Com eleições nos EUA à frente, compra do Twitter por Musk aumenta medo de desinformação
Com as eleições de meio de mandato nos EUA a menos de duas semanas, a compra do Twitter por Elon Musk pode desencadear uma nova onda de desinformação eleitoral enquanto os eleitores forem escolher quem terá o controle do Congresso pelos próximos dois anos, dizem especialistas políticos e de mídia.
Musk, presidente da fabricante de carros elétricos Tesla, diz que é um “absolutista” da liberdade de expressão e prometeu afrouxar as rédeas das conversas dentro da rede social, que nos últimos anos se esforçou para limitar o conteúdo tóxico visto como falso ou discriminatório.
Musk procurou abordar esses temores, dizendo aos anunciantes do Twitter que a plataforma “não pode se tornar um inferno livre para todos onde qualquer coisa pode ser dita sem consequências.”
Mas Musk expressou ceticismo sobre as proibições permanentes do site de figuras como o ex-presidente Donald Trump, que perdeu sua conta – e seus quase 90 milhões de seguidores – logo após o ataque de janeiro de 2021 ao Capitólio dos EUA por alguns de seus apoiadores. Trump usou sua conta para afirmar que a eleição de 2020 foi roubada dele.
Musk também indicou que facilitará políticas de moderação do site. E sua decisão de fazer grandes cortes na equipe também podem prejudicar a capacidade de policiar conteúdo, atividade que a rede já teve dificuldades para conduzir no passado.
“O pássaro está livre”, tuitou ele após concluir a compra.
Não está claro quanto um Twitter com moderação mais frouxa influenciaria no discurso político no período antes das eleições de novembro. A votação antecipada já começou em vários Estados e as pesquisas mostram que a maioria dos eleitores já se decidiu.
Um Twitter mais permissivo pode amplificar narrativas falsas sobre os resultados eleitorais de novembro, se alguns candidatos se recusarem a aceitar o resultado e clamarem por fraude.
Os republicanos dizem que muitas plataformas de mídia social são tendenciosas contra eles. Várias contas conservadoras no Twitter – incluindo políticos republicanos – saudaram na sexta-feira a aquisição por Musk.
Os democratas temem que apoiadores de Trump promovam visões de extrema direita ou falsas alegações de fraude eleitoral no Twitter, se for permitido.
O site tem sido uma ferramenta política fundamental há anos, oferecendo a políticos e ativistas de todo o mundo capacidade de alcançar milhões de pessoas com uma retórica em grande parte não filtrada.
O Twitter teve um papel na organização de campanhas de massa, incluindo o movimento #MeToo, contra má conduta sexual, e protestos da Primavera Árabe, no Oriente Médio.
Os críticos, no entanto, alertaram que o site também ajudou a espalhar informações propositalmente falsas, que prejudicam os princípios democráticos e oferecem a atores estrangeiros um caminho para se intrometer.
“(A aquisição de Musk) certamente poderia criar um caminho muito maior para agentes de desinformação espalharem informações prejudiciais na plataforma”, disse Yosef Getachew, diretor do programa de mídia e democracia da ONG Common Cause.
“As políticas de moderação de conteúdo só são eficazes se houver pessoas lá para aplicá-las e sistemas em vigor para garantir que elas sejam aplicadas. Se essas regras forem descartadas, isso será incrivelmente prejudicial”.
Após a eleição presidencial de 2016, quando as agências de segurança dos EUA concluíram que a Rússia havia usado clandestinamente as mídias sociais para montar campanhas de influência com objetivo de manipular o resultado, o Twitter e outros sites de mídia social aumentaram esforços para impedir a disseminação de desinformação, com sucesso misto.
O Twitter procurou eliminar os tuítes falsos sobre a pandemia da Covid-19, quando a desinformação sobre a escala da doença e a eficácia de vários tratamentos médicos se espalhou amplamente, dificultando a resposta da saúde pública.
Após a eleição de 2020, o Twitter baniu permanentemente Trump e alguns de seus aliados, como o advogado Sidney Powell e o empresário Mike Lindell, que ecoaram falsas alegações de que a eleição foi fraudada. O site também excluiu milhares de contas afiliadas a grupos extremistas de direita, como os Proud Boys e a teoria da conspiração de extrema direita conhecida como QAnon.
Mas alguns questionam se esses esforços são adequados, dado o grande volume e a velocidade da desinformação online.
Conservadores acusaram o site de censurar seus pontos de vista por razões políticas, uma alegação que o Twitter negou. O rapper Kanye West, cuja conta no Twitter foi suspensa por postar comentários antissemitas, parecia estar ativo novamente.
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