Cielo e WhatsApp: até onde se pode comemorar um casamento aberto?
A disparada das ações da Cielo (CIEL3), na sessão desta terça-feira (16), deixa claro que os investidores estão em festa com o acordo celebrado entre a operadora brasileira de meios de pagamento e o Facebook, com o objetivo de permitir que usuários realizem pagamentos pelo aplicativo de mensagens WhatsApp.
Por volta das 15h17, os papéis saltavam impressionantes 20,67% e eram negociados a R$ 5,08. No mesmo instante, o Ibovespa, principal índice da B3 (B3SA3), avançava 1,52% e marcava 93.783 pontos.
Então, está tudo certo. A eufórica bênção do mercado aos recém-casados, com votos de prosperidade e riqueza estampadas nas ações que trocam de mãos no pregão de hoje, são tudo o que se precisa saber. Confere, produção? Nem tanto…
Os relatórios já publicados hoje reconhecem os méritos do acordo, mas manifestam ressalvas sobre o futuro da relação. Para a Cielo, a maior vantagem é contar com um parceiro forte, capaz de ampliar sua base de clientes.
Luis Azevedo e Silvio Dória, que assinam a análise do Banco Safra, estimam que o WhatsApp conte com cerca de 120 milhões de usuário no Brasil.
Novos amigos
“O anúncio é positivo para a Cielo, dada a grande base de usuários do WhatsApp no Brasil, e a possibilidade de alavancar a base de clientes da Cielo, além de acelerar a expansão dos pagamentos digitais”, diz a dupla.
Além disso, o círculo de amigos do noivo ajudaria a Cielo a ser mais aceita entre os microcomerciantes, para quem a compra ou o aluguel de uma maquininha de pagamento é um custo pesado. Sem a necessidade de um aparelho específico para realizar a operação, esse público tem potencial para aderir à novidade sem titubear.
“Em caso de sucesso, a Cielo seria capaz de ampliar seu mix e melhorar suas margens (que andam sob pressão)”, afirma o Safra.
Mas, como em toda a família, os mais céticos se perguntam qual é a intenção do noivo – no caso, o Facebook. Há motivos para supor que a empresa fundada e comandada por Mark Zuckerberg não se contentará com a monogamia corporativa.
Primeiro, porque, ao que parece, não há cláusula de exclusividade no acordo. A união com a empresa brasileira é um casamento aberto e a Cielo é apenas a primeira de uma série de candidatas que serão cortejadas em seu devido tempo.
Alegria passageira
“Talvez haja uma vantagem competitiva temporária para a Cielo, já que, aparentemente, o acordo não possui cláusula de exclusividade e, portanto, outras adquirentes ou emissoras [de cartões] podem aceitar pagamentos via WhatsApp no futuro, ou fazer parcerias similares”, diz o Safra.
O Credit Suisse vai pela mesma linha. “Vemos a parceria com o Facebook com potencial para contribuir significativamente para os resultados da Cielo no médio prazo”, afirmam os seis analistas que assinam o relatório, liderados por Daniel Federle.
Mas, o sexteto alerta para os possíveis impactos, sobre a Cielo, da já esperada infidelidade do Facebook. “Contudo, o contrato com a Cielo não é exclusivo, e a adição de outras adquirentes no arranjo, provavelmente, reduziria significativamente os ganhos potenciais [da Cielo]”.
E a concorrência da Cielo seria pesada: nada menos que a PagSeguro (PAGS) e a Stone (STNE) poderiam dividir o Facebook com a empresa, segundo o Credit Suisse.
Não é por acaso, portanto, que o Safra e o Credit Suisse reforçaram sua recomendação neutra para as ações da Cielo. O Safra calcula o preço-alvo em R$ 6. Já o banco suíço estima R$ 4,80. Resumindo, a união do Facebook com a Cielo não será apenas uma paixão de verão, mas apenas infinito enquanto durar…