Opinião

Com Brexit sem acordo, três setores-chave devem sofrer na Europa e no Reino Unido

22 ago 2019, 19:23 - atualizado em 22 ago 2019, 19:34
O novo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, declarou que o Reino Unido deixará a UE no prazo de dois meses (Imagem: European Union in Belarus/Facebook)

A possibilidade de que o Reino Unido saia da União Europeia (UE) no dia 31 de outubro sem definir sua relação futura com seus atuais parceiros continentais continua aumentando. Conhecido como Brexit “sem acordo”, o evento pode gerar instabilidade em economias nacionais, setores do mercado e uma variedade de empresas.

Depois de anos de negociação geralmente frustrante e ineficaz entre os dois lados, as posições se tornaram mais rígidas. O novo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, declarou que o Reino Unido deixará a UE no prazo de dois meses, com ou sem um acordo, e insistiu na exclusão da questão fronteiriça da Irlanda do Norte de qualquer pacto de retirada.

A Alemanha considera “altamente provável” um Brexit desordenado, de acordo com um documento vazado do ministro das finanças, que também disse que era “inconcebível” que Johnson venha a mudar sua posição. Ressaltou ainda que era importante que a UE seguisse a linha adotada até o momento. A UE rejeitou a reabertura do acordo de saída firmado com a ex-primeira-ministra britânica Theresa May.

Se o Reino Unido deixar o mercado único da UE sem os devidos acordos em vigor, a união aduaneira e outras instituições que garantem a livre circulação de bens, serviços, pessoas e capital com o bloco voltariam a adotar as regras da Organização Mundial de Comércio para questões como tarifas e checagens na fronteira. Evidentemente, isso poderia significar um aumento da burocracia.

Impacto no setor automotivo

Um dos setores-chave que poderiam ser impactados com a saída do Reino Unido da UE sem um acordo é a indústria automotiva. Isso se aplica a ambos os lados do Brexit.

Na Alemanha, 100.000 empregos poderiam ser perdidos com esse cenário.

Gráfico Semanal VOWG

Gráfico Semanal VOWG

As fábricas mais atingidas seriam as da Volkswagen (VOWG) e da BMW (BMWG), de acordo com um relatório do Instituto Halle para Pesquisa Econômica.

Atualmente, o Reino Unido é o maior mercado único de exportação das montadoras alemãs. De acordo com a VDA, associação da indústria automotiva da Alemanha, o país exportou, no ano passado, 665.573 veículos para o Reino Unido, uma queda de 13,4% por causa da fraca demanda. Os EUA vêm em segundo lugar, para onde foram enviados 470.474 veículos.

“As consequências de uma falta de acordo seriam fatais”, declarou a VDA no início deste ano. BMW, Volkswagen e Daimler (DAIGn), empresa fabricante dos veículos da Mercedes-Benz, pediram que o governo britânico evitasse o pior cenário e garantisse a continuidade do comércio sem tarifas. O CEO da BMW, Harald Krueger, solicitou que Johnson evitasse o Brexit sem acordo, ressaltando que seria um cenário de perdas mútuas.

Embora a maior parte das famosas fabricantes britânicas de veículos pertença a estrangeiros – a BMW produz os Minis, a gigante indiana Tata (TAMO) fabrica os carros da Jaguar e Land Rover, enquanto a Volkswagen produz os carros da Bentley – muitos ainda são montados no Reino Unido; desses veículos, 80% são exportados.x De fato, as exportações automotivas correspondem a 14,4% de todas as exportações britânicas.

Além disso, a indústria emprega 168.000 pessoas e paga diretamente 82 bilhões de libras esterlinas (US$ 99 bilhões) aos cofres do governo britânico. O impacto poderia ser ainda maior para o Reino Unido, em comparação com as perdas no continente, caso o acordo de introdução de tarifas entrasse em vigor.

