Colheita de soja começa no Brasil em áreas de MT que farão 2ª safra de algodão
A colheita brasileira de soja começou em algumas áreas de Mato Grosso, onde produtores arriscaram semear mais cedo a oleaginosa visando fazer uma segunda safra de algodão em boa janela climática, disseram integrantes do setor produtivo nesta segunda-feira, manifestando preocupações com o clima irregular no ciclo 2020/21.
A colheita no Brasil, maior produtor e exportador de soja, deve ganhar volume mais tarde nesta temporada, acelerando o ritmo no final do mês em Mato Grosso, já que o início do plantio atrasou na maioria das áreas devido à escassez de chuvas satisfatórias, conforme relatos de produtores e especialistas.
“Esses produtores (que começaram a colheita agora) semearam esta soja em meados de setembro, na poeira, na primeira chuva que deu. O interesse deles não é a primeira safra, é a segunda safra de algodão”, disse o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), Bartolomeu Braz Pereira.
“Colhem a safra de soja mais rápido, e a grande safra deles é o algodão”, acrescentou Pereira à Reuters.
O grupo Amaggi, citado pelo presidente da Aprosoja entre aqueles que já iniciaram os trabalhos, confirmou à Reuters o início da colheita, por meio da assessoria de imprensa.
“A colheita foi iniciada em uma unidade e outras deverão ter esse início na sequência, nos próximos dias. Por ora, foi iniciada na fazenda Tucunaré, que fica na região de Sapezal (MT)”, afirmou a Amaggi, acrescentando que foram semeados 31.400 hectares de soja na Tucunaré.
A Fazenda Água Quente, de propriedade da Amaggi na mesma região oeste, deve iniciar a colheita na terça-feira. Ao todo, o grupo semeou 124.012 hectares de soja 20/21.
“Em grande parte, logo que se colhe a soja 20/21 já está sendo plantado algodão safrinha”, disse a Amaggi. A companhia ressaltou também que, “apesar das condições climáticas adversas”, o início da colheita do grupo teve início dentro da “janela comum de safras anteriores”.
A Amaggi não detalhou as produtividades médias das primeiras lavouras colhidas.
Há indicações de produtores que as lavouras semeadas mais cedo podem sofrer mais os efeitos do clima.
A irregularidade climática no gigante produtor de soja Mato Grosso –e que tradicionalmente inicia mais cedo a colheita– e em outras regiões produtoras deve limitar o potencial produtivo na temporada atual, e mais chuvas são necessárias para a garantia de uma safra que ainda é estimada em um recorde de 127 milhões de toneladas pela Aprosoja Brasil.
“É fundamental a chuva neste período de janeiro e fevereiro, é isso que vai determinar a produtividade das lavouras. O clima ainda é uma incógnita, ainda não é certo se teremos uma grande safra”, disse o presidente da Aprosoja Brasil.
Atraso na Colheita
Eder Ferreira Bueno, produtor de Ipiranga do Norte (MT), confirmou o atraso na colheita.
“Tínhamos expectativa de colher a partir do dia 10 de janeiro. Mas deve começar mesmo lá por dia 25 e se intensificar em fevereiro. O tempo atrapalhou, sim. Teve perdas. Chuva só deu uma estabilizada na segunda quinzena de dezembro. Teve regiões em que não choveu suficiente para encher os grãos…”, afirmou ele.
“Tem propriedades que tão sofrendo. Outras propriedades que plantaram lá no início também estão sofrendo. Os que plantaram mais cedo são principalmente os produtores de algodão, que precisavam iniciar a segunda safra um pouco mais cedo. Arriscaram e acabaram perdendo produtividade”, acrescentou Bueno, ressalvando que a soja plantada um pouco mais tarde vai ter “uma produção um pouco melhor”.
“Na minha propriedade eu não posso reclamar. Eu não tive tanta falta de chuva assim. Mas é visível a diferença para os outros anos.”
Em 3 de janeiro do ano passado, o Mato Grosso tinha colheita em apenas 0,23% da área no Estado, de acordo com o instituto Imea, que ainda não divulgou dados para 2021. Mas, segundo as indicações de especialistas, é pouco provável que o Estado consiga colher cerca de 25% da área até o final de janeiro deste ano, como ocorreu na mesma época em 2020.
Segundo Endrigo Dalcin, produtor de Nova Xavantina, no leste de Mato Grosso, poucos agricultores já iniciaram os trabalhos.
“Toda a condução da lavoura está bem atrasada. Nós vamos demorar bastante neste ano para iniciar a colheita”, disse ele, acrescentando que o leste de Mato Grosso sofreu mais com a falta de chuvas. “Nossa produtividade vai ser menor do que no ano passado.”
Em boletim agroclimático nesta segunda-feira, o meteorologista Marco Antonio dos Santos, da Rural Clima, afirmou que as chuvas continuarão ocorrendo em forma de pancadas nas principais regiões produtoras de soja do Brasil, indicando que não há sinalização de períodos sem precipitações.
Segundo ele, a “tendência” é de chuvas “com boa frequência” ao longo do mês de janeiro, “permitindo tanto o desenvolvimento da lavoura quanto realização de tratos culturais, e até mesmo a realização da colheita da soja, que já começa a ocorrer em algumas partes de Mato Grosso”.