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Chuvas desafiam colheita e escoamento de soja no Brasil em fevereiro

05 fev 2021, 12:20 - atualizado em 05 fev 2021, 12:20
Lavoura de soja no Piauí
Para as áreas com soja ainda em desenvolvimento também podem haver complicações nos tratos culturais, ampliando a possibilidade de doenças. (Imagem: REUTERS/Roberto Samora)

Os trabalhos de colheita e transporte da safra de soja 2020/21 correm riscos devido a chuvas excessivas previstas em algumas das principais regiões produtoras do Brasil ao longo de fevereiro, com potencial de atrasar ainda mais as atividades e as exportações, alertam especialistas e representantes do setor.

As precipitações dificultam o acesso às lavouras, a secagem dos grãos e paralisam as operações de escoamento nos portos, onde a fila de navios é grande para receber a safra nova após o país iniciar a temporada com baixos estoques, o que tem deixado operadores apreensivos.

Com apenas uma mínima fração da safra colhida após o atraso no plantio, há ainda algumas situações de germinação de grãos no pé e apodrecimento de vagens quando o tempo fica úmido por muitos dias em plantações prontas para a colheita.

Para as áreas com soja ainda em desenvolvimento também podem haver complicações nos tratos culturais, ampliando a possibilidade de doenças.

“Em Mato Grosso, nosso maior risco é passar por chuva na colheita, e no recebimento do produto pelos armazéns, onde ele necessita de secagem”, disse o gestor de inteligência de mercado do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), Cleiton Gauer.

No principal Estado produtor de soja no Brasil, ele destacou ainda que haverá maior demanda por caminhões em um espaço de tempo muito curto, pois grande parte da safra foi semeada em outubro e precisa ser colhida em fevereiro.

Para Gauer, entraves nestas etapas do processo de escoamento podem acarretar problemas ao setor, pois os line-ups dos portos indicam que muitos navios já estão chegando para o embarque das cargas.

O agrometeorologista da Rural Clima, Marco Antonio Santos, afirmou em boletim que a tendência é de que chuvas persistam ao longo de toda a semana que vem, especialmente na região central do Brasil.

“A segunda semana de fevereiro tem tudo para ser marcada por umidade… A colheita da soja para a segunda semana de fevereiro será bem complicada, assim como os embarques de grãos no Arco Norte”, afirmou.

No Paraná, um dos Estados mais afetados pelas chuvas de janeiro e onde há expectativa de que a colheita tome forma, as precipitações ampliaram em 82% o tempo de paralisação das atividades no porto de Paranaguá, para 12,6 dias, no mês passado e ligou um alerta no setor, caso o cenário se replique em fevereiro.

“No porto, temos este problema porque não conseguimos carregar devido à chuva, afetou um pouco os embarques, mas agora a expectativa é que normalize. Se isso acontecer em fevereiro, vai preocupar mais”, disse o gerente técnico da organização de cooperativas do Paraná Ocepar, Flávio Turra. O Paraná ainda não registrava colheita até o início da semana.

O agrometeorologista da Climatempo João Castro prevê que haverá uma janela de oportunidade curta para colheita e escoamento, do dia 6 ao 10, na região Sul.

No Paraná, um dos Estados mais afetados pelas chuvas de janeiro e onde há expectativa de que a colheita tome forma, as precipitações ampliaram em 82% o tempo de paralisação das atividades no porto de Paranaguá (Imagem: REUTERS/Roberto Samora)

“Para de chover no sábado, dá uma secada no domingo, uma janela muito curta, tem que esperar drenar aquela água, então, na prática, vão ser dois dias de colheita dia e noite… a partir do dia 10 novas áreas de instabilidade”, afirmou o especialista.

“A tendência climática é de chuvas acima da média em todo o centro-sul do Brasil. Pela nossa análise, o mês de fevereiro, desde o sul de Goiás até o Rio Grande do Sul terá chuvas acima da média, com exceção do oeste do Rio Grande do Sul”, acrescentou Castro, ponderando que muitas áreas em desenvolvimento vão se beneficiar da umidade.

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Perdas

Turra ressaltou que o recente excesso de chuvas prejudicou a qualidade das lavouras paranaenses que estão no ponto de colheita, enquanto as demais tiveram o controle de pragas e doenças afetado.

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) comunicou na quinta-feira a expansão na safra de 2020/21 de casos de apodrecimento de vagens de soja em diversas regiões brasileiras, em especial em Mato Grosso.

A hipótese de causa é um conjunto de fatores climáticos. Dentro das vagens, também foi constatado um enrugamento causado por chuvas excessivas.

Turra ressaltou que o recente excesso de chuvas prejudicou a qualidade das lavouras paranaenses que estão no ponto de colheita, enquanto as demais tiveram o controle de pragas e doenças afetado (Imagem: REUTERS/Roberto Samora)

“O enrugamento afeta drasticamente a qualidade dos grãos e das sementes e propicia a infecção secundária por Phomopsis spp., o que pode propiciar o apodrecimento das vagens, principalmente em situações de ocorrência de chuvas em pré-colheita”, explicou. A perda da qualidade de grãos gera descontos aos produtores.

Castro, do Climatempo, disse que o Paraná já tem perdas. “Soja apodrecendo, soja germinando no pé, área perdida, isso está acontecendo”, afirmou.

O gerente da Ocepar disse que a entidade reduziu a projeção para a safra de soja no Paraná em 1 milhão de toneladas, para 19,5 milhões de toneladas. A expectativa é mais conservadora que a do Deral, órgão ligado ao governo do Estado, que espera 20,39 milhões.

Em Mato Grosso, apesar do atraso na colheita, a perspectiva de produção de soja divulgada pelo Imea para janeiro ficou em 35,49 milhões de toneladas, estável em relação a dezembro, assim como as de milho e algodão segunda safra.

“Se tiver impacto grande das chuvas e vermos alguma sinalização dos produtores de não semear algumas áreas de segunda safra, aí podemos revisar para baixo, mas ainda não encontramos”, afirmou Gauer à Reuters.