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Com Brexit, Trump vê oportunidade de provocar União Europeia

03 fev 2020, 11:55 - atualizado em 03 fev 2020, 11:55
Donald Trump
Para ele, a União Europeia é “pior que a China” (Imagem: Facebook/Donald J. Trump)

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, passou os últimos quatro anos sugerindo conselhos não solicitados aos primeiros-ministros britânicos sobre o melhor caminho para sair da União Europeia e prometendo uma grande e nova aliança comercial transatlântica.

Agora que o Brexit é oficial, Trump pode dobrar as apostas em seu papel preferido: o do disruptor geopolítico.

Assim como o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, quer usar as negociações com os EUA como uma maneira de aumentar sua influência nas discussões comerciais com a UE, Trump deixou claro que vê um acordo com o governo britânico como uma oportunidade irresistível de provocar a UE que, segundo ele, é “pior do que a China”.

“Este acordo tem potencial para ser muito maior e mais lucrativo do que qualquer acordo que possa ser feito com a UE”, tuitou o presidente americano sobre as perspectivas de um pacto comercial EUA-Reino Unido na noite em que Johnson selou sua vitória nas eleições de dezembro e o destino do Brexit.

Para pessoas na órbita de Trump, um acordo com o Reino Unido representa uma oportunidade para fortalecer laços comerciais com um país que governos e empresas dos EUA há muito tempo viam como uma porta de entrada para a Europa.

É também uma chance de responder à expansão agressiva dos acordos comerciais fechados pela UE nos últimos anos, que ampliou a influência do bloco sobre as regras que regem os fluxos de uma variedade de produtos para novas fronteiras no Japão, Sudeste Asiático e América do Sul.

Trump e Johnson sinalizaram o desejo de fazer um acordo rapidamente. Mas também existem questões importantes não respondidas que parecem tornar o feito improvável.

A negociação com o Reino Unido também marca a primeira chance de o presidente dos EUA e equipe fecharem um acordo comercial completo do zero (Imagem: Luke MacGregor/Bloomberg)

Um plano para Johnson visitar Washington e, potencialmente, iniciar negociações ainda neste mês, ainda não foi finalizado. O prazo depende em parte da reforma do gabinete por Johnson que poderia levar à nomeação de um novo ministro do Comércio.

Nos últimos meses, autoridades do governo Trump sinalizaram que gostariam de adotar uma abordagem com fases nas negociações, assim como fizeram com o Japão e com a China. Isso pode permitir vitórias rápidas em áreas como comércio digital, dizem os especialistas.

Mas a negociação com o Reino Unido também marca a primeira chance de o presidente dos EUA e equipe fecharem um acordo comercial completo do zero.

Autoridades disseram a membros do Congresso dos EUA na semana passada que o objetivo era selar um acordo abrangente com o Reino Unido, em vez de um pacto de fase 1, de acordo com pessoas com conhecimento da discussão.

Essas podem ser as intenções de Trump, mas também há perguntas mais imediatas sobre os limites de seu poder sobre o Reino Unido.

É provável que o próximo teste seja sobre os planos do governo britânico de implementar um imposto sobre serviços digitais que, segundo políticos americanos, atingiria injustamente os gigantes da tecnologia nos EUA.

“Se o governo Trump se preocupa em proteger empregos em inovação e tecnologia nos EUA, deve pré-condicionar o lançamento de negociações comerciais formais com garantias de que o Reino Unido não aplicará impostos sobre serviços digitais que colocam em risco empregadores americanos”, disse Ron Wyden, líder do Partido Democrata no Comitê de Finanças do Senado, que supervisiona as negociações comerciais. “Qualquer acordo comercial deve garantir essa promessa.”