Com nova variante da Covid, mercado reduz aposta em aperto monetário global
Os mercados monetários se apressam em desfazer apostas em juros mais altos, pois a preocupação com a inflação dá lugar aos temores de que uma nova cepa do coronavírus possa se espalhar globalmente e desacelerar o crescimento econômico.
Traders adiaram as previsões para o primeiro aumento de 25 pontos-base pelo Federal Reserve de junho para setembro, e brevemente descartaram altas dos juros em 2023.
A história se repete no Reino Unido, onde agora as expectativas apontam para um aperto da política monetária pelo Banco da Inglaterra apenas em fevereiro, em vez de no mês que vem.
Apostas de aumento da taxa de depósito do Banco Central Europeu até o fim do ano que vem também foram reduzidas, com precificação de uma alta de apenas sete pontos-base, cerca da metade da previsão no início desta semana. A União Europeia estuda seguir os passos do Reino Unido e suspender viagens aéreas da África do Sul devido à nova variante identificada no país.
“Poderíamos ver a continuidade desse movimento nas próximas semanas”, disse Pooja Kumra, estrategista sênior de juros europeus do Toronto-Dominion Bank, em entrevista à Bloomberg Television. “No momento, esperamos que os bancos centrais se mostrem mais compreensivos em relação à situação antes de remover qualquer acomodação.”
Os principais bancos centrais passaram meses preparando o mercado para uma era de política monetária mais apertada, à medida que a economia global emergia da pandemia e a inflação se acelerava.
No entanto, com a perspectiva de restrições de viagens generalizadas e novas medidas para reduzir os contatos, autoridades monetárias precisam pensar duas vezes antes de começar a retirar o estímulo, desferindo um golpe para traders posicionados para aumentos dos juros.
A Organização Mundial da Saúde e cientistas estão estudando a variante recém-identificada, que foi descrita como muito diferente das versões anteriores e de grande preocupação. Reino Unido, Singapura e Israel restringiram viagens da África do Sul e de alguns países vizinhos. Hong Kong confirmou dois casos da cepa.
Se a nova cepa se revelar tão potente quanto parece, “negará a necessidade de aperto monetário que a maioria dos bancos centrais dos mercados desenvolvidos estava propondo”, disse Peter Chatwell, estrategista de multiativos da Mizuho International. Nesse caso, ele prevê que os bancos centrais vão adiar elevar as taxas de juros em cerca de seis meses.
Traders também recuam apostas de aperto monetário na Europa Central e Oriental, entre as primeiras regiões a reagirem à aceleração da inflação com aumentos das taxas de juros este ano.