Colheita de grãos da Ucrânia deve ter quebra de mais de 15% em 2023; o que o mercado pode esperar?
A colheita de grãos da Ucrânia em 2023 deve cair para 44,3 milhões de toneladas. O volume representa uma redução de 16,57% na comparação com as 53,1 milhões de toneladas em 2022. Além disso, em 2021, houve uma colheita recorde de 86 milhões de toneladas de grãos.
A queda reflete uma redução de áreas semeadas no país do leste europeu devido à invasão russa, de acordo com previsão do Ministério da Agricultura ucraniano, publicada pela Reuters. Com resultado, a estimativa implica em uma redução de 20% em relação à média dos últimos cinco anos.
A Pasta disse que a área de semeadura de grãos deve totalizar 10,2 milhões de hectares, o equivalente a 1,4 milhão de hectares a menos que no ano anterior. “A redução na área de plantio de grãos, juntamente com o declínio projetado nos rendimentos médios causados pelo aumento dos preços dos principais insumos, afetará os volumes da colheita”, disse o ministério, segundo a agência internacional.
Ucrânia: produtor e exportador
No total, a produção deve somar 16,6 milhões de toneladas de trigo, 21,7 milhões de toneladas de milho e 4,8 milhões de toneladas de cevada. Para se ter uma ideia, em 2022, a Ucrânia colheu 20,5 milhões de toneladas de trigo, 25,6 milhões de toneladas de milho e 5,6 milhões de toneladas de cevada.
Seja como for, a Ucrânia é um grande produtor e exportador global de grãos e oleaginosas. No entanto, a produção e as exportações caíram drasticamente depois que a Rússia ocupou uma faixa do território ucraniano e bloqueou os principais portos do Mar Negro na segunda metade da temporada passada.
No acumulado da safra 2022/2023, as exportações de grãos da Ucrânia caíram 17,7% até 27 de março. O desempenho reflete uma colheita menor e as dificuldades logísticas causadas pela invasão russa desde fevereiro do ano passado.
E o mercado?
Na avaliação do analista da Safras & Mercado, Elcio Bento, essa menor safra ucraniana e a redução do volume exportado pelo país, em função da guerra, implica em uma redução da participação da Ucrânia no mercado internacional de grãos, principalmente para o trigo.
Ele explica que no ciclo 2021/2022, a produção de trigo foi de 33 milhões de toneladas; Desse total, esperava-se a exportação de 21 milhões de toneladas devido a demanda interna do país. Porém, exportou-se apenas 18 milhões de toneladas, sendo que os 3 milhões de toneladas restantes ficaram para a safra 22/23.
Já na atual temporada, a produção foi de 21 milhões de toneladas. Com esse volume, é possível exportar 13,5 milhões de toneladas, uma redução de 3,5%.
Já na temporada 2023/2024, caso sejam confirmadas a estimativa de 16,6 milhões de toneladas do cereal, o saldo exportável do país teria mais uma vez uma redução. Assim, ficaria entre 9 e 10 milhões de toneladas.
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“A Ucrânia vem de grandes reduções nas suas estimativas. A safra 2021/2022 enfrentou quatro meses de guerra, considerando junho de 2021 a maio de 2022, quando houve a explosão de preços. Com menos um fornecedor, que está com uma menor oferta, haverá maior dependência do que vai acontecer com outros fornecedores”, avalia Bento.
Por isso, o analista da Safras & Mercado afirma que ainda é cedo para dizer que somente o fator Ucrânia vai causar um grande impacto no mercado internacional de grãos. Segundo ele, ao mesmo tempo em que a produção ucraniana de trigo teve uma queda de quase 10 milhões no ciclo 22/23, outros países da região do Mar Negro, como Rússia e Cazaquistão, tiveram um aumento na produção do cereal na ordem de 17 milhões e 15 milhões de toneladas, respectivamente.
Portanto, apesar da guerra, houve um aumento na oferta da região, mesmo com a quebra ucraniana. “Não adianta olhar só para essa quebra na Ucrânia. É preciso esperar para ver o que vai acontecer em outros países, como a Argentina, que está com uma queda de 9 milhões de toneladas esse ano em função dos impactos climáticos”, pondera.
Ainda assim, Bento afirma que, em um cenário normal, a Argentina deve produzir muito mais. Para ele, a Índia também deve ter um aumento de 4 milhões de toneladas. “Então, existem outros mercados”, finaliza.
Fertilizantes
Já em relação aos fertilizantes, o analista de inteligência de mercado da Stone X, Felipe Sawaia, explica que a Ucrânia não está entre os grandes países consumidores e produtores. Com isso, não há um fator ucraniano sobre as cotações, seja pelo lado da demanda ou da oferta.
Porém, a Rússia é um país central no mercado dos insumos. O país é o terceiro maior produtor de nitrogênio (N), o quinto maior produtor de P2O5 (pentóxido de fósforo) e segundo maior produtor de K2O (óxido de potássio). Ou seja, caso a guerra se intensifique ainda mais e alguns países decidam embargar a produção russa, os preços devem entrar novamente em uma rota inflacionária, prevê Sawaia.
Com informações da Reuters