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Cielo: queda da receita reflete cenário e não maior concorrência, diz presidente

02 ago 2017, 19:10 - atualizado em 05 nov 2017, 13:59

O presidente da Cielo, Eduardo Gouveia, afirmou que a queda das receitas da companhia no segundo trimestre reflete mais o cenário macroeconômico do que uma maior concorrência no setor de cartões e ainda uma mudança de mix. Apesar das turbulências geradas no campo político com as delações da JBS, ele afirmou que a companhia espera recuperação gradual e lenta do cenário macroeconômico.

“Esperamos recuperação gradual e lenta. Não há nada de ruptura. A recuperação vai acontecer, mas vamos continuar perdendo parque de POS (terminais de captura, na sigla em inglês). É natural, porque nascem menos empresas do que têm morrido”, avaliou Gouveia, em teleconferência com a imprensa, na manhã desta quarta-feira, 2.

Sobre o mix que impactou o segundo trimestre, o executivo destacou que a Cielo teve uma maior captura de transações de débito do que crédito e ainda de grandes contas do que de clientes no varejo, o que afeta os ganhos da companhia. No entanto, reiterou que a adquirente está focada em lucro e rentabilidade e que market share é consequência. Não abriu a fatia de mercado da adquirente, mas admitiu queda em relação a dezembro. “Share é consequência não é foco.

Se fizermos um bom trabalho com clientes, pode ser que ganharemos share”, disse o presidente da Cielo. Em termos de concorrência, Gouveia disse que as taxas de desconto aos lojistas (MDR, na sigla em inglês) da Cielo seguem “resilientes” e que entre os grandes players o foco é rentabilidade. Já sobre os novos médios e pequenos competidores, ele disse que há uma maior agressividade em preço e que a Cielo segue atenta às inovações no setor de cartões.

Ao fazer uma análise de sua gestão à frente da Cielo, que completou sete meses, Gouveia afirmou que a companhia vem entregando sólidos resultados, com boa desempenho em geração de caixa. Disse ainda que a empresa está focada em controle de gastos, citando como exemplo a revisão de guidance anunciada na segunda-feira, dia 1º, que prevê menores despesas para 2017. “O mercado segue competitivo e reforço que o lucro líquido é uma meta compartilhada por 100% da companhia. Estamos muito confiantes da estratégia que estamos trabalhando nos últimos anos e como nossa oferta segmentada ajuda a diferenciar nossa atuação”, avaliou Gouveia, lembrando a recente campanha de marketing lançada pela companhia.

Recebíveis

A Cielo espera resultado positivo da antecipação de recebíveis (ARV) nos próximos trimestres a despeito da queda do produto no segundo trimestre. Gouveia confirmou na teleconferência que a companhia captou R$ 5 bilhões em um Fundo de Investimento em Direito Creditório (FIDC), dos quais R$ 2 bilhões foram junto a terceiros, para lastrear a operação de ARV, conforme antecipou a Coluna do Broadcast, do Grupo Estado, em junho último.

No segundo trimestre, a aquisição de recebíveis, feita pela Cielo e o FIDC, caiu 11,2%, para R$ 574 milhões ante um ano antes. Como consequência, o indicador que mede a penetração do produto no volume financeiro de crédito foi a 18,7% em junho contra 20,3% ao final de março e 20,4% em 12 meses.

Alavancagem

A Cielo não vê necessidade de antecipar o pagamento da emissão de debêntures que vence no ano que vem, segundo Gouveia. Ao contrário, preferiu, em meio à sua forte geração de caixa, aumentar a distribuição de dividendos, que retornou ao patamar dos 70% após anos na casa dos 30% por conta da joint venture que fez com o Banco do Brasil para criar a Cateno. Além disso, em abril último, a Cielo realizou amortização parcial no montante R$ 1,7 bilhão de sua a 4ª emissão de debêntures simples, para distribuição pública.

A emissão foi realizada no montante de R$ 4,6 bilhões, com data de vencimento em 13 de abril de 2018. Com isso, a adquirente encerrou o segundo trimestre com endividamento líquido em relação ao seu Ebitda em 0,7 vez, contra 0,8 vez ao término de março.

ISS

A mudança do local de cobrança da alíquota do ISS (Imposto Sobre Serviços) não deve trazer impacto material para a Cielo, de acordo com o presidente da adquirente. Com a derrubada de veto do presidente Michel Temer pelo Congresso, no último dia 30 de julho, o tributo passará a ser pago no local onde os portadores de cartões utilizam seus plásticos para fazer compras e não mais na cidade sede da credenciadora.

“A mudança da derrubada de veto traz um grau de incerteza de como o negócio vai ser aplicado e executado. Há muita dúvida operacional e uma discussão forte de execução nos segmentos e como se dará a partir do ano que vem”, afirmou o Gouveia. De acordo com o executivo, a Cielo tem trabalhado junto à Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), mas alegou ainda ser cedo para fazer projeções do impacto. Até mesmo porque, conforme ele, a alíquota pode variar de 2% a 5%.

“Não é material. Depende muito de qual será a alíquota em cada município”, acrescentou. Na outra vez que a mudança do ISS estava na pauta, a Cielo confirmou que a projeção de analistas do mercado, de que cada 1 ponto porcentual de aumento na alíquota impactaria entre 1% a 2% no lucro líquido da companhia, fazia sentido.

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