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Choque de preços de fertilizantes ameaça safrinha de milho

14 out 2021, 12:29 - atualizado em 14 out 2021, 12:29
Fertilizante
O aumento dos preços dos insumos e a oferta limitada poderiam reduzir a produtividade do milho no Brasil no próximo ano (Imagem: Bloomberg)

O agricultor Antonio Carlos Jacobsen costuma comprar fertilizantes algumas semanas antes de semear seus campos de milho. Com a alta dos preços do insumo, ele decidiu antecipar as compras para a semeadura de março, embora possa ser tarde demais.

“Fomos pegos de surpresa com esses preços nas alturas”, disse o agricultor de 64 anos que planeja plantar 1,2 milhão de hectares de milho segunda safra no nordeste da Bahia. “Pior ainda, há incerteza se esse fertilizante será entregue no prazo”, disse em entrevista.

A situação de Jacobsen não é única entre produtores de grãos no Brasil, e os impactos podem reverberar além das fronteiras. O país é o maior exportador mundial de soja, açúcar e café e fornecedor número 2 de milho, e precisa importar cerca de 80% de suas necessidades de fertilizantes.

O aumento dos preços dos insumos e a oferta limitada poderiam reduzir a produtividade do milho no Brasil no próximo ano.

A maior safra de milho do país, ou “safrinha”, é plantada no primeiro trimestre, logo após a colheita de soja. Essa segunda safra de milho poderia ajudar a esfriar as pressões inflacionárias no país, onde os preços ao consumidor sobem no ritmo mais rápido em mais de cinco anos.

E também aumentar a oferta global, com alívio para os preços do milho. Usado como ração, os custos mais altos do grão elevam os preços da carne no mundo todo.

O problema é que a maioria dos agricultores brasileiros ainda não garantiu suas necessidades de fertilizantes para o primeiro semestre de 2022 ou fixou os preços, segundo dados da StoneX Group.

Cerca de 39% das necessidades de fertilizantes dos agricultores para o período, que tem a safrinha como destaque no plantio, já haviam sido negociadas até o final de agosto, segundo o analista Luigi Bezzon, da StoneX.

Embora esteja em linha com a média histórica, desta vez pode ter consequências indesejáveis: a maioria dos produtores precisa comprar fertilizantes em meio a custos elevados e crescente preocupação em não receber os insumos.

Segundo Bezzon, esses temores sobre as entregas são justificáveis, pois parte do fertilizante comprado antecipadamente ainda não foi produzido enquanto aumenta o temor de que a disparada nos preços de energia resulte em gargalos no fornecimento.

Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro disse que o país pode enfrentar escassez de fertilizantes no próximo ano devido à queda da produção chinesa, na esteira dos altos custos de energia. Analistas dizem que esse risco é baixo por enquanto, embora existam outras preocupações.

“Um ponto de atenção é o potencial produtivo do milho safrinha”, disse Guilherme Bellotti, analista do Itaú BBA. “Por mais que haja incentivo econômico para o plantio, devido aos altos preços do milho, fertilizantes caros podem limitar o uso. Se isso coincidir com interpéries climáticas, poderemos ter problemas.”

Os preços à vista para o fertilizante fosfatado mais do que dobraram em 12 meses no mercado brasileiro, enquanto as cotações do potássio e ureia triplicaram no mesmo período. Os preços globais desses insumos têm aumentado em meio aos altos custos da energia, fechamentos de fábricas e sanções de governos, o que reforça expectativas de déficits de oferta.

Os agricultores brasileiros podem decidir abrir mão dos fertilizantes. Jacobsen disse que, se não conseguir obter os insumos a tempo, simplesmente vai plantar milho sem eles, embora contando com uma queda de 30% na produção.

“Talvez a produtividade mais baixa seja compensada por custos mais baixos, o que significaria as mesmas margens ou até mais altas”, afirmou.

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