China: Xi Jinping fortalece núcleo para avançar em período complexo; veja análise do novo colunista do MT
A China realizou na última semana o 20º Congresso Nacional do Partido (PCCh), entre os dias 16 e 22 de outubro. O principal evento político chinês demonstrou a união do Partido e estabelece um novo plano para o rejuvenescimento da nação, abrindo caminho para mais uma conquista histórica até meados deste século.
Com a eleição do novo Comitê Permanente do Politburo, órgão decisório mais poderoso do Partido, Xi Jinping montou uma equipe de excelência, formado por pessoas próximas, qualificadas e de confiança para fortalecer o núcleo político.
O líder chinês destacou no relatório de conclusão do Congresso que a grande bandeira do socialismo com características chinesas será mantida para guiar a China a uma nova jornada, lutando para construir um país socialista moderno rumo ao seu segundo centenário, a ascensão da Nova Era.
Agora, com o time formado por novos quadros vindos da mesma base e sintonizados ao período complexo de instabilidade internacional em meio a mudanças globais de magnitude não vista em um século, o presidente Xi demonstra unidade e segurança para o desenvolvimento chinês seguir em direção a essa modernização.
Portanto, a renovação do Comitê garante a liderança para o projeto de desenvolvimento seguir seu curso com característica chinesa para um futuro de referência. Confira, abaixo, os nomes:
Quem é quem
Com aproximadamente 96 milhões de membros, o Partido Comunista Chinês se fosse um país teria a população superior à da França. Na estrutura organizativa, foram eleitos 203 membros do Comitê Central que possuem 168 suplentes, 25 do Birô Político do Comitê Central e sete no Comitê Permanente do Birô Político do Comitê Central do PCCh.
São eles: Li Qiang, Cai Qi, Ding Xuexiang, Li Xi, Zhao Leji, Wang Huning e Xi Jinping — os últimos três estão, agora, no terceiro mandato. Xi Jinping foi reeleito à posição de secretário-geral do Partido, previsto pela Constituição chinesa, que retirou o limite de dois mandatos consecutivos de cinco anos, porém não vitalício.
O atual primeiro-ministro, Li Keqiang, seguirá no cargo por mais seis meses, até a Assembleia Nacional do Povo, no ano que vem, que ratificará tudo o que foi definido no 20º Congresso.
A partir daí, Li Qiang será o novo primeiro-ministro. Forte apoiador do setor privado, ele assumiu o comando de Xangai em 2017 e cuidou do processo de livre comércio do porto da cidade para trocas globais.
Com a mudança, além de ter uma base importante para aprofundar o processo de Reforma e Abertura iniciado há 40 anos, Xi também traz Xangai para perto do Comitê Permanente. Trata-se de um forte sinal de unidade nacional, algo não visto em décadas, uma vez que Xangai sempre foi resistência à centralização do poder em Pequim.
Li Qiang é parte do conhecido “Novo Exército de Zhijiang”, um grupo de funcionários da base de poder da província de Zhejiang, nomeados geralmente para cargos de departamentos-chave do Partido, do governo e do Exército. O mesmo ocorrer com Cai Qi.
Ex-chefe do Partido em Pequim, ele tem foco na inovação, ciência e tecnologia, tendo criado a Hicool – feira em Pequim com foco nesses temas. Cai também faz parte do seleto grupo e agora integra o Comitê Permanente, mostrando as melhores condições de unidade para a nova fase de desenvolvimento chinês avançar.
Outro antigo aliado do líder chinês, Li Xi foi escolhido em 2017 para cuidar da integração da grande baia de Guangdong. Antes, ele havia cuidado do “Cinturão de Ferro” na província de Liaoning, mostrando forte habilidade para cooperar na rearticulação do mercado interno e fomentar a chamada “dupla circulação” — proposta chinesa em que o consumo doméstico passa a ser um dos pilares da economia.
Já Ding Xuexiang tem forte experiência na organização institucional do Partido e também em segurança. Ele foi diretor do Escritório-Geral da Comissão de Segurança Nacional do PCCh, e em 2017 assumiu a posição de diretor do Escritório-Geral do Comitê Central, tendo, portanto papel importante para articular o Comitê Central.
Entre os que permanecem, Zhao Leji é um dos que seguem no Comitê Permanente. Ele sempre se manteve independente por trabalhar como chefe do departamento anticorrupção, sinalizando que a tarefa será aprofundada nos próximos cinco anos.
Por fim, Wang Huning, chamado de “caneta do partido” (笔杆子) exerceu influência significativa sobre a política e a tomada de decisões dos três últimos líderes chineses – um feito raro na política chinesa. Ele é considerado um dos principais conselheiros de Xi e terá a tarefa importante de apoiar o atual presidente na construção de ideias para a nova era.
Base sólida
Uma homenagem silenciosa ao proletariado revolucionário da velha geração, mártires da Revolução, para mostrar o respeito e a fonte da grandeza da nação, reforçando a posição do Partido no centro desta sociedade a se manter firme e confiante. Base que serviu para libertar a China, eliminar a pobreza e construir uma sociedade moderadamente próspera, algo sem similar no mundo nas últimas décadas, levando à nova meta da prosperidade comum.
