Clima, dólar, cautela e Argentina: o que deve mexer com os preços do trigo em 2025?
O ano de 2024 foi marcado por um cenário desafiador para o mercado de trigo no Brasil, moldado por volatilidade nas cotações internacionais, adversidades climáticas e uma expressiva redução na produção interna.
Esses fatores combinados impactaram diretamente a oferta e os preços, criando um ambiente de grande incerteza para produtores, moinhos e importadores.
No início do ano, os preços internos foram pressionados pela concorrência com a Argentina, que se destacou como principal fornecedor devido à sua produção robusta e preços competitivos.
A paridade de importação com o trigo argentino, com um saldo comercial de 9,5 milhões de toneladas, reduziu os valores no mercado brasileiro, com quedas de 2,9% no Paraná e 1,2% no Rio Grande do Sul. Enquanto isso, a demanda crescente do sudeste asiático por trigo argentino aumentava a competição pelos grãos.
Produtores esperam por melhores preços
À medida que os meses avançaram, as negociações permaneceram lentas, refletindo a expectativa dos produtores em obter melhores preços diante da escassez de trigo de boa qualidade.
No Paraná, os preços oscilavam entre R$ 670 e R$ 690 por tonelada, enquanto no Rio Grande do Sul variavam entre R$ 1.190 e R$ 1.200. Apesar das condições adversas, a competitividade das exportações argentinas continuou a influenciar os preços brasileiros, destacando a dependência do país de fornecedores externos.
O mercado começou a se ajustar em março, com uma leve alta nas cotações. No Paraná, os preços chegaram a R$ 1.250 por tonelada, e no Rio Grande do Sul, permaneceram entre R$ 1.190 e R$ 1.200.
Contudo, o cenário tornou-se mais crítico em abril, quando os preços saltaram para R$ 1.350 por tonelada nos dois estados, impulsionados por fatores externos como a valorização nas bolsas de Chicago e Kansas, além da recuperação nos preços do trigo argentino e russo.
Em maio, essa trajetória de alta continuou, com preços no Paraná alcançando R$ 1.523, uma elevação de 13,7% em relação ao mês anterior. A escassez de oferta no Brasil, combinada com custos elevados de importação, consolidou um mercado de preços firmes, em que até o trigo argentino, tradicionalmente mais barato, tornou-se um elemento de pressão.
Dólar e clima afetam mercado de trigo
Durante o meio do ano, a volatilidade global e a valorização do dólar trouxeram incertezas adicionais. Mesmo com o trigo norte-americano ganhando competitividade, os preços internos acumularam altas expressivas.
Em julho, o ciclo comercial 2023/24 encerrou com preços 16,6% superiores ao ano anterior, enquanto a produção nacional registrou queda de 25%, reflexo da redução de 15% na área plantada.
O segundo semestre foi marcado por intensas adversidades climáticas. Geadas severas e escassez hídrica afetaram as lavouras, principalmente no Paraná, que registrou perdas significativas.
No Rio Grande do Sul, embora o impacto tenha sido menor, a expectativa de safra foi reduzida para 3,95 milhões de toneladas. Com a entrada da nova safra, os preços permaneceram próximos à paridade de exportação, mas as incertezas logísticas e tributárias continuaram limitando a competitividade.
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Produtores adotam postura cautelosa
Em setembro, compradores e produtores mantiveram uma postura cautelosa. Enquanto os preços no Rio Grande do Sul estavam em R$ 1.250 por tonelada, no Paraná as cotações convergiram para níveis da nova safra, variando entre R$ 1.300 e R$ 1.350 por tonelada. O histórico de quebra de safra e elevações abruptas nos preços no ciclo anterior justificou a hesitação no mercado.
“Em dezembro, vem se observando uma relativa estabilidade. Os preços FOB no Paraná variaram entre R$ 1.350 e R$ 1.400 por tonelada, enquanto no Rio Grande do Sul ficaram em R$ 1.175. A baixa demanda por farinha manteve as indústrias pouco ativas, enquanto o mercado exportador apresentou-se como alternativa viável para os vendedores”, diz Elcio Bento, analista de trigo na Safras & Mercado.
O ano de 2024 para o mercado de trigo brasileiro foi caracterizado pela dependência de importações, vulnerabilidade climática e flutuações cambiais.
Apesar dos desafios, a safra nacional desempenhou um papel crucial no equilíbrio do mercado interno, ressaltando a necessidade de estratégias de mitigação de riscos e maior eficiência na gestão de oferta e demanda para enfrentar ciclos futuros.
O que mexeu com os preços do trigo em Chicago e o que esperar para 2025?
O mercado de trigo na Bolsa de Chicago (CBOT) em 2024 foi marcado por intensa volatilidade, com cotações variando entre 525,94 e 660,62 cents por bushel. Essa dinâmica refletiu um cenário global complexo, onde fatores climáticos, geopolíticos e econômicos desempenharam papéis decisivos.
O início do ano registrou queda nas cotações devido a colheitas robustas na Rússia e na Austrália, que elevaram os estoques globais. A Rússia, em particular, destacou-se com preços agressivamente competitivos, pressionando os valores internacionais e dificultando a competitividade de exportadores tradicionais como os Estados Unidos.
No segundo trimestre, o mercado recuperou força, alcançando o maior preço do ano em maio, impulsionado por secas nos EUA e na União Europeia, além das incertezas climáticas associadas ao El Niño.
No entanto, o período seguinte trouxe nova pressão descendente, principalmente em agosto, quando as safras do hemisfério norte, lideradas pela Rússia, inundaram o mercado.
A fraca demanda em economias emergentes, impactadas pela valorização do dólar, também contribuiu para a queda nos preços.
Nos últimos meses de 2024, o mercado apresentou maior estabilidade, refletindo uma combinação de estoques moderados, melhora nas condições climáticas em algumas regiões produtoras e demanda contida.
Ainda assim, a volatilidade ao longo do ano evidenciou a influência de variáveis como o impacto do El Niño, a guerra na Ucrânia e a agressividade comercial russa.
Para 2025, o mercado deverá continuar sensível a essas forças, enquanto observa os desdobramentos climáticos e comerciais que moldarão a oferta e a demanda globais.