Com CPR em dólar, governo aumenta opções ao produtor rural e instituições que ainda não estão no câmbio
A mexida que o governo deu no sistema de financiamento do agronegócio, com a Medida Provisória lançada ontem (MP do Agro), começa criar condições práticas para sustentar aquilo que está bem visível no mercado: o crédito subsidiado está rareando e está ficando mais caro, de modo que dinheiro novo cada vez mais dependerá de instrumentos oferecidos pelo setor privado.
Entre o que foi anunciado, e que precisará ser aprovado no Congresso, a Cédula de Produto Rural (CPR) poderá ser emitida em dólar, oferecendo tanto ao sistema que já opera em câmbio – e oportunizando aos bancos que estão fora buscarem autorização para operarem em câmbio -, quanto para o produtor, a alternativa de atração de recursos externos.
No momento em que a CPR vinha perdendo espaço para a poupança rural – depois de crescimento até à penúltima safra de grão – na medida em que a taxa Selic foi caindo, a opção do título em moeda estrangeira “fica dentro do conjunto de instrumentos que o sistema financeiro vai tendo que se antecipar para oferecer recursos ao setor produtivo”, avalia Neivo Panho, diretor-superintendente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (Ocesc).
Ainda faltam detalhes técnicos que deverão ser adequados pelo Banco Central, mas, no geral, a medida é vista com otimismo. Se o governo está saindo do crédito rural, e “hoje o que ele oferece já está mais caro, os bancos estão tendo também que se antecipar”.
Segundo Panho, sem recursos para repassar do governo, ou com spread cada vez mais achatados, e sem produtos próprios atraentes, as instituições financeiras ficariam reféns de outras atividades tomadoras de crédito com menor potencial de crescimento que o agronegócio. “Com a tendência das taxas de juros caírem mais, seguindo a aprovação da Previdência e da reforma tributária, os agentes têm que se mexer”, diz o representante das cooperativas catarinenses.
“Para os agentes que operam com câmbio, a CPR emitida em dólar é uma ótima notícia, pois aumenta a opção de travas”, analisa Gustavo Soares, consultor de Agronegócio do Bancoob, braço financeiro do Sicoob, que ainda não opera com câmbio.
Ele destaca a CPR financeira, com liquidez na B3.
Para a CPR física, em valor equivalente a produto, não tem sentido, mas para a financeira é muito positivo, pois amplia o leque de alternativas explica César Costa, diretor-executivo da Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM), lembrando que já há operações como o Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) em dólar.
Garantias
No momento também em que os bancos resistem em renovar linhas de repasse do BNDES, apesar da autorização da instituição, o governo também lançou o Fundo de Aval Fraterno (FAF), outra promessa lançada durante o anúncio do Plano Safra, no primeiro semestre.
Com opção da formação de um fundo de dois a até 10 produtores, cada qual participando dentro do seu percentual de recurso, oxigena as garantias que os bancos tanto perseguem.
E para Neivo Panho, diretor-superintendente da Ocesc, certamente alimentará mais ainda a possibilidade de lançamentos de novos produtos financeiros para o agro pelo setor privado.