Economia

Chuvas no Rio Grande do Sul: Veja as consequências para inflação e economia brasileira

07 maio 2024, 14:26 - atualizado em 07 maio 2024, 14:26
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Chuvas no Rio Grande do Sul geram impactos regionais e nacionais, gerando consequências para a inflação brasileira (Foto: Gilvan Rocha/Agência Brasil)

A Defesa Civil do Rio Grande do Sul atualizou seus números nesta terça-feira (07). Já são 90 mortos, 132 pessoas desaparecidas e 1,3 milhão de afetados pelas chuvas sem precedentes que afetam a região Sul do país.

A tragédia já atinge níveis econômicos. De acordo com a Confederação Nacional de Municípios (CNM), as chuvas no Rio Grande do Sul já causam mais de R$ 967,2 milhões em prejuízos financeiros, com R$ 423,8 milhões apenas na agricultura.

Os dados, entretanto, não representam a totalidade do caos gerado pela catástrofe ambiental, já que dizem respeito a apenas 25 municípios dos 336 que tiveram o “estado de calamidade pública” decretado.

“Considerando que o foco ainda é em salvar vidas, o valor total dos danos e prejuízos irá aumentar à medida que as águas forem baixando e os gestores locais conseguirem contabilizar esses dados”, aponta da CNM.

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Chuvas no Sul mudam perspectivas para inflação brasileira

Para além dos impactos na região, o país inteiro pode ser afetado.

Às esperas da divulgação do que foi decidido pelo Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a taxa de juros Selic, o mercado está dividido entre as apostas de uma redução de 0,50 ponto percentual, sinalizado no último comunicado, ou 0,25 pp.

Para Matheus Spiess, estrategista da Empiricus Research, os efeitos do recente desastre climático e humanitário no Rio Grande do Sul também serão considerados, “tanto sob a perspectiva fiscal quanto pela pressão inflacionária do provável aumento nos preços dos alimentos”.

Ele afirma que a catástrofe será um divisor de águas nas projeções de mercado, afetando desde a safra até o emprego, com impactos na inflação e no apoio financeiro ao Estado.

Sobre a inflação, é esperado que os preços da soja, milho, leite, frutas e arroz subam, à medida que as safras locais são devastadas, causando problemas também no abastecimento de outros componentes, com a indústria automobilística brasileira relatando gargalos, influenciados pela dependência de peças fabricadas no Rio Grande do Sul.

“Tudo isso deve adicionar pelo menos 0,10 ponto percentual ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)”, complementa Spiess.

O estrategista também afirma que as necessidades de apoio financeiro ao Estado, com o envio de recursos destinados à recuperação dos danos e, posteriormente, à reconstrução do Rio Grande do Sul, trazendo imprevisibilidade aos impactos financeiros nas contas públicas.

O Executivo, de acordo com números divulgados pela Casa Civil, já disponibilizou R$ 928 milhões via Ministério do Desenvolvimento Social para o Estado, com a maior parte desse valor, R$ 414 milhões, fazendo parte da antecipação do Bolsa Família.

Segundo Matheus, “Isso reforça a expectativa de uma postura mais conservadora por parte do Banco Central na decisão de amanhã”.

Catástrofe gera influências no varejo

De acordo com o Índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA), as enchentes no Estado provocaram, até agora, queda de 15,7% nas vendas, considerando o período entre os dias 30 de abril e 5 de maio, em comparação com o período entre 2 e 7 de maio de 2023.

Segundo os dados divulgados:

  • os setores mais afetados foram o de Vestuário e Alimentação (Bares e Restaurantes), com quedas de, respectivamente, 49,5% e 37,8%;
  • Materiais para Construção apresentou recuo de 36,2% e Drogarias e Farmácias queda de 24,9%;
  • enquanto isso, Postos de Gasolina e Supermercados e Hipermercados apresentaram crescimentos de 33,9% e 14,6%, respectivamente.

O presidente da Cielo (CIEL3), Estanislau Bassols, afirma que o crescimento foi impulsionado pelo receio do desbastecimento e a incerteza da população, levando à busca por produtos de primeira necessidade e combustíveis.

Diversas empresas são afetadas com enchentes

A Renner (LREN3) informou que cerca de 4% de suas unidades estão temporariamente fechadas por conta das chuvas no Estado.

Conforme a Genial Investimentos, o impacto dos fechamentos sobre o faturamento é de R$ 1,3 milhão por dia. Caso as lojas permaneçam fechadas por duas semanas, dando tempo para a água escoar, o impacto poderia atingir R$ 18,2 milhões no segundo trimestre de 2024 (2T24).

Já de acordo com o Bank of America (BofA), em relatório assinado por Mario Pierry e Flavio Yoshida, os bancos nacionais também serão afetados, dada a necessidade de renegociação de dívidas, extensão do período de pagamentos e redução das taxas de juros, impactando o NII (receita líquida de juros), NPL (créditos não produtivos) e custo do risco.

“Estamos particularmente preocupados com o Banrisul (BRSR6), dado que 85% de seus empréstimos estão na região Sul e 95% de suas agências estão concentradas no Rio Grande do Sul”, complementa o BofA.

Entretanto, a lista de preocupações é ainda mais extensa, com outros nomes apresentando empréstimos expostos à região.

Entre eles estão o ABC Brasil (ABCB4), com exposição de 21%, XP, 20%, Banco do Brasil (BBAS3), 18%, Nubank (ROXO34), 15%, e Bradesco (BBDC4), 15%.

Empresas de seguros também podem ser afetadas, com o BB Seguridade (BBSE3) sendo o caso de maior exposição à região Sul, taxa que chega a 9%.