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Coach defende seu lugar no mercado para além de banalização do termo

27 dez 2021, 12:42 - atualizado em 27 dez 2021, 13:20
Executivo
Sem festinha: coachs sérios não apoiam positividade tóxica, dizem especialistas (Imagem: Pixabay)

Desde que surgiu e se popularizou no Brasil, a atividade de coaching logo ganhou ares pejorativos no mercado de trabalho. Entre os leigos, criou-se a opinião de que qualquer um pode ser coach, basta dizer que é. Assim, não é de espantar que isso abra espaço para que a profissão fique ligada a aspectos problemáticos do mundo profissional, como a romantização do excesso de trabalho e a positividade tóxica.

Porém, para além da banalização da profissão, coaches e associações do setor tentam transformar essa imagem e mostrar que a metodologia ajuda a desenvolver profissionais. Do lado deles, o mercado de trabalho corrobora a ideia: a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) nacional e sua seção paulista, por exemplo, possuem comissões especiais de coaching jurídico. No mundo corporativo, empresas, especialmente multinacionais, contratam o acompanhamento de coaches para funcionários.

“O olhar pejorativo acontece em várias profissões, principalmente naquelas que não têm barreira de entrada. Amanhã eu acordo e digo que sou coach. A piada pronta não é só brasileira e tem fundo de verdade por esse conjunto de profissionais que não tem o preparo e a ética que são requeridos de um coach sério, que tem certificação”, defende Marcus Baptista, vice-presidente do Conselho Deliberativo da International Coaching Federation (ICF Brasil) – instituição sem fins lucrativos que forma e certifica profissionais de coaching.

O que faz um coach

Por definição, o coaching é um processo de desenvolvimento que pode ser pessoal ou profissional. Com base no autoconhecimento e em técnicas, ele se propõe a ajudar a pessoa a entender os seus objetivos, suas crenças limitantes e traçar os caminhos para tomar decisões.

Não existe uma graduação ou um requisito para ser coach – daí vem a preocupação dos especialistas com a banalização da profissão. O que há são entidades que oferecem formação (como a Sociedade Brasileira de Coaching) e certificação (caso da International Coaching Federation). O ICF, por exemplo, tem 45 mil associados mundialmente, sendo 600 deles no Brasil.

Segundo os especialistas da área, uma confusão comum é a crença de que o processo de coaching é similar a um atendimento de terapia ou que seja uma prática motivacional. Para eles, as sessões estão longe de ser como as frases a que elas geralmente são associadas nas redes sociais, como “foguete não tem ré!” e “foco, força e fé”.

“Existe uma vilanização da profissão, porque a gente acha que coaching é motivacional. Um coach profissional sério não está buscando eliminar as emoções. Ele entende que, quando você fala de raiva, você provavelmente está falando de uma injustiça e vai te ajudar a identificar o que pode estar sendo injusto nessa relação. Não tem nada disso de “uhul, você dá conta, é só acreditar!”, afirma Daniel Silva, que além de agilista (especialista em metodologia ágil), também é coach.

Profissional da área de tecnologia da informação, Daniel buscou o coaching há alguns anos como ferramenta de desenvolvimento no trabalho e acabou descobrindo uma nova forma de atuação. Enquanto escolhia uma capacitação, ele conta que ficou receoso, justamente pela fama que a área já tinha.

“Eu era um profissional típico de TI, um especialista muito bom, mas que precisava desenvolver soft skills. Os relatórios mundiais já mostravam que o machine learning viria forte e quais competências o profissional do futuro precisaria desenvolver, como liderança e comunicação. Mas quando fui buscar a formação, eu sabia que era mal falado, então eu foquei em uma formação sólida para aprender. Fiz uma formação de nove meses”, conta.

Depois do curso, da área de negócios de tecnologia ele passou a trabalhar com desenvolvimento de times. Sua atuação girou em torno de projetos que ofereciam coaching para os outros funcionários da empresa, como mulheres que ascendiam aos cargos mais altos da gerência. Hoje, além de trabalhar como agilista em uma consultoria suíça, ele presta serviço de coaching para empresas e pessoas físicas.

