Com exportações em alta, EUA podem precisar importar soja
O apetite de China por soja americana está esvaziando os silos a tal ponto que as processadoras dos EUA talvez precisem importar a maior quantidade de oleaginosas em anos neste terceiro trimestre.
As vendas de soja para compradores estrangeiros devem superar as estimativas do governo para toda a temporada já no mês que vem, de acordo com a consultoria AgResource, sediada em Chicago.
As processadoras têm esmagado volumes recordes há vários meses. No ritmo atual, os EUA devem ficar sem soja — pelo menos no papel.
A disparada nos embarques dos EUA para a China ocorre depois que o Brasil e outros países efetivamente ficaram sem produto exportável.
Agora os operadores do mercado enfrentam a mesma perspectiva na América do Norte. Matt Campbell, consultor de gestão de risco da StoneX em West Des Moines, no estado de Iowa, estima que as importações de soja pelos EUA este ano podem atingir o maior nível desde 2014 por causa da forte demanda das processadoras locais — que transformam a soja em ração animal, óleo de cozinha e combustível — antes da chegada da próxima colheita.
Transações em pequenas quantidades entre os principais exportadores de soja não são incomuns. No entanto, provavelmente haverá mais negócios este ano em que os preços futuros em Chicago estão perto do maior patamar em seis anos e com tendência de alta. Isso tornaria o produto da América do Sul mais atraente para as processadoras nos EUA.
“Todo ano ocorrem algumas importações”, disse Campbell. “Mas parece que teremos este ano um dos maiores volumes já vistos.”
“É um ano de suprimentos substanciais, mas a demanda é enorme”, disse o analista independente John Baize, que assessora o Conselho de Exportação de Soja dos EUA.
Em 12 de janeiro, o Departamento de Agricultura (USDA, na sigla em inglês) mais que dobrou a previsão para as importações americanas de soja, projetando 35 milhões de bushels durante a temporada iniciada em 1º de setembro. Já a StoneX estima até 70 milhões, o que seria a maior quantia desde que 72 milhões de bushels foram trazidos para o país durante a temporada 2013-14.
Ainda assim, trata-se de um volume minúsculo em comparação com os 2,23 bilhões de bushels que serão despachados dos portos americanos, pelos cálculos do USDA. Os preços nos EUA provavelmente continuarão avançando até que as margens das processadoras fiquem ruins o suficiente para segurar a demanda.
“Os EUA realmente precisam conter a moagem doméstica no curto prazo porque a safra brasileira está atrasada e a China está comprando ainda mais cargas para fevereiro”, disse Tarso Veloso, analista da AgResource. “Esperamos que contratos futuros com vencimento em março subam para US$ 14,60 ou até US$ 15 por bushel para conter o uso doméstico.”
“No ritmo atual de exportações, os EUA podem acabar com estoques negativos”, disse Veloso. “Mas claro que isso seria no papel e nunca aconteceria, porque os preços aumentariam antes para conter a demanda.”
A crescente demanda da China significa que os fazendeiros americanos precisarão plantar mais milho e soja, disse Dan Basse, analista da AgResource, durante a conferência Paris Grain Day. “Esperamos plantio em cada espaço arável e ainda não é suficiente para atender à procura.”