Gestoras de Recursos

Com 78% de resgates, gestora Tarpon decide fechar o capital e mudará foco para participações minoritárias

31 dez 2018, 20:45 - atualizado em 31 dez 2018, 20:45

Por Arena do Pavini – A Tarpon Investimentos, uma das maiores gestoras especializadas em controlar grandes empresas via fundos, informou na sexta-feira que vai fechar seu capital na bolsa B3. A empresa fará uma oferta pública de recompra de ações. Grande investidora no mercado e famosa por suas aquisições e reformulações agressivas de empresas, algumas vezes polêmicas, a Tarpon foi controladora da BRF e vendeu recentemente a Somos Educação. Foi controladora ainda da fabricante de produtos de higiene Cremer.

A oferta de recompra para fechamento de capital será feita pela empresa representante dos controladores, a Mangue Participações, que vai oferecer R$ 2,25 por ação. Após a recompra, a empresa deverá cancelar seu registro de companhia aberta e sairá do Novo Mercado da B3.

Junto com o fechamento de capital, a Tarpon anunciou uma mudança no seu modelo de negócios por conta do aumento de resgates, que devem chegar a 77,6% do total atualmente sob gestão, e pela redução dos investimentos feitos por seus fundos depois das vendas de empresas. A gestora tinha em 30 de novembro R$ 3,84 bilhões, dos quais R$ 2,98 bilhões estavam comprometidos com resgates. Há quatro anos, a gestora chegou a ter quase R$ 10 bilhões em ativos.

Com isso, o capital dos sócios passou a representar 73% dos R$ 860 milhões em ativos que vão sobrar na Tarpon, justificando uma mudança na estratégia. No lugar de fundos híbridos, que hoje misturam compra de controle de empresas com participações, o foco será em fundos especializados em investimento em companhias abertas, como minoritária. Outro foco da gestora será na associação com outros gestores para investimento em companhias iniciantes ou no segmento de tecnologia. A exceção será o controle do Grupo Ômega Energia Renovável, que já faz parte do portfólio da gestora.

A empresa promoveu também uma dança das cadeiras, com o presidente executivo José Carlos Reis de Magalhães Neto, o Zeca, e o presidente do Conselho, Marcelo Guimarães Lopo Lima, trocando de posições. Zeca, que comandou os investimentos e reestruturações nos últimos anos, vai continuar à frente das decisões da gestora, mas também comandará o conselho.

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Experiência complicada na BRF

A mudança de modelo vem depois de algumas experiências frustrantes no comando da BRF, que afetaram a imagem da gestora perante os investidores e fundos de pensão. Após adquirir uma grande fatia da dona das marcas Perdigão e Sadia, a Tarpon fez um acordo com o empresário Abilio Diniz, com quem passou a dividir o comando da líder do mercado de aves e carnes industrializadas. Com executivos do mercado financeiro em posições-chave, a gestora e Abilio buscaram promover uma reestruturação que ampliasse ainda mais os ganhos da BRF.

Porém, maus resultados operacionais consecutivos, atribuídos em parte ao desconhecimento do negócio e a uma visão exageradamente financeira, e escândalos envolvendo suborno a fiscais e a laboratórios de controle sanitário, acabaram levando a gestora e Abilio a um conflito com os sócios majoritários, os fundos de pensão, especialmente a Previ, do Banco do Brasil, e a Petros, da Petrobras. A paz só foi selada com entrada de Pedro Parente no comando da empresa e o afastamento de Abilio do dia a dia da companhia. Além dos prejuízos e da queda do valor das ações, o desgaste levou a Tarpon a reduzir a posição de seus fundos em BRF.

Venda de ativos

A reformulação ocorre no momento em que vários fundos da Tarpon se desfazem de seus ativos. O mais recente foi a alienação de controle da Somos Educação. Atualmente, o portfólio dos Fundos Tarpon é composto predominantemente por participações nas empresas do Grupo Omega Energia Renovável e, em menor escala, por participação acionária na BRF. Essa participação na BRF, por sua vez, vai diminuir ainda mais. Ela poderá ser distribuída aos cotistas de determinados fundos da Tarpon, conforme negociações entre a companhia e os cotistas a respeito da antecipação do pagamento de resgates desses fundos.

Aumento dos resgates

Houve também um aumento expressivo dos pedidos de resgates dos fundos pelos investidores. Após a conclusão das distribuições aos cotistas dos recursos oriundos da venda de participação acionária na Somos Educação, o total de resgates programados em 30 de novembro de 2018 estava em R$ 2,98 bilhões, ou 77,6% do total de R$ 3,84 bilhões de ativos da gestora na mesma data, informou a gestora.

Com tantos resgates, a maior parte do capital investido acabou sendo dos próprios sócios da Tarpon. Os investimentos detidos por essas pessoas – o chamado capital proprietário – representava 73,1% dos ativos totais que restariam após os resgates programados.

Diante do novo contexto a Tarpon anunciou que pretende promover ajustes significativos em sua estratégia de investimentos e no modelo de acesso e originação de novas oportunidades de investimentos.

Novo modelo

Segundo a gestora, o modelo anterior, de fundos híbridos, que permitiam tanto participações minoritárias como o controle das empresas de grande porte, permitia investimentos em ativos ilíquidos, com longo prazo de maturação. Isso era possível pela base de investidores, formada em grande parte por clientes institucionais estrangeiros com visão de longo prazo. A fatia dos controladores da gestora era alta, de 10% a 15% dos fundos, mas muito abaixo dos níveis atuais, o que permitia também alinhar os interesses com os outros investidores.

Com a redução dos investimentos, a Tarpon agora pretende restringir sua atuação direta em duas vertentes principais: portfólio de investimentos em companhias listadas em bolsa de valores e o investimento no Grupo Omega Energia Renovável. A gestora lembra que o foco nesses investimentos é  justificado, pois além de representarem os principais ativos dos Fundos Tarpon, a companhia possui um longo histórico de atuação e expertise nessas categorias de investimento, pois foi  fundada como gestora focada em bolsa de valores. Já o investimento no Grupo Omega Energia Renovável completou dez anos em 2018.

A companhia diz que pretende, ainda, explorar novas vertentes de investimentos, com perfil diferente daqueles historicamente realizados pela Companhia, seja pelo estágio de desenvolvimento das companhias alvo (companhias mais novas e em fase de crescimento acelerado), seja pelos modelos de negócio de tais companhias (incluindo negócios focados em digital e tecnologia), o que implica em investimentos de menor porte e maior potencial de risco comparados a investimentos anteriormente realizados.

Nesses novos segmentos, a ideia da Tarpon é ter participações societárias minoritárias (em torno de 20% do capital social). As gestoras associadas poderão incluir empresas já existentes, joint ventures, e novas gestoras lideradas por atuais e antigos executivos da companhia (como Pedro de Andrade Faria) ou mesmo terceiros. Nessas associações, não será exigida da companhia a contribuição de recursos ao capital das gestoras, uma vez que contarão com estratégias própria de captação de recursos, e a Tarpon poderá, ainda, compartilhar sua atual estrutura de serviços de suporte com as gestoras associadas.