complexas. E isso agrega valor.

O Brasil está consumindo de cerca de 1,5 milhão de sacas do café especial do total ofertado, eram “600 mil há quatro anos”. O resto é Europa e Estados Unidos.

A pandemia bagunçou um pouco o viés de crescimento, quebrando a sociabilidade que a bebida proporciona nas cafeterias, mas aquelas que já estavam no e-commerce – e muitas que entraram forçadas no delivery -, estão se mantendo, acredita a diretora da BSCA.

Situação mais difícil vem sendo para aquelas que não contavam com fidelização de público e estavam instaladas em locais de trânsito, como em centros comerciais e shoppings.