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Com apostas controversas, Moat Capital salta de tamanho

27 jan 2020, 10:30 - atualizado em 27 jan 2020, 10:30
Mercados Trade
O Moat Capital FIA, um dos fundos de ações com maior volume de dinheiro novo no ano passado, encerrou 2019 com captação líquida de R$ 2,6 bilhões (Imagem: Unsplash/@chrisliverani)

Um dos fundos de ações com maior captação líquida no ano passado aposta em algumas ações que foram deixadas para trás no recente rali da bolsa brasileira.

Assim como a maior parte dos investidores locais, a Moat Capital, que tem cerca de R$ 5,3 bilhões sob gestão, está confiante que o crescimento econômico deve acelerar em 2020, enquanto o governo busca avançar na agenda de reformas.

E algumas das principais posições da gestora incluem papeis mais sensíveis à recuperação da atividade. Outras, no entanto, estão um pouco mais longe do consenso, como Cielo (CIEL3) e Oi (OIBR3).

“Estamos otimistas com bolsa e o mercado começa a reconhecer esse crescimento mais robusto. Mas isso não quer dizer que vamos comprar só varejo”, disse o sócio e gestor da Moat Capital Luiz Aranha. “Buscamos olhar o que o mercado precifica em determinada ação e ver se isso é razoável. Esse é o nosso DNA”, disse Aranha, em entrevista em São Paulo.

Esse é um dos pilares que sustentam a tese de investimento em Cielo, que acumula queda de 74% ao longo dos últimos 24 meses. A empresa tem sacrificado os lucros no curto prazo para defender participação de mercado, em meio à forte competição no setor de pagamentos.

“Entendemos que a ação vale mais do que está sendo negociada e, em eventual momento, o lucro estabiliza e começa a crescer.”

Para a Oi, que registrou um prejuízo líquido de R$ 5,7 bilhões no terceiro trimestre e ainda tenta se recuperar de uma reestruturação da dívida de US$ 19 bilhões, Aranha cita o foco da empresa na expansão da rede de fibra óptica.

“Vemos valor nos ativos da empresa, com capacidade de gerar caixa muito grande”, disse Aranha. “Mas o mercado está olhando só o curto prazo, em que a companhia está queimando caixa.”

O Moat Capital FIA, um dos fundos de ações com maior volume de dinheiro novo no ano passado, encerrou 2019 com captação líquida de R$ 2,6 bilhões, de acordo com dados compilados pela CVM.

Isso representa mais de 3% da captação total de cerca de R$ 86 bilhões dos fundos de ações brasileiros no ano passado — a mais forte desde ao menos 2006, de acordo com a série histórica da Anbima.

O fundo foi criado no segundo semestre de 2014, quando o Brasil caminhava para a maior recessão de sua história em meio a uma turbulência política. Naquele ano, os FIAs tiveram uma saída líquida de cerca de R$ 14 bilhões.

“Montamos no pior momento do mercado”, disse Aranha. “Mas era o tempo necessário para que a empresa amadurecesse e tivesse track record, para termos a captação que tivemos em 2019”, disse. Depois, Cassio Bruno e Marcelo Romeiro ingressaram como sócios.

A performance do fundo ao longo dos últimos cinco anos supera a de cerca de 98% de seus pares, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

Entre as varejistas brasileiras, a Moat Capital tem uma visão construtiva para B2W e sua controladora Lojas Americanas. Outras posições incluem Petrobras, Banco do Brasil, JBS e Gerdau.

Recentemente, o fundo voltou a ter uma posição em Itaú Unibanco. É uma aposta que também conta com a sua própria dose de controvérsia: o MSCI Brazil Financials acumula queda de cerca de 5,6% em 2020, em meio à ameaça das fintechs e à agenda do Banco Central para estimular a competição no setor.

“Entendemos que a competição está muito mais na área de serviços, não na área de crédito”, disse Aranha. “Pode não ser o setor mais sexy, mas vemos uma assimetria muito boa.”

bloomberg@moneytimes.com.br