Cielo (CIEL3), Stone (STOC31) e PagSeguro (PAGS34): PIX crédito pode ser a pá de cal para as maquininhas?
Em pouco mais de um ano de implantação, o PIX, meio de pagamento instantâneo criado pelo Banco Central, caiu nas graças dos brasileiros. Em maio do ano passado, o meio já havia ultrapassado os tradicionais DOC e TED.
E as novidades não param por aí: o BC avalia implementar o PIX Crédito.
Segundo reportagem do Valor Econômico, embora não haja maiores detalhes, se a estratégia der certo, poderia concorrer diretamente com cartão de crédito, e afetar as maquininhas.
Tempo ruim
As adquirentes, como Cielo (CIEL3), PagSeguro (PAGS) e Stone (STNE), viram o seu valor de mercado derreter no ano passado em meio à alta dos juros e à piora do cenário macroeconômico.
Inúmeras casas de análises e bancos cortaram o preço-alvo das empresas e rebaixaram a recomendação, destacando a cautela com o setor.
Marco Calvi, analista do setor de serviços financeiros do Itaú BBA, explica que a elevação de juros encarece a tomada de crédito para a linha de pré-pagamento de recebível do varejista, importante linha de receita das adquirentes.
“Temos uma pressão de rentabilidade vindo desse produto com a alta dos juros”, afirma.
Além disso, lembra, a disparada da Selic prejudica o processo de diversificação das empresas, como a oferta de crédito. “Esse tema ficou mais difícil. O investidor precisa ter cautela com as ações”, completa.
O fantasma do PIX
Que o PIX tomou o lugar do TED e DOC isso já é mais que evidente. Ao todo, são 110 milhões de pessoas (70% da população adulta) e 8 milhões de empresas cadastradas no pagamento.
Por outro lado, as transferências por TED e outros (DOC e cheques) caíram 50% e 38%, respectivamente, desde a chegada do PIX.
Segundo o Bank of America, a nova modalidade facilitou a entrada de neobancos e está mudando o comportamento do consumidor e pressionando as receitas dos bancos tradicionais, principalmente as taxas de conta corrente.
Mas o quanto isso pode afetar as maquininhas?
Essa questão é um ponto em aberto. Para Calvi, do BBA, apesar do PIX ter sido adotado entre pessoas físicas, esse não parece ser o caso das transferências entre consumidores e comércio.
“O brasileiro é bastante acostumado ao cartão de crédito e débito. No final do dia, essa adoção não foi disruptiva”, diz.
De acordo com a ABECS (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços), a penetração total de cartões deverá atingir 60% em 2022 (ante os 54% em 2021 e os 49% em 2020).
Calvi acrescenta ainda que se por um lado o PIX trouxe impactos para os pagamentos em débito, por outro o ambiente está mais aberto para inovações.
“Quando falo um ambiente mais aberto, eu quero me referir a transferência de dinheiro entre diferentes contas. Isso ficou mais rápido, fácil e barato. Você pode ter uma menor monetização de taxas de adquirência, mas possui outros mercados sendo abertos para essas companhias atacarem”, completa.
Na visão de Arthur Rodrigues, CFO e cofundador da Xsfera, plataforma focada em soluções para o mercado financeiro e de pagamentos, o PIX não prejudicou tanto os adquirentes até o momento.
“Há algumas barreiras para o PIX, principalmente no varejo, onde as maquininhas dominam. O problema é a experiência do usuário. Hoje, se eu for fazer um pagamento em uma loja, preciso tirar o meu celular do bolso, desbloquear o celular, entrar no aplicativo, colocar a minha senha. É muito click. Não é só sacar o cartão e espetar na maquininha”, observa.
No entanto, ele afirma que quando esse entrave for resolvido, aí sim, as empresas podem ter perdas de rentabilidade mais significativas.
“O modelo está obsoleto. Os estabelecimentos têm que pagar altas taxas, pagar manutenção da maquininha. O setor de pagamentos está cada vez mais buscando modelos de ganha-ganha”, afirma.
De acordo com Rodrigues, os grandes players vão precisar se transformar se quiserem sobreviver nesse mercado.
E o PIX Crédito?
Na opinião do UBS, se a estratégia do Banco Central dar certo, concorrerá diretamente com cartão de crédito, enquanto a concessão de crédito via PIX prejudicará os adquirentes.
Mesmo assim, Rodrigues afirma que PIX e cartão de crédito continuarão coexistindo por algum tempo.
Porém, ele nota que o PIX garantido pode substituir completamente o cartão de crédito em estabelecimentos.
“Então você terá a experiência do cartão de crédito sem o plástico. Aí as adquirentes sentirão de fato o impacto”, completa.
Qual a empresa mais afetada?
Entre as empresas, a Cielo é a que vive a situação mais delicada. Apesar de ainda ser líder, com 27% de participação no primeiro semestre de 2021, a adquirente viu o seu valor de mercado derreter para mínimas históricas.
Mesmo assim, Calvi, do BBA, não enxerga o PIX afetando a empresa mais do que as outras companhias do setor.
“A Cielo passou por um período de depreciação nos últimos anos, mas isso não tem a ver com o PIX. É algo que tem a ver com a concorrência. Tivemos um avanço dessas outras empresas, as duas principais sendo a PagSeguro e a Stone”, argumenta.
Já Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management, diz que das empresas negociadas no Brasil, a Cielo tende a sentir mais o impacto pela dependência do seu negócio das maquininhas do varejo.