No relatório, a liderança do Partido reafirmou-se como uma organização marxista-leninista, com bases no Pensamento de Mao e nas teorias de Deng Xiaoping, seguindo para a Nova Era. Com uma perspectiva científica e não dogmática, aplicando uma filosofia de desenvolvimento centrada nas pessoas.
Reafirmar esses valores e princípios reforça toda a importância da liderança, guiando a China ao longo deste século até a posição de elevado desenvolvimento, baseada no Pensamento de Xi Jinping. Com essa base sólida, a segunda maior economia do mundo tem muito mais ainda para avançar.
Segurança e desenvolvimento são as palavras-chaves. Para tanto, é preciso ampliar o uso de energias renováveis para garantir o desenvolvimento sustentável e harmônico entre o homem e a natureza.
Da mesma forma, o bem-estar das pessoas se baseia na melhoria do sistema de distribuição de renda, a partir da estratégia de emprego em primeiro lugar, e do sistema de seguridade social, com ênfase no progresso da saúde na China. Aliás, em relação à estratégia de Covid-zero dinâmico, nenhuma mudança drástica foi apresentada.
A China seguirá adotando “a supremacia do povo e à supremacia da vida” relembrando ter alcançado grandes resultados positivos na prevenção e controle geral da pandemia e no desenvolvimento econômico e social, “colocando as pessoas e suas vidas acima de tudo”.
Além disso, há um fortalecimento do Estado de Direito do socialismo com características chinesas.
Assim, com uma estratégia através da ciência e da educação para o desenvolvimento da força de trabalho e uma orientação voltada à inovação, a China busca enriquecer a vida intelectual e cultural das pessoas, para então fortalecer a coesão nacional em prol da cultura chinesa. Ao mesmo tempo, busca controlar a expansão desordenada do capital, “regulando” a acumulação de riqueza.
A proposta chinesa também é melhorar os ambientes de vida urbanos e rurais, e fazer um progresso notável na construção de uma “bela China”. Para isso, o princípio de “águas lúcidas e montanhas exuberantes” no planejamento do desenvolvimento econômico é um sinal claro do novo estágio de crescimento da China para estabelecer uma civilização ecológica.
Externamente, o principio de “uma só China” bem como o de “um país, dois sistemas” serão defendidos e respeitados, mostrando o compromisso do país e o respeito aos acordos pela reunificação da nação, mas sempre comprometido com a política nacional fundamental de abertura ao mundo exterior. Há, ainda, a leitura de uma política externa independente, reafirmando os “Cinco princípios de coexistência pacífica” do país em prol da amizade e cooperação com outros países.
Política com características chinesas
O Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês é um conclave de aproximadamente uma semana e ocorre uma vez a cada cinco anos para nomear novos líderes, discutir mudanças na Constituição e estabelecer uma agenda política para a China. Por uma semana, o Comitê Central é dissolvido e dá lugar à Comissão Permanente da Presidência.
Os membros dessa comissão ficam dispostos na primeira fila da tribuna e são eleitos pelos delegados do Congresso em reunião preparatória, antes da convocação do evento.
Com o papel de liderar a organização e a agenda do Congresso do PCCh, que endossa a lista de membros da Comissão Central de Inspeção Disciplinar, elege o Comitê Central e aprova o relatório final que orientará o Partido nos próximos cinco anos. No dia seguinte ao encerramento do Congresso, ocorre a Primeira Sessão Plenária, na qual o Comitê Central aprova a composição do Politburo do PCCh e seu Comitê Permanente.
O Partido Comunista Chinês (PCCh) é a entidade fundadora e único partido governante da República Popular da China (RPC), sendo o espaço para a realização da vida política na China.
Guiados pela liderança coletiva e tomando decisão por consenso, o Centralismo Democrático é o princípio organizacional, fomentando o debate aberto da politica entre os membros do Partido para, internamente, a tomada de decisão ser acordada e centralizada. O PCCh lidera a Frente Unida, uma estratégia política que envolve redes de grupos, indivíduos-chave e outros oito partidos políticos legalmente permitidos na China.
Líderes na década de 1990, Jiang Zemin e Zhu Rongji faltaram à mesa devido a saúde e idade avançada. Talvez em um sinal de crítica ou talvez uma mera questão de saúde, dado a idade avançada de ambos, que representavam oposição ao atual líder. Já Hu Jintao se fez presente em quase todos os dias do Congresso, foi retirado no último dia da mesa, mas reconduzido ao seu assento para finalizar o evento, pois com seus 79 de idade ele sofre de Parkinson. O histórico Song Ping, o mais velho membro do Partido, segue forte e destemido aos seus 106 anos.
Olhar atento
As direções dadas através desse grande evento político, definindo as bases para o futuro e levando-se em conta o sucesso do passado, fazem da China um modelo de desenvolvimento com o qual se tem muito a aprender.
Porém, aos olhares mais atentos, não houve grandes mudanças no 20º Congresso do Partido. Apenas uma continuidade e aprofundamento das tendências já existentes, dando a entender que o presidente Xi está apenas fortalecendo seu núcleo para avançar em um período complexo, tanto nacional quanto global.
*J. Renato Peneluppi Jr. é brasileiro, advogado, residente em Wuhan (China) desde 2010; Doutor em Administração Pública Chinesa pela HUST (华中科技大学); diretor executivo na China University Summer Schools Association (CUSSA); membro do think tank Center for China and Globalization (CCG) e representante do Global Young Leaders Dialogue (GYLD).
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