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Com R$ 8 bi de receita, Shein avança e incomoda Renner (LREN3): Como isso impacta o consumidor?

07 fev 2023, 11:54 - atualizado em 07 fev 2023, 12:07
Renner
(Foto: Flávya Pereira/Money Times)

Estudo divulgado no final de janeiro pelo BTG surpreendeu o mercado financeiro ao abordar o tamanho da Shein no Brasil: com crescimento de 300% ao longo de 2022, a varejista chinesa chegou a R$ 8 bilhões de faturamento – deixando para trás o Grupo Soma (Hering, Farm, Animale, entre outras) e se aproximando da Renner (LREN3), líder no setor e que teria faturado cerca de R$ 11 bilhões no ano passado – o número ainda é uma especulação, afinal o balanço referente ao último trimestre de 2022 só será divulgado no próximo dia 16.

O fenômeno da Shein contrasta com a Renner em diversos aspectos devido às gigantescas diferenças entre seus modelos de operação.

Enquanto a Renner tem cerca de 430 lojas espalhadas pelo Brasil, em um modelo de expansão fortemente acelerado com o fim da Mesbla e Mappin no final dos anos 90 e mantido nos anos 2000 e 2010, a Shein, salvo um período de cinco dias em novembro do ano passado, não dispõe de um único metro quadrado de loja física.

Ambas também se diferenciam no modelo de produção: enquanto a Shein aposta no fast-fashion (com fabricação, consumo e descarte extremamente rápidos), a Renner, que por muitos anos usou dessa estratégia, vem mudando de posicionamento e apostando nas premissas ESG (Environmental, Social and Governance).

Afinal de contas: o consumidor brasileiro está pronto para ser sustentável?

Ser sustentável tem seu custo:

O crescimento da Shein se acelerou em um momento em que a Renner busca se reposicionar – tanto para seus clientes como para os seus acionistas. E esse reposicionamento, ainda em curso, de certa forma contribuiu para o avanço da rival chinesa.

O cliente da Renner se acostumou a pagar pouco por roupas básicas ou de cotidiano – mesmo cientes de que tais peças não teriam durabilidade longa. E, até poucos anos atrás, conceitos como ESG, por mais que já existissem, não eram tão alardeados ou reforçados como uma premissa necessária para o mundo no futuro.

A Renner vem trabalhando com metas agressivas de ESG, que impactam diretamente em seus produtos. Com objetivo de estender o uso de roupas e adiar o descarte por completo da peça, a empresa adquiriu o brechó online Repassa.

Também há iniciativas, como as metas de 75% na emissão de CO2 para produção de roupas de marcas próprias e de 100% das peças de vestuário sejam fabricadas com algodão rastreado e certificado.

As lojas também estão passando por mudanças: com o novo modelo de lojas circulares, inaugurado em 2021 com a reforma da loja do Shopping Rio Sul, no Rio de Janeiro, várias premissas sustentáveis foram adotadas.

Com a nova construção, a empresa divulgou obter um consumo de água 56% inferior a uma loja equivalente; 94% menos descarte de materiais de construção; 8,5 toneladas de aço economizados e 100% de energia renovável de baixo impacto.

Na loja do Park Shopping Jacarepaguá, inaugurada meses depois, 100% do volume de resíduos gerados na obra foram reciclados ou reaproveitados.

Outras iniciativas, como o Eco Estilo, programa de logística reversa para que clientes descartem, de forma correta, roupas ou frascos de itens de beleza – os quais podem ser reciclados posteriormente.

Entregas como essas permitiram que a Renner ostentasse a liderança entre empresas de varejo de moda na edição do Dow Jones Sustainability Index.

Com projetos como esses, a Renner perde parte de sua competitividade na disputa pelo preço – sobretudo diante da Shein. A disputa com varejistas, como Riachuelo, C&A e o mercado local, sempre fez parte do dia-dia da empresa gaúcha, mas entrar num embate com uma gigante chinesa que produz por valores irrisórios faz o alerta se acender.

E qual é o papel do consumidor?

É certo que o desemprego no Brasil vem caindo – a última taxa informada pelo IBGE é de 8,1%, referente ao mês de novembro.

Os números são positivos, ainda mais considerando ser a menor taxa histórica desde 2015. No entanto, sob qualquer outra perspectiva, tais números assustam. Os EUA, por exemplo, têm uma taxa de desemprego na casa dos 3,5%.

Estudo da LCA Consultores, derivado das pesquisas do IBGE, informou em 2022 que 70% dos trabalhadores ganham até dois salários mínimos – ou seja, pouco mais de R$ 2,4 mil por mês.

Dado esse contexto, seria uma postura extremamente displicente condenar o consumidor brasileiro por priorizar preço em detrimento da qualidade dos produtos ou da preocupação ambiental empregada por quem os produz.

O que pode ser feito? E por quem?

A interferência estatal na economia nunca é o melhor caminho, ainda que as regras do jogo devam ser aplicadas por igual a todos seus competidores.

Com a globalização, tem sido cada vez mais difícil equilibrar esse jogo: é razoável proteger a indústria nacional, que paga impostos, gera empregos e é submetida às legislações trabalhistas e ambientais em  detrimento de um produto mais barato produzido por quem possui regras mais brandas?

Em paralelo ao papel de garantir a equidade de direitos e deveres aos players, o Estado tem o dever de se empenhar na criação de políticas públicas que impactem na capacitação, criação de empregos e estímulo à modernização da indústria.

Os efeitos surgirão no aumento da renda do trabalhador – que não só terá o acesso ao consumo, como poderá escolher o que consumir.

E só a partir desse momento que haverá a democratização do consumo consciente, que permitirá que esse comportamento transcenda por todas as classes sociais e se torne uma realidade em prol do meio ambiente.

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