Agronegócio

Com China, Brasil está aprendendo que peso em comércio é muito mais que volume e preço

08 ago 2019, 11:24 - atualizado em 08 ago 2019, 11:31
china
Mercado bovino aguarda mais yuans chineses

Está cada vez mais claro que na configuração atual do comércio mundial com o protagonismo chinês, que somente não impõe condições aos Estados Unidos, quem compra manda. E os China-dependentes, como o Brasil, pouco ou quase nada podem fazer fora das regras e prazos que o maior comprador deseja. Na síndrome atual da espera para a habilitação de novas plantas exportadoras de bovinos, o País está aprendendo que não basta ter volume e preço sem ter peso em diplomacia comercial – para se dizer o mínimo.

E por mais que se assista a devastação que a peste suína africana (PSI) está fazendo – e em vias de tomar conta de mercados concorrentes brasileiros – as necessidades chinesas de aquisições seguem em crescimento controlado. O gigante asiático tem e terá mais fome, mas está no controle e não deixará que seja moeda de troca para os fornecedores forçarem preços e relaxarem na qualidade. São pontos cristalinos.

Várias fontes ouvidas por Money times, próximas do governo por razões políticas e de relacionamentos profissional – e por isso pediram anonimato – concordam que o Brasil não sabe de fato e nem é informado, em nenhuma esfera, de qualquer ação da China no tocante à habilitação de novas plantas.

A China até pode resolver habilitar amanhã e o Itamaraty e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) vão ficar sabendo no mesmo instante. A recente inspeção em plantas de suínos e aves também não foi precedida de aviso algum. Aliás, ninguém sabe ao certo se houve alguma inspeção virtual em plantas (e quantas) de bovinos.

Por isso que ninguém arrisca um palpite se de fato poderá ser resolvida a liberação das plantas este ano ainda.

Por hora, o que vale é a expressão “biruta de aeroporto”, como um dos interlocutores classifica a situação do governo sobre o tema.

Espera vem de longe

Nos protocolos de negociações comerciais bilaterais, com nações mais abertas ao tradicionalismo comercial, sempre há algum comunicado antecedendo movimentos ou sobre os respectivos prazos. No ano passado, quando a União Europeia ia se reunir em Bruxelas para anunciar o fim do embargo aos cortes de carne de frango, o Brasil foi avisado com vários dias de antecedência, para ficarmos em um único exemplo.

O processo para a liberação das 20 novas plantas foi aberto bem antes de a ministra Tereza Crstina, do Mapa, voltar da missão ao país, na segunda quinzena de maio. Agora, com o segundo semestre entrado, na segunda (5), ela disse ao Money Times (dia 6) que não fazia ideia de nada dos chineses e deixou no ar que tampouco o Ministério de Relações Exteriores.

Ainda argumentou com um pseudo período de férias em vários órgãos chineses neste mês, segundo a qual “aprenderam com os americanos”.

Dois dias depois, a titular do Mapa cancelou visita à China, marcada para a segunda quinzena, alegando problemas com a agenda. Quer agenda mais importante que resolver a questão dos frigoríficos? Naturalmente, a desistência está atrelada à indefinição do hoje dono de praticamente 40% de toda carne bovina mandada para o exterior.

O que mais se escuta também são expressões em tom resignado – “fizemos a lição de casa”, (como aliás a própria Tereza Cristina a usou), o “timing dos chineses é outro”, “são mestres na arte de negociar” etc –mas de fato não há outras contra a evidência de quem compra manda em países como o Brasil.

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