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Chuvas castigam lavouras do Sul e preço final pode ser repassado ao consumidor; entenda

03 maio 2024, 18:32 - atualizado em 03 maio 2024, 18:32
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Preços da soja e do arroz podem ser repassados ao consumidor, com chuvas causando prejuízos também para o abastecimento de animais da região (Foto: Gilvan Rocha/Agência Brasil)

As chuvas no sul do país, que deixaram 37 mortos e 74 pessoas desaparecidas até a manhã desta sexta-feira (03), de acordo com a Defesa Civil do Rio Grande do Sul, continuam afetando a população, com reflexos para a produção agropecuária da região.

Os dados já são históricos para a região, com o rio Guaíba, em Porto Alegre, alcançando seu maior nível desde 1941, e fazendo com que a Prefeitura da cidade declarasse estado de calamidade.

A situação ainda deve perdurar até o final de semana, avançando também para o Estado de Santa Catarina.

À TV Brasil, Marcelo Seluchi, meteorologista e coordenador-geral de Operação e Modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), afirmou que o fenômeno é resultado da onda de calor localizada na região central do país, com alta pressão atmosférica levando à formação de ar seco e quente.

Além disso, outros fatores, como o El Niño e as mudanças climáticas, também dão força às tragédias.

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Chuvas colocam colheita de soja em risco

Para Rafael Silveira, da Safras & Mercado, aproximadamente 20% a 25% da colheita de soja no Rio Grande do Sul ainda está pendente, representando cerca de 4,5 a 5,5 milhões de toneladas em risco.

“É importante notar que neste momento é prematuro determinar o impacto preciso nas plantações. Os agricultores estão trabalhando incansavelmente, dia e noite, para extrair o máximo de soja possível dos campos”, complementa.

Ele também afirma que, no mercado internacional, a Bolsa de Chicago reflete as recentes preocupações, com preços em ascensão nos últimos pregões.

Rafael também aponta que “s redução na oferta implica em preços mais altos, inclusive para o consumidor final”.

Por outro lado, Fernando Iglesias, da Safras & Mercado, afirma que, no caso da pecuária da região, o setor já estava preparado para o prognóstico climático de chuvas elevadas.

Ele aponta que, entre as consequências, estão a destruição de rodovias, gerando problemas no abastecimento de grãos às granjas da região, aumentando a taxa de mortalidade e aumentando o caos na infraestrutura.

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“Temos diversos frigoríficos que estão reduzindo o abate, parando totalmente ou suspendendo turnos de abate justamente pela dificuldade da produção chegar do animal até à indústria”, afirma.

Iglesias pontua que são gerados prejuízos para o produto atingir o consumidor final, com problemas de abastecimento, mas que a situação não representa uma escassez de alimentos.

Sobre os problemas com a infraestrutura da região, Fernando complementa que “isso é um problema crônico, não só no Rio Grande do Sul como no Brasil”.

“Nós temos sérios problemas infraestruturais aqui que acabam gerando esse tipo de gargalo, investimentos em infraestrutura vão fazer muito a diferença para melhorar os nossos canais de escoamento em relação às indústrias”.

Consumidor deverá começar a ver arroz mais caro nas prateleiras

Evandro Oliveira, da Safras & Mercado, pontua que o enfrentamento de uma temporada intensa de El Niño já era esperada, fazendo com que os produtores de arroz na região aumentassem as áreas do plantio durante a temporada.

Para ele, a surpresa foi observada na intensidade do fenômeno, gerando um cenário catastrófico.

Evandro afirma que é inevitável que o consumidor observe os reflexos da queda, citando que as safras de arroz já haviam atingido patamares surpreendentes em janeiro, durante a entressafra, com as sacas chegando a custar duas vezes mais que as de soja.

Ele complementa que os preços recuaram entre fevereiro e março, mas que com os efeitos climáticos os preços já voltaram a subir.

“Já tem algumas semanas que os preços não param de subir e com certeza isso será refletido no bolso do consumidor, apesar de um certo alívio nas prateleiras observado em abril”, afirma.

Oliveira pontua que ainda há em torno de 20% das lavouras a serem colhidas no Rio Grande do Sul, mas que muitas serão perdidas com o excesso de chuva, com pouco sendo aproveitado por serem produções que já vinham sofrendo perda de produtividade.

“Os preços não param de avançar e com certeza haverá a transmissão desses preços para as indústrias, que estão tendo que recompor os seus estoques com preços mais caros, o que será repassado para o varejo ao longo de maio. Podemos começar a ver um avanço nas prateleiras já em junho”, conclui.