Com apostas altas, indústria brasileira de carnes domina delegação de Lula à China
Mais de um quarto dos líderes empresariais que viajam para a China com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na próxima semana tem ligações com a indústria brasileira de carnes, que está em expansão mas depende fortemente da demanda chinesa para a maior parte de suas exportações.
Dos quase 250 executivos participantes da viagem, 69 são de frigoríficos que dominam uma lista que inclui produtores de celulose, um grupo da indústria de soja e executivos dos setores de mineração, construção e serviços financeiros, de acordo com uma lista preliminar das delegações empresariais do governo vista pela Reuters.
A JBS (JBSS3), maior empresa de carnes do mundo, que enviou cerca de 26% de suas exportações globais para a China no ano passado, terá cerca de dez representantes na delegação, incluindo três da família Batista que controla o negócio.
A BRF (BRFS3), maior exportadora global de frango, pretende enviar cinco executivos, incluindo o presidente do conselho de administração Marcos Molina, fundador da Marfrig Global Foods (MRFG3), que detém o controle acionário da BRF.
Outros nomes da lista do governo, datada de 18 de março, incluem os CEOs da mineradora Vale, da fabricante de aviões Embraer, da produtora de celulose Suzano e o grupo de engenharia Novonor, ex-Odebrecht.
Lula parte para a China neste fim de semana, mas muitos dos executivos da delegação e associações viajaram antes do presidente, de acordo com autoridades do governo.
Representantes da JBS disseram que a China é um parceiro comercial importante e que a empresa pretende fortalecer os laços comerciais. A Marfrig não quis comentar. BRF, Vale, Embraer, Suzano e Novonor não retornaram um pedido de comentário.
A J&F, empresa de investimentos da família Batista, dona da JBS e com participações no setor de produção de celulose e energia, não quis comentar sobre suas expectativas para a viagem. Uma pessoa próxima à empresa disse que a China é o maior mercado da J&F.
Lista de desejos
A ABPA, associação brasileira dos frigoríficos de suínos e aves, está enviando pelo menos três representantes. Em nota, a ABPA informou que busca o reconhecimento de Pequim de que o Rio Grande do Sul e o Paraná estão livres de febre aftosa sem vacinação, para exportar carne suína com ossos e miudezas.
A ABPA também está pressionando por licenças de exportação para mais fábricas.
A China compra 44% das exportações brasileiras de carne suína em volume e cerca de 14% de frango, segundo dados da ABPA referente aos primeiros dois meses de 2023.
Duas grandes entidades da indústria de carne bovina, Abiec e Abrafrigo, também estão enviando representantes. Uma de suas prioridades é convencer a China a suspender o embargo à exportação de carne bovina aplicado em 23 de fevereiro, depois que um caso da doença da “vaca louca” atípico foi descoberto no Brasil.
Nenhuma das associações respondeu a um pedido de comentário.
“Amanhã faz um mês do embargo”, disse o analista da Datagro Pecuária, João Figueiredo. “A expectativa é positiva para a reabertura nos próximos dias, e potencialmente durante a missão (presidencial)”.
Segundo fonte do governo brasileiro, a China já tem todas as informações necessárias sobre o caso sanitário.
O Brasil também pretende renegociar os protocolos sanitários segundo os quais um único caso de “vaca louca” desencadeia uma proibição de exportação para todo o país. Os produtores de carne bovina no Brasil perdem até 25 milhões de dólares por dia com o embargo.
Cerca de 62% das exportações brasileiras de carne bovina foram para a China no ano passado.