Capacitação de altos executivos

O mais comum no mercado, segundo os especialistas consultados, é a procura do serviço por executivos já em cargos mais altos, que se veem com dificuldades para lidar com novas responsabilidades, como liderança e relacionamento interpessoal. No entanto, o processo é indicado para profissionais em todos os momentos da carreira.

“Há pessoas com 20 anos de idade que procuram o coaching para entender como equilibrar a sua visão de mundo e que caminhos seguir. Depois, tem o profissional com cerca de 30 anos, que buscou o seu lugar, mas agora precisa conquistá-lo, trabalhar a performance. Aí o coaching serve para fazer um balanço das coisas, do que ele está colocando em risco”, explica Marcus.

“Depois, tem a pessoa em posição executiva, lá pelos 40 anos de idade, que já conquistou o seu lugar, mas precisa viver as suas verdades e calibrá-las. A carreira em corporação é sempre algo muito solitário, então só essa conversa já é terapêutica. Por fim, ainda cabe o coaching para quem está se aposentando. Como eu saio da vida corporativa? O que fazemos com os anos que sobram?”, completa.

Assim como um atendimento psicoterapêutico (embora as duas modalidades sejam diferentes), o processo do coaching varia de acordo com o cliente, com seus objetivos e a linha seguida pelo coach. No caso da psicóloga e coach Lara Castro, os atendimentos de coaching giram em torno de 10 a 12 sessões.

Até ela chegam profissionais que querem se desenvolver por conta própria e, principalmente, empresas interessadas em capacitar seus executivos. Nestes casos, há um alinhamento com o que a empresa espera que seja desenvolvido – pela figura do gestor imediato de quem vai passar pelo processo de coaching ou do RH.

“A maioria dos processos que chegam até mim são de demandas de relacionamento interpessoal ou de gestão de líderes, de como exercer a liderança. Muita gente também quer se apropriar da carreira que tem. A pessoa acaba de assumir uma uma direção, mas o comportamento ainda está no degrau anterior. O que a impede de assumir aquilo a que ela se disponibilizou?”, exemplifica.

Produtividade a qualquer custo?

Um outro problema frequentemente relacionado ao coaching é a romantização do excesso de trabalho. Aquela famosa ideia de que o sucesso vem quando você trabalha e os outros dormem. No entanto, os especialistas explicam que a produtividade não necessariamente faz parte do objetivo.

“O coaching pode ser procurado por profissionais que desejam alcançar melhores resultados, mas o aumento de performance não é o objetivo principal, ele é uma consequência. Depois de alinhar valores e traçar um plano de ação, naturalmente o aumento de performance acaba vindo. Às vezes, o que a pessoa tem é um problema de gestão de tempo e isso impacta na produtividade”, explica Luisa Comar, advogada, coach e mentora de carreira.

A advogada conheceu o coaching após a graduação, em 2011, quando estava em dúvida de qual caminho seguir. Depois de se certificar como coach pela Sociedade Brasileira de Coaching, ela continuou exercendo a advocacia, mas passou também a oferecer o coaching para outros profissionais do Direito. Com o crescimento da sua empresa, hoje ela já deixou de ofertar o coaching sozinho para focar em mentorias.

A diferença, diz ela, é que o coaching é um processo de autoconhecimento e tem ferramentas próprias. Já na mentoria, o mentor não precisa ser coach, mas precisa saber muito da área de atuação da pessoa que ele vai mentorar.

Por exemplo, para ser coach do presidente de uma empresa, o profissional precisa ser formado em coaching e dominar as técnicas do processo, mas não é necessário que ele já tenha presidido uma empresa. No caso do mentor, é ele quem vai apontar alguns caminhos a partir de suas experiências profissionais, então é aconselhável que ele já tenha ocupado a cadeira de presidência.

“Na mentoria, a pessoa vai te ajudar a achar respostas que muitas vezes vão vir de experiências que ela já teve. No meu caso, depois de sete anos de empresa, eu percebi que já tinha chegado num nível de função, cargo e faturamento que eu poderia mentorar outras pessoas. Então hoje, eu mentoro outras mulheres advogadas, assim como eu, para elas entenderem o que desejam da carreira, como podem alcançar seus objetivos com qualidade de vida e equilíbrio emocional”, explica Luisa.

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