Clima no Brasil divide analistas sobre perdas da safra de café
Primeiro, não choveu o suficiente. Então, veio o dilúvio. As oscilações foram tão fortes no Brasil, maior fornecedor mundial de café, que agora existe uma grande divisão entre analistas sobre o impacto da instabilidade do clima na safra.
As previsões para a safra de café arábica de 2021 variam muito, de apenas 25 milhões de sacas até 36 milhões. Como cada saca pesa 60 quilos, a diferença é de cerca de 660 mil toneladas, o suficiente para atender o consumo dos EUA por quase cinco meses.
As preocupações com a produção de café do Brasil ajudaram a impulsionar os futuros do arábica em mais de 10% neste mês, e os preços são negociados perto do maior nível desde dezembro de 2019. Safras menores na América Central pioram a perspectiva de oferta justo quando a economia mundial se prepara para reabrir e reativar a demanda.
Jorge Esteve, vice-presidente da Empresa Interagrícola, unidade da Ecom Trading, está entre os otimistas de que as chuvas recentes vão melhorar as condições da safra. A empresa estima produção de 33 milhões a 34 milhões de sacas.
Em 2021, cafeicultores nas regiões de arábica vão colher o ciclo bianual de baixa produtividade, que foi afetado pela seca.
Otimismo com 2022
As chuvas recentes “têm sido suficientes para estancar as perdas” com a seca que afetou o desenvolvimento inicial da safra de 2021, e a umidade pode até aumentar um pouco a produtividade, disse Esteve. Além disso, ele não está preocupado com o fato de que o clima seco reduziu o potencial para a safra de 2022.
No próximo ano, haverá “uma colheita muito boa”, disse. E, para 2021, “estamos muito otimistas de que as chuvas serão muito úteis para a produtividade”, disse em entrevista por telefone no Porto de Santos.
Do outro lado do debate está Regis Ricco, diretor da RR Consultoria Rural. Mesmo com as recentes boas chuvas, em sua opinião as perspectivas para 2021 ainda indicam que a safra de arábica cairá em mais da metade, para 25 milhões de sacas, em relação aos 53 milhões no ano passado.
E, para atingir essa previsão, o clima precisa se manter favorável no resto da temporada, disse por telefone.
A analista Judy Ganes, que faz um segundo tour pelas principais regiões produtoras de grãos arábica e robusta do Brasil, também está mais pessimista com as perspectivas para a safra.
Riscos em 2022
Mesmo com as chuvas recentes e previsão de maior volume de precipitação, a seca foi tão forte que pode até reduzir a safra de 2022, disse por telefone de Minas Gerais. Segundo Ganes, a falta de umidade eliminou de 20% a 30% do potencial de crescimento nas áreas mais atingidas no próximo ano, disse.
“A safra não está uniforme, e agricultores disseram que não vão recuperar o custo de colher o café”, disse Ganes. “As fazendas de café de baixa altitude, em sua maioria mecanizadas, sofreram mais. Fazendas em altitudes mais altas foram menos prejudicadas.”
Alguns produtores acreditam que “o tamanho do grão será menor do que o normal e a qualidade não será boa”, disse. A produção para o próximo ano “foi definitivamente comprometida”, acrescentou Ganes.