Economia

Citi passa a ver alta da Selic em 2021 e alerta para teto de gastos

28 jan 2021, 16:22 - atualizado em 28 jan 2021, 16:22
Banco Central
Se o Copom pretende implementar um processo de normalização parcial, o esperado aumento da taxa Selic pararia em um nível provavelmente menor que 6% (Imagem: Leonardo Sá/Agência Senado)

O Citi revisou seu cenário para a trajetória dos juros no Brasil e passou a ver alta da Selic em 2021, para 4%, ante expectativa anterior de estabilidade da taxa em 2%, diante do tom “hawkish” do Banco Central em meio a crescentes preços das commodities e ao balanço “assimétrico” de risco considerado pela autoridade monetária.

Depois da divulgação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), na terça-feira, alguns profissionais do mercado financeiro já haviam começado a antecipar suas projeções de aumento de juros.

“De maneira geral, apesar de as projeções de inflação do Copom sugerirem elevação da taxa de juros a partir do segundo semestre de 2021, o balanço assimétrico de riscos e nossas perspectivas fiscais indicam uma primeira alta de 25 pontos-base da Selic em junho. Em seguida, a mensagem de ‘processo de normalização parcial’ sugere altas da taxa Selic até 4% ao final do ano”, disseram Leonardo Porto e Paulo Lopes, do Citi, em relatório com data desta quinta-feira.

Antes, o Citi previa que os juros ficariam parados em 2% ao longo do ano tendo como base cenário no qual a segunda onda de Covid-19 começaria a se acomodar no segundo semestre de 2021 e o prejuízo nas frentes econômica e fiscal seria limitado, o que deixaria o IPCA perto da meta central tanto em 2021 quanto em 2022.

Agora, os profissionais citaram a deterioração do quadro inflacionário e o menor espaço para a política monetária acomodar choques de preços.

Mas, para além disso, avaliaram que o endurecimento da comunicação do BC sobre a alta dos preços está mais ligado a uma mudança na função de reação do Bacen em direção a uma postura mais conservadora em relação à inflação.

“Para nós, a decisão do Copom de abandonar o FG (‘forward guidance’) antes que as pré-condições fossem violadas é a principal evidência de que a barra de intolerância à inflação recentemente adotada pelos membros do Copom ficou mais alta”, afirmaram Porto e Lopes.

Ambos avaliaram que o relato do Copom na ata divulgada nesta semana de que alguns membros “julgam que o Copom deveria considerar o início de um processo de normalização parcial” da Selic indica que o juro, mesmo depois de elevado, ainda ficaria em níveis abaixo das taxas estimadas como de equilíbrio ou neutra.

Nas contas dos profissionais do Citi, tomando como base uma estimativa de juro neutro de cerca de 3% (conforme Relatório Trimestral de Inflação do terceiro trimestre) e uma meta de inflação de longo prazo (de 3%, provavelmente em 2024), a Selic neutra prevista estaria em torno de 6%.

“Portanto, se o Copom pretende implementar um processo de normalização parcial, o esperado aumento da taxa Selic pararia em um nível provavelmente menor que 6%”, disseram Porto e Lopes.

Eles ponderam, no entanto, que a nova previsão para a alta de juros em junho é baseada num cenário fiscal em que as despesas públicas superam o teto de gastos “de forma limitada” e afirmaram que o principal risco ao novo “call” são as decisões fiscais a serem tomadas em fevereiro, após a eleição no Congresso.

Caso as despesas do governo superem o teto de gastos em mais de 1% do PIB, o processo de normalização da política monetária pode começar antes de junho e levar a Selic a patamares acima de 4% ao fim do ano.

“Além disso, se o governo afrouxar a política fiscal (mesmo que de forma limitada, conforme nosso cenário), mas fracassar em comunicar isso de forma crível, os mercados podem entender que a porta para mais afrouxamento fiscal continuará aberta, e isso também sugeriria um processo de normalização (monetária) antecipado e mais forte.”