Com arroba frouxa e ração cara, tem boi comendo até abacaxi; já há quem fale em “apagão” logo mais
Tanto pior que é o boi não reagir de preços é não ter suporte financeiro para bancar o custo da comida na ausência total de pasto. Aliás, nem ração convencional tem, porque os grandes confinamentos enxugaram o mercado. E tome mais preços ainda, portanto.
Então, se não tem milho, não tem soja, vai de silagem de abacaxi e farelo de casca de castanha do pará, ou bagacinho de cana.
“O que inventarem, estamos indo atrás”, confirma o médio produtor de Colina (SP), Juca Alves, que precisa engordar 300 cabeças de qualquer jeito, entre bezerros, garrotes, vacas eiradas (mais velhas) e bois.
De tão difícil de segurar os animais, para não rifar pelo preço de hoje, que ele até recusou oferta barata de reposição.
Alves disse ter lhe ofereceram um bezerro de 10@s, nelore bom, por R$ 2,800 mil, o que dá R$ 280 por @. “Muito barato”, mas recusado porque é um animal de cocho e ele não tem pasto e nem comida suficiente para o semiconfinamento.
Até a animais jovens para engorda, que elevava os custos da reposição com a retenção de matrizes desde 2020, perderam cotação, e os pequenos e médios pecuaristas não conseguem comprar. Caem nas mãos dos grandes.
Apagão
Como outros, Juca Alves não consegue aumentar a boiada para fazer dinheiro o ano que vem.
“Acho que podemos ter um apagão de boi logo mais”, complementa, lá do Mato Grosso do Sul, Frederico Stella.
Mercado interno ruim, preço do milho “que não vai dar trégua” – e ainda escasso – poderá ajudar a encurtar o rebanho já mais curto.
Aí, quem sabe, haverá um ganho de preço por menor oferta.
Lá do Norte paulista, Juca Alves está com alguma expectativa de que em setembro haja uma melhora na cotação do boi gordo, porque os pequenos e médios que tiverem bois ainda terão que esticar os preços.
Enquanto isso, a torcida para encurtar a oferta dos grandes produtores, de boi confinado, que travam os preços e tem ajudado os frigoríficos a manterem as escalas mais alongadas e os preços em torno de R$ 318 em São Paulo.