Fabricantes britânicos já estão reduzindo a produção, alguns dos quais decidiram mudá-la para outros países. No início do ano, a BMW alertou que poderia mudar a produção dos seus carros e motores Mini para fora do Reino Unido.

Algumas empresas que também mantinham uma sede no continente e apoiavam a unidade britânica provavelmente serão atingidas duas vezes. Por isso, a indústria tem se mantido consistente e unida. “Um Brexit sem acordo teria um impacto devastador no setor e nas centenas de milhares de empregos que gera”, declarou a Sociedade de Fabricantes e Comerciantes de Motores (SMMT) em julho, em seu site.

Companhias aéreas devem sofrer

Outra grande indústria que deve sofrer é a aviação. A UE aprovou regras, no início deste ano, com a aproximação do prazo original de 29 de março para o Brexit, permitindo a continuidade de voos entre o Reino Unido e destinos na UE até março de 2020. Os britânicos retribuíram.

Embora isso signifique que os voos não serão cancelados, o acordo temporário apenas se aplica ponto a ponto, ou seja, companhias aéreas, como a controladora da British Airways, International Airlines Group (ICAG) (ICAG), a EasyJet (EZJ) e a Ryanair (RYA), não poderiam voar dentro da UE ou pegar novos passageiros nos aeroportos continentais para destinos no exterior.

Gráfico Semanal RYA
Gráfico Semanal RYA

“A probabilidade cada vez maior de um Brexit sem acordo no final de outubro prejudicaria as bases da Ryanair no Reino Unido e na Irlanda”, afirmou o CEO da Ryanair, Michael O’Leary, em uma mensagem em vídeo no início de agosto, enquanto divulgava planos para reduzir despesas com pessoal e aeronaves, por razões não vinculadas exclusivamente ao Brexit.

Empresas de serviços financeiros também perdem

Em um cenário de falta de acordo, as empresas britânicas de serviços financeiros perderiam seus “direitos de passaporte”, que lhes permite operar em qualquer lugar dentro do mercado único.

Gráfico Semanal RBS
Gráfico Semanal RBS

Acredita-se que bancos como Barclays (BARC), HSBC (HSBA) e RBS (RBS) estejam mais bem preparados do que as empresas não financeiras, pois estavam no centro das atenções dos órgãos reguladores pelo receio do grande distúrbio que poderiam causar ao sistema financeiro.

Mesmo assim, “a quantidade substancial” de planejamento para um Brexit desordenado não compensou as complexas questões que o setor enfrenta, declarou Michael Cole-Fontayn, presidente da Associação de Mercados Financeiros da Europa, em uma conferência no mês passado.

Os maiores bancos europeus, como Deutsche Bank (DBKGn), BNP Paribas(BNPP) (BNPP) e Credit Agricole (CAGR), disseram que estão preparados para todos os resultados do Brexit.

Em janeiro, o CEO do Deutsche Bank, Christian Sewing, afirmou que seu banco está bem preparado para todos os cenários do Brexit, inclusive no caso de uma falta de acordo, informou a Reuters. Um Brexit desordenado faria o Reino Unido entrar em recessão por pelo menos dois anos. Além de eliminar meio ponto percentual da produção econômica no resto da UE, afirmou Sewing, de acordo com a reportagem.

“As distorções seriam grandes demais para o comércio, para as condições de financiamento e para a confiança dos investidores.”

Caso o Reino Unido saia da UE, serão aplicadas algumas regras temporárias para garantir que as transações financeiras possam continuar. As câmaras de compensação terão acesso temporário até março de 2020, e os depositários centrais de valores mobiliários poderão fechar as operações em 18 meses.

O grupo de lobby pediu que os órgãos reguladores fornecessem prorrogações para uma certeza maior. A Autoridade de Mercados de Valores Mobiliários da Europa está preocupada com a forma como a negociação de ações será realizada em um cenário de falta de acordo e convocou sua contraparte britânica para definir planos.

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