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Cielo e WhatsApp: até onde se pode comemorar um casamento aberto?

16 jun 2020, 16:17 - atualizado em 16 jun 2020, 16:17
Sempre cabe mais uma: sem exclusividade com a Cielo, WhatsApp pode flertar com a PagSeguro e a Stone (Imagem: Divulgação/WhatsApp)

A disparada das ações da Cielo (CIEL3), na sessão desta terça-feira (16), deixa claro que os investidores estão em festa com o acordo celebrado entre a operadora brasileira de meios de pagamento e o Facebook, com o objetivo de permitir que usuários realizem pagamentos pelo aplicativo de mensagens WhatsApp.

Por volta das 15h17, os papéis saltavam impressionantes 20,67% e eram negociados a R$ 5,08. No mesmo instante, o Ibovespa, principal índice da B3 (B3SA3), avançava 1,52% e marcava 93.783 pontos.

Então, está tudo certo. A eufórica bênção do mercado aos recém-casados, com votos de prosperidade e riqueza estampadas nas ações que trocam de mãos no pregão de hoje, são tudo o que se precisa saber. Confere, produção? Nem tanto…

Os relatórios já publicados hoje reconhecem os méritos do acordo, mas manifestam ressalvas sobre o futuro da relação. Para a Cielo, a maior vantagem é contar com um parceiro forte, capaz de ampliar sua base de clientes.

Luis Azevedo e Silvio Dória, que assinam a análise do Banco Safra, estimam que o WhatsApp conte com cerca de 120 milhões de usuário no Brasil.

Novos amigos

“O anúncio é positivo para a Cielo, dada a grande base de usuários do WhatsApp no Brasil, e a possibilidade de alavancar a base de clientes da Cielo, além de acelerar a expansão dos pagamentos digitais”, diz a dupla.

Além disso, o círculo de amigos do noivo ajudaria a Cielo a ser mais aceita entre os microcomerciantes, para quem a compra ou o aluguel de uma maquininha de pagamento é um custo pesado. Sem a necessidade de um aparelho específico para realizar a operação, esse público tem potencial para aderir à novidade sem titubear.

“Em caso de sucesso, a Cielo seria capaz de ampliar seu mix e melhorar suas margens (que andam sob pressão)”, afirma o Safra.

Mas, como em toda a família, os mais céticos se perguntam qual é a intenção do noivo – no caso, o Facebook. Há motivos para supor que a empresa fundada e comandada por Mark Zuckerberg não se contentará com a monogamia corporativa.

Primeiro, porque, ao que parece, não há cláusula de exclusividade no acordo. A união com a empresa brasileira é um casamento aberto e a Cielo é apenas a primeira de uma série de candidatas que serão cortejadas em seu devido tempo.

Alegria passageira

“Talvez haja uma vantagem competitiva temporária para a Cielo, já que, aparentemente, o acordo não possui cláusula de exclusividade e, portanto, outras adquirentes ou emissoras [de cartões] podem aceitar pagamentos via WhatsApp no futuro, ou fazer parcerias similares”, diz o Safra.

PagSeguro Cielo
Affair: entrada da PagSeguro no WhatsApp reduziria vantagem da Cielo (Imagem: Gustavo Kahil/Money Times)

O Credit Suisse vai pela mesma linha. “Vemos a parceria com o Facebook com potencial para contribuir significativamente para os resultados da Cielo no médio prazo”, afirmam os seis analistas que assinam o relatório, liderados por Daniel Federle.

Mas, o sexteto alerta para os possíveis impactos, sobre a Cielo, da já esperada infidelidade do Facebook. “Contudo, o contrato com a Cielo não é exclusivo, e a adição de outras adquirentes no arranjo, provavelmente, reduziria significativamente os ganhos potenciais [da Cielo]”.

E a concorrência da Cielo seria pesada: nada menos que a PagSeguro (PAGS) e a Stone (STNE) poderiam dividir o Facebook com a empresa, segundo o Credit Suisse.

Não é por acaso, portanto, que o Safra e o Credit Suisse reforçaram sua recomendação neutra para as ações da Cielo. O Safra calcula o preço-alvo em R$ 6. Já o banco suíço estima R$ 4,80. Resumindo, a união do Facebook com a Cielo não será apenas uma paixão de verão, mas apenas infinito enquanto durar…

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Diretor de Redação do Money Times
Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
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