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Choque global de preços dos alimentos pode ganhar mais força

26 abr 2021, 13:49 - atualizado em 26 abr 2021, 13:55
Comida Alimentos Alimentação
Para países mais pobres e, muitas vezes, politicamente instáveis, a valorização das matérias-primas ameaça agravar ainda mais a fome global (Imagem: Antonio Cruz/ABr Direitos Humanos)

Milho, trigo, soja, óleos vegetais: os preços de um pequeno grupo de commodities que compõem a dieta mundial estão muito mais altos, o que envia sinais de alarme para orçamentos ao redor do mundo.

Na semana passada, o índice Bloomberg Agriculture Spot – que rastreia os principais produtos agrícolas – mostrou a maior alta em quase nove anos, impulsionado pelo rali nos futuros de commodities.

Com os preços globais dos alimentos já nos níveis mais altos desde meados de 2014, este último salto é acompanhado de perto porque produtos básicos são uma influência onipresente nas prateleiras dos supermercados.

O aumento dos preços das matérias-primas tem amplo impacto para famílias e empresas e ameaça a economia mundial, que tenta se recuperar dos danos causados pela pandemia de coronavírus.

Esses preços ajudam a puxar a inflação dos alimentos, trazendo mais dificuldade para famílias que já enfrentam pressão financeira pela perda de empregos ou renda.

Para os bancos centrais, a alta dos preços em um momento de crescimento fraco cria um dilema indesejável e pode limitar a capacidade de afrouxar a política monetária.

“Parece haver uma espécie de força altista por trás dos preços internacionais”, disse em entrevista Abdolreza Abbassian, economista sênior da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura.

“As indicações são de que há muito poucos motivos para acreditar que os preços permanecerão nesses níveis. É mais provável que subam ainda mais. A dificuldade ainda está à frente.”

Mercados emergentes, em alguns casos já sob pressão de moedas mais fracas, são particularmente vulneráveis porque os custos dos alimentos representam uma parcela maior dos gastos.

Para países mais pobres e, muitas vezes, politicamente instáveis, a valorização das matérias-primas ameaça agravar ainda mais a fome global.

“O aumento implacável dos preços age como um multiplicador da miséria, afundando milhões na fome e no desespero”, disse Chris Nikoi, diretor regional do Programa Mundial de Alimentos para a África Ocidental, no início deste mês.

É “colocar uma refeição básica fora do alcance de milhões de famílias pobres que já estavam com dificuldade para sobreviver.”

As últimas altas mais recentes das commodities agrícolas seguem meses de ganhos de preços puxados pela crescente demanda de importação da China.

Os preços do milho dobraram nos últimos 12 meses, enquanto a soja subiu cerca de 80%, e o trigo 30%.

Com as contínuas compras da China e uma série de condições climáticas adversas ameaçando as safras do Brasil e dos EUA, há poucos sinais de trégua.

Analistas, como do Rabobank, Mintec e HSBC Global Research, veem risco de preços ainda mais altos como resultado, embora isso varie entre os mercados.

O impacto nas prateleiras dos supermercados já pode ser visto no aumento dos preços da tortilha no México, da carne bovina no Brasil e do óleo de palma no varejo em Mianmar.

Nos Estados Unidos, o bacon e outros cortes de carne estão mais caros.

E as commodities não são o único componente no aumento dos preços dos alimentos.

Custos de frete mais altos e outros problemas na cadeia de suprimentos, bem como embalagens, podem agravar o problema.

Gigantes de alimentos e bebidas já sinalizam que estão observando as margens. A Coca-Cola destacou custos mais altos do plástico e alumínio, bem como do café e xarope de milho com alto teor de frutose, o ingrediente principal do refrigerante.

A Nestlé, maior empresa de alimentos do mundo, alertou que não será capaz de se proteger de todos os custos das commodities e está aumentando os preços quando apropriado.

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