Maconha

Colômbia, marcada pelo tráfico de cocaína, aposta em cannabis

09 out 2019, 12:49 - atualizado em 09 out 2019, 12:49
País tenta se livrar da reputação de estado violento que deu origem a Pablo Escobar (Imagem: Pixabay)

Empresas de cannabis se apressam para iniciar operações na Colômbia, de olho em ganhar participação de mercado em uma das capitais da América Latina mais atingidas pelo tráfico de drogas. A iniciativa coincide com a maior disposição de governos em todo o mundo de legalizar a maconha.

Produtores, muitos com apoio financeiro de empresas do Canadá e dos EUA, estimam que foram investidos US$ 500 milhões para comprar terras agrícolas, construir estufas e criar laboratórios para produzir óleos, cremes e outros produtos que contenham canabidiol, ou CBD, um extrato usado para vários tipos de tratamento, como dor crônica e insônia. Até agora, nenhum deles produz maconha com alto teor de THC, o ingrediente psicoativo da planta.

Abrir o mercado para a maconha pode parecer surpreendente para um país que há muito tempo possui o constrangedor status de maior produtor de cocaína do mundo e que tenta se livrar da reputação de estado violento que deu origem a Pablo Escobar.

Mas, com o mercado global de cannabis estimado em mais de US$ 50 bilhões até 2025, a Colômbia tenta se tornar um centro de produção para exportar a países que legalizaram o uso da planta. A legislação colombiana permite pequenas quantidades de maconha para consumo pessoal, mas o país ainda não definiu regras para uso medicinal.

“Quando você menciona a Colômbia, infelizmente, algumas pessoas relacionam esse nome com drogas ilegais”, disse Julian Wilches, ex-diretor de política de drogas do Ministério da Justiça, que cofundou a empresa de cannabis medicinal Clever Leaves, fundada em 2016. “Temos aqui a oportunidade de utilizar uma substância controlada e mudar essa reputação, de trazer saúde às pessoas e desenvolvimento ao nosso país.”

A Clever Leaves produz cerca de 24 toneladas de cannabis por ano, cultivadas em estufas em uma ampla fazenda situada em um vale a cerca de 2.500 metros acima do nível do mar, nos Andes. Com uma expansão já em andamento, a fazenda deve ser capaz de produzir cerca de 324 toneladas no próximo ano, e assim se tornar uma das maiores produtoras do mundo.

Como a Colômbia ainda não finalizou as regulamentações para o mercado doméstico, os produtores se concentram nas exportações.

No mês passado, o presidente da Colômbia, Ivan Duque, prometeu reduzir a burocracia e apoiar o setor, cuja receita deve aumentar para US$ 791 milhões em 2025, contra US$ 99 milhões em 2020, segundo um estudo preliminar do think tank Fedesarollo. Pesquisadores estimam que, somente nos EUA, o mercado de CBD movimente quase US$ 23 bilhões até 2023.

A Clever Leaves se tornou uma das primeiras empresas colombianas a fechar contratos, com exportações para o Reino Unido e Polônia. Agora tem como alvo a Alemanha, depois de receber a aprovação da União Europeia.

Enquanto a Colômbia busca aumentar as exportações, já enfrenta a concorrência de outros países da América Latina, como México e Argentina, que criaram leis para desenvolver o setor. A Colômbia está mais avançada no processo, de acordo com Kyle Detwiler, presidente da Northern Swan Holdings, uma empresa de Nova York que investiu cerca de U$ 40 milhões na Clever Leaves.

“É a região perfeita para o cultivo”, disse